Dom Pedro Conti

O pão e o sinal da cruz


Maria levantou cedo. Como sempre, começou a prepara a massa do pão. Em silêncio e bem devagar para não acordar José e o menino Jesus. Depois iria levar a massa para assar no forno da pequena aldeia. Estava com o coração pesado, porque naquele dia o pão seria bem pequeno para toda a família. Quando chegou ao forno, outras mulheres já estavam lá, conversando e reparando o que cada uma tinha trazido. Os pães seriam assados todos juntos, como de costume. Uma vizinha viu o pouco que Maria carregava e zombou: “Vocês não são mais três em casa?”. Não houve resposta. A mesma vizinha pensou maliciosamente que, na hora que o p&a tilde;o saísse do forno bem assado, Maria pudesse trocar o seu pequeno pão com o dela, muito maior. Assim, num momento de distração de Maria, ela traçou, com uma faca, um grande sinal de cruz sobre o pequeno pão que Maria tinha trazido. Isso para que não houvesse engano. Todos os pães foram para o forno. De vez em quando, o homem encarregado do serviço dava uma espiada para ver se tudo estava certo. Algo chamou a atenção dele e disse: “Tem um pão que está crescendo mais de que todos os outros. É uma maravilha, nunca vi nada igual!”. A tal de vizinha pensou logo no pão dela e disse para si mesma que, evidentemente, ninguém sabia preparar a massa tão bem como ela. Grande foi a surpresa de todas quando, finalmente, os pães saíram do forno. O maior de todos era aquele com o sinal da cruz. O sinal da inveja e do orgulho tinha-se transfor mado num sinal de generosidade e fartura. A notícia do prodígio se espalhou rapidamente e as mulheres começaram a marcar os seus pães com o sinal da cruz. Ainda hoje, muitas senhoras traçam sobre os pães caseiros um sinal de cruz. Junto à gratidão do alimento vai a bênção do Senhor.

No domingo da festa de Todos os Santos, uma pequena lenda de Nossa Senhora, para não fazer diferenças entre tantos santos e santas. Na semana que passou, lembramos também os nossos entes queridos falecidos. A memória das pessoas, dos exemplos que tivemos e ainda temos nos caminhos da vida, são muito importantes. Vivemos numa sociedade de notícias e informações rápidas e, na maioria das vezes, superficiais. Todos somo atraídos pelas novidades, sobretudo quando vem apresentadas com imagens que chamam a nossa atenção. Essas podem ser tocantes, mirabolantes, encantadoras. Outras vezes são tão chocantes que nos fazem sentir vergonha desta nossa humanid ade confusa.

As perguntas mais frequentes de quem consegue parar para pensar são: o que está acontecendo? Para onde vai este mundo? Muitos respondem: Falta Deus! Mas eu também digo: qual Deus? Nunca tivemos tantos templos, tantas opções religiosas, tanta propaganda do “nome de Jesus” e tantas bênção gratuitas e pagas. Há quem diga que também a religião virou comércio. Na sociedade do consumo, qualquer produto bem embalado e propagandeado dá lucro. Com certeza, uma luz nos vem dos santos e das santas que a Igreja nos propõe como exemplos de vida cristã. Todos e todas procuraram praticar o Evangelho de Jesus. Morreram pobres. Se orga nizaram obras e instituições não foi para benefício próprio, foram para os pequenos do seu tempo: crianças, enfermos, peregrinos, sobras da sociedade, povos inteiros a serem evangelizados. Muitos deles e delas foram mortos por causa da fé. Outros e outras se trancaram no silêncio de mosteiros para espalhar uma luz diferente, sem alarde, no escondimento e na oração.

Não buscaram novidades, anunciaram o Evangelho de sempre. Aquele bem antigo de Maria e José, de Pedro e de Paulo, de João e dos demais apóstolos. Antes de querer mudar a vida dos outros, mudaram as suas vidas. Com certeza, nós conhecemos alguns desses santos. Alguns caminharam e outros ainda caminham conosco. Acolheram as novidades e os desafios do seu tempo, mas pareciam e parecem ter certeza do rumo das coisas, do sentido de suas vidas. Confiaram e confiam no seu Senhor, crucificado e ressuscitado. Ele, Jesus, ontem, hoje e sempre.