Dom Pedro Conti

O medo


No início da história humana, após a criação, os primeiros seres humanos receberam de presente, para morar, um esplêndido jardim. A vida deles era pura felicidade. Não faltava nada. O jardim oferecia alimento, beleza, descanso e diversão. As crianças podiam correr livremente. Um muro altíssimo e bem forte, porém, circundava todo o jardim. Os homens e as mulheres tinham tudo, mas quando chegavam na frente do muro, sentiam-se frustrados. Por isso, certo dia, perguntaram ao Criador que, embora não pudessem vê-lo, sabiam estar sempre presente:
– Por que este muro? O Senhor não confia em nós?
Foi assim que um homem corajoso chamou todos e declarou:
– Este muro nos impede maiores espaços para viver. Vamos derrubá-lo!
Os homens uniram as suas forças e destruíram o muro aclamando a conquista da liberdade. Quando o muro caiu, fizeram uma descoberta terrível: atrás dele existia um abismo tão profundo que não se podia ver o fim. Até aquele momento, o muro tinha resguardado a felicidade deles. Fizeram ainda uma descoberta pior: um novo sentimento, que nunca tinham experimentado, insinuou-se no coração de todos. Instintivamente, as mães começaram a segurar mais perto de si os seus filhinhos. Os homens sentaram no meio do jardim e ficaram se olhando espantados. Entenderam que aquele novo sentimento, agora, iria acompanhá-los para sempre. Deram-lhe o nome de medo.
No Evangelho do quarto Domingo de Advento, em sonho, o anjo diz a José para não ter medo de receber Maria como sua esposa. Também à Maria, o anjo Gabriel diz: “Não tenhas medo”. Quantas vezes nos evangelhos o próprio Jesus diz aos apóstolos e aos demais para não terem medo. Por que essa preocupação tão grande? Que medo é esse? Não tenho capacidade de fazer grandes considerações existenciais ou filosóficas e nem quero fazer uma lista dos tantos medos que aparecem ao longo da nossa vida. Quando criança, começamos com o medo do escuro e depois quando crescemos – e ninguém escapa, mesmo que diga o contrário – temos medo de morrer. Igualmente experimentamos o medo de ficar para trás, de sobrar, de sermos esquecidos. Isso explica porque tantas pessoas inventam as maiores esquisitices para chamar a atenção dos outros. Hoje vivemos o medo de ser enganados, roubados, assaltados. Estamos experimentando uma desconfiança generalizada, e não é por menos, com tantas mentiras, falcatruas, desonestidade.
Quero dizer que se Jesus, nos evangelhos, insistiu tanto em ensinar a não ter medo é porque deve existir uma coragem tão grande, uma força tão poderosa, capaz de vencer todos os medos. Em lugar de fazer a lista dos medos, porque não fazemos, ao menos uma vez, uma lista de decisões corajosas? Não basta “não ter medo”, é preciso preencher o nosso coração e a nossa vida com tanta coragem que não tenha mais lugar para nenhum medo. Por exemplo: Jesus falava sério quando dizia para amarmos até os inimigos. Quem tem coragem de praticá-lo? Em lugar de nos defender, por medo, vamos ao encontro com o amor, o perdão e a misericórdia. Transformamos o “inimigo” em irmão! Jesus chama, ainda hoje, para segui-lo; chama a “perder” a vida para ganhá-la. Esta vida passa e um dia, querendo ou não, vamos perdê-la. Somente os tesouros de sofrimento e bondade, juntados no céu, servirão. Os bens acumulados ficarão para os outros. Então, por que ainda tanto medo de seguir Jesus, de se arriscar confiando na sua palavra? Por que ainda tanto medo de ser generosos, de fazer amigos com os bens deste mundo, em lugar de querer enriquecer sozinhos? Maria, José, Pedro, Paulo e tantos outros conhecidos tiveram coragem, e nem todos fizeram coisas maravilhosas: foram humildes, mas grandiosos colaboradores de um projeto de amor. Nós também podemos fazer a nossa parte. Basta vencer o medo de acreditar no Senhor, de gastar energias para o bem, de doar mais que de receber!
É Natal. Deus se fez um de nós. A grandeza do amor do Senhor preenche todos os abismos do medo.