Dom Pedro Conti

O caroço de milho


ois amigos voltavam do trabalho e caminhavam por uma estrada de chão, quando viram um grão de milho à sua frente. Um deles comentou:
– Veja, encontramos a nossa mina do ouro! Se plantarmos este grão, nascerá um pé de milho; debulhando as espigas e voltando a plantar, teremos uma roça de milho; depois, debulhando novamente todas as espigas e plantando novamente, teremos uma lavoura de milho e, assim, continuando, nos tornaremos grandes produtores. Seremos ricos!

– Nossa, como você é inteligente! – respondeu o outro – mas eu não quero ser seu sócio. Você é muito ganancioso. Assim que crescer o primeiro pé de milho, eu pegarei as minhas espigas e as plantarei na minha roça. Nada de ser seu parceiro.

– Esta é a sua gratidão pelas minhas ideias? Eu também desisto de ser seu amigo. Não confio mais em você. Enquanto os dois conversavam, uma galinha passou por eles e engoliu o caroço de milho. Assim se foram todos os sonhos deles.

Com o primeiro domingo de Advento retomamos, mais uma vez, a caminhada de fé do Ano Litúrgico. Desta vez nos acompanhará o Evangelho de Marcos. Novamente, lembraremos os grandes momentos da vida de Jesus e dos seus seguidores, os discípulos daquele tempo e os de hoje, que somos nós. Somente quem pensa que reavivar e refletir sobre a própria fé seja inútil, deixa de se alegrar com o novo começo. Na realidade, a vida cristã é sempre algo que está acontecendo, e a Igreja, como mãe e educadora dos seus filhos, toma-nos mais uma vez pela mão e nos conduz ao encontro com o Senhor.

O tempo do Advento, que nos prepara ao Natal, começa com um forte convite à vigilância. A nossa existência se desenvolve no tempo que passa e todos aguardamos os acontecimentos que virão. Alguns são, em parte, previsíveis, porque são o resultado das nossas ações anteriores; outros nos pegam de surpresa. Alguns desses momentos são bons, alegram-nos e nos animam. Outros, aparentemente, são indiferentes: uma rotina de dias que se seguem, mais ou menos, iguais e cansativos. Enfim, temos as horas tristes, de sofrimento e provação. Esses são os dias nos quais experimentamos o vazio, a solidão, as dúvidas e perguntamos a nós mesmos o sentido das coisas.

“Vigiar” para o evangelho, não é simplesmente não dormir é, sobretudo, prestar atenção, buscar respostas às perguntas da vida, discernir, no meio de tantas propostas e possibilidades, o caminho certo. Nas escolhas, todos procuramos, conscientes ou não, aquela que chamamos de felicidade, algo muito bom, que satisfaça todos os nossos sonhos e anseios. Mas será mesmo possível encontrar essa felicidade? É neste ponto que acontecem os maiores enganos e as maiores frus trações. Tudo o que for simplesmente humano, também se importante e valioso, irá passar. Para os cristãos, porém, o horizonte da vida, não está somente nas coisas, nos bens e nas pessoas deste mundo. A meta é o nosso encontro com o próprio Deus Pai, aquele que sempre é e sempre será. “Vigiar” para os cristãos é, portanto, dispor-se a este encontro que o próprio Deus sempre nos oferece de novo. Ele nunca desiste de nos procurar. Por isso, veio no seu Filho Jesus, no meio de nós, igual a nós, pequeno, pobre e sofredor. Ele quer falar novamente ao nosso coração, também quando está sufocado por tantas distrações, fúteis e superficiais. Muitas vezes trocamos o Senhor da Vida por coisas materiais, emoções passageiras, ambições alienantes e egoístas. Estamos demorando de mais para descobrir o engano.

De muitas maneiras, todos encontramos o nosso caroço de milho, que nos ilude com um futuro talvez mais fácil, mas, certamente, temporário. Melhor tirá-lo logo da nossa frente, para ver se aprendemos a construir uma vida mais real, concreta e, possivelmente, útil no alcance da meta certa para nós e para tantos irmãos e irmãs comprometidos com a mesma busca de um sentido para tudo o que acontece. Um sentido grande, verdadeiro e luminoso. Hoje, mais do que nunca, devemos “vigiar”, para não sair do caminho que, afinal, é Jesus.