Dom Pedro Conti

O sinal do cristão


Um bispo quis conversar com os adolescentes que deviam receber o sacramento da Crisma. Fez-lhes uma pergunta:

– Qual é o sinal com o qual podemos ser reconhecidos como cristãos? – Na incerteza e com medo de errar, os jovens ficaram calados. O bispo sorriu amigavelmente e repetiu a pergunta:

– Coragem, qual é o sinal que prova que somos cristãos? – A turma continuava em silêncio e de olhos baixos. O bispo quis ajudá-los e começou a ensaiar um sinal da cruz. Uma menina levantou a mão para falar e toda feliz disse:

– O amor!

O bispo estava para dizer: “Errado!” Mas, graças a Deus, parou em tempo.

Com o Domingo de Ramos iniciamos a Semana Santa. Espero que as “obras” da Quaresma – a esmola, o jejum e a oração – tenham nos aproximado mais de Deus e dos irmãos necessitados. No primeiro Domingo, acompanhamos Jesus no deserto. Lá, “terminada toda tentação, o diabo afastou-se de Jesus para retornar no tempo oportuno” (Lc 4,13). O “tempo”, a hora da cruz, chegou e com ela a maior luta e a maior vitória da Vida contra a morte. No segundo Domingo, no monte da Transfiguração, para acreditarmos além do escândalo da cruz, ouvimos, da nuvem, a voz do Pai: “Este é o meu Filho, o Escolhido. Escutai o que ele diz!”. Nos outros três domingos, os evangelhos nos apresentaram a extraordinária misericórdia do nosso Deus. Ele tem paciência; nos dá o tempo e as forças necessárias para produzirmos frutos de bem e de paz. Faz festa, quando reconhecemos os nossos erros e, arrependidos, voltamos à casa do Pai. Fica triste, quando queremos jogar pedras contra os irmãos, em lugar de perdoar-lhes as falhas e reconhecer com humildade as nossas também.

Terminado o caminho quaresmal entramos agora, com Jesus, em Jerusalém. Estava para cumprir-se o que ele disse: “não convém que um profeta morra fora de Jerusalém” (Lc 13,33). Jesus é acolhido com júbilo. Aos incomodados com os gritos de hosana ele diz que se o povo se calar “as pedras gritarão” (Lc 19,40). Foi um entusiasmo passageiro para a povo e simbólico para Jesus. Ao novo “rei” não interessavam o poder e a glória deste mundo. Por isso, a liturgia nos faz proclamar, na mesma celebração, outro evangelho, o da Paixão. Este ano, segundo o evangelista Lucas. Jesus é levado junto com “outros dois malfeitores” (Lc 23,32). Ele é simplesmente mais um, solidário com os crucificados de todos os tempos pela violência humana. Mas ele diz: “Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem!” (Lc 23,34). Nenhum sinal de ódio ou ameaça, entrega total, Jesus sempre está pronto a testemunhar a misericórdia do Pai. É somente de Lucas o encontro com as mulheres que choram por ele. Marcante é o diálogo com os dois malfeitores crucificados juntos. Aquele, que estamos acostumados a chamar de “bom ladrão”, é o primeiro interprete da fé cristã. Ele chama Jesus pelo nome comum, não pelo título divino de Senhor, reconhece que “não fez nada de mal” e o anuncia “rei” de um novo Reino. Dizendo “hoje”, Jesus confirma que o Reino de Deus já está acontecendo e está aberto a quem acredita e confia nele (Lc 23,39-43). As últimas palavras de Jesus são de entrega nas mãos do Pai e o oficial romano declara: “De fato! Este homem era justo!” (Lc 23,47). O evangelista conclui que as multidões volt aram para casa batendo no peito.

Os relatos da Paixão são as páginas mais bem elaboradas dos evangelhos, provavelmente as primeiras a serem escritas depois de ter sido contadas nas liturgias por anos a fio. Desde o início, quando nós cristãos celebramos a Eucaristia, fazemos o “memorial” daquele evento de salvação. Ainda continuamos a dizer: “Anunciamos Senhor a vossa morte, proclamamos a vossa ressurreição, vinde Senhor Jesus!”. Dessa maneira, nas palavras, gestos e sinais da Missa, participamos daquele único momento irrepetível. Vamos viver intensamente os próximos dias. É verdade que o sinal da cruz expressa o nosso ser cristãos, mas não fomos salvos pelos sofrimentos desumanos de Cristo, mas pelo seu amor humano e divino, sem medida. Um amor que nunca acaba.