Dom Pedro Conti

Glória ao Rei Tibar


Um viajante chegou pela primeira vez numa cidade pela qual nunca havia passado. Ficou encantado com a beleza e a majestade de um monumento no meio de uma praça, onde estava escrito: “Glória ao rei Tibar”. Logo começou a perguntar o que tinha feito o tal rei para merecer tamanha estátua. Queria saber se tinha ganhado alguma guerra, construído alguma obra grandiosa, desenvolvido alguma indústria, se tinha governado tranquilamente, em paz, sem revoltas e confusões. Sempre lhe davam a mesma resposta: – Não! – Então – retrucou – o que ele fez? Foi assim que escutou este relato. “No nosso país reinava o pai de Tibar e ele morreu quando o filho ainda era jovem. Tibar convocou imediatamente todos os generais, os nobres e os sábios do país e perguntou o que eles achavam que o rei devia fazer. Por vários dias, escutou e anotou todas as sugestões, depois se retirou por um mês num mosteiro e pediu conselho também aos monges. Nunca saberemos o que eles lhe falaram, certo é que, quando voltou, chamou o povo e disse: – Amigos, estou convencido de que não possuo os requisitos necessário para governar. Resolvo, portanto, abdicar em favor do nobre Baltasar que deverá ser proclamado rei. Essa declaração do rei Tibar foi recebida com a maior alegria por todos. O escolhido era um homem de admirável inteireza de caráter, agudí ;ssima inteligência e, sem contestação, a primeira autoridade na arte dos negócios públicos.

Depois da coroação, o jovem Tibar retirou-se para um castelo de sua propriedade, onde viveu modestamente, como simples lavrador, ignorado e esquecido, até morrer. O país viveu trinta anos de paz, progresso, harmonia e bem-estar. Foi o período mais feliz da nossa história. Tudo isso nós devemos unicamente ao rei Tibar, que soube, desprezando a vaidade, abrir mão do trono, reconhecer publicamente a sua incapacidade e passar a direção do país a alguém mai s competente e capaz! Glória para sempre ao rei Tibar!”

Mais uma estorinha para lembrar que nunca deveríamos nos achar mais do que somos. A humildade sempre será uma grande virtude, infelizmente, pouco apreciada nos nossos dias de muita propaganda e poucos fatos. Nem os apóstolos escaparam do orgulho e das disputas para ver quem, entre eles, era o maior. Esse é o assunto do evangelho deste domingo. Jesus fala, pela segunda vez, que irá sofrer e morrer. Falava também da ressurreição, mas ninguém compreendia. Estavam ocupados demais em discutir quem seria o mais importante no “novo reino” a ser instaurado. Pobres apóstolos! Brigavam por velhas questões, quando algo absolutamente novo estava acontecendo. No “reino”, que Jesus veio mostrar ser possível, o único “poder” que vale mesmo é o do amor. Se tiver alguma disputa deve ser pela generosidade e a dedicação. Não faz mal querer ser o primeiro, mas a condição de ser o último, aquele que serve mais, que serve a todos.

Dizer que este novo “reino” não é deste mundo (Jo 18,36) não serve como desculpa, porque não significa que não é algo “real”, mas, simplesmente que para ele não valem os critérios dos reinos humanos. É o reino do contrário, do não poder, dos últimos, dos pequenos. Como as crianças, dependem dos adultos, vivem bem se são servidas e amadas. Mas, sobretudo, elas nos lembram a grande lição da gratuidade. N&atil de;o ganham nada, mas não porque são preguiçosas. Quantas energias gastam para crescer e brincar! Toda criança é feliz quando brinca alegre, despreocupada, sem querer transformar tudo em dinheiro ou recompensa. Brinca somente porque é bonito estar vivos, pular, respirar, olhar a luz do sol, falar e escutar, sentir o perfume da natureza, conhecer, descobrir, inventar e imaginar. Tudo de graça, porque na vida muito, muito mesmo, todos nós temos recebido e continuamos a receber “sem pagar nada”. Quem acolhe “um pequeno” aprende a cuidar dele, a amar; deve doar-se sem esperar outra recompensa a não ser um sorriso, um abraço, um beijo. De brinde, recebe Jesus e o Pai que o enviou. Todos, ao mesmo tempo, recebemos, somos servidos, e podemos servir. Humildade, serviço, generosidade e gratidão andam juntas.