Dom Pedro Conti

Obrigado!


Um homem sábio vivia numa casinha afastada da vila. Certa noite, um ladrão, armado com faca, entrou e disse ao homem para não se mexer. Começou a revirar tudo, procurando por dinheiro. Depois de alguns minutos, o sábio, que continuava a ler o seu livro, disse ao ladrão:

– Por favor, não desarrume tanto assim. O dinheiro está na gaveta daquela mesinha. Pode pegar o que lhe serve. Aceite-o como um presente meu.

O malandro pegou o dinheiro e, depois, reparou um vaso de jade muito bonito. Quis levar também o vaso. Quando viu que não tinha mais nada que valesse a pena roubar, resolveu sair. Naquele momento, o sábio lhe disse:

– Seja educado, me agradeça! – O assaltante agradeceu e saiu na noite.

Alguns dias depois, os guardas do imperador prenderam o ladrão, arrastaram-no até o sábio para que lhe devolvesse o vaso. Ele tinha confessado o roubo. Bastava confirmar o caso para que fosse condenado à morte. O sábio, calmamente, explicou o acontecido:

– Sim, este homem veio aqui de noite. Eu dei de presente para ele um pouco de dinheiro e este vaso de jade. Tanto é verdade que ele, ao se despedir, disse-me: Obrigado! Os guardas ficaram surpresos, mas tiveram que soltar o ladrão. Ele, por sua vez, agradeceu mais ainda o sábio e nunca mais esqueceu a palavra maravilhosa que lhe tinha salvo a vida: Obrigado!

No domingo da Santíssima Trindade, todos percebemos a grandeza do “mistério” de Deus. Ele é tão grande que vai além de todos os nossos raciocínios e explicações. Nós, seres humanos, temos algo de “divino”. Fomos criados à “imagem e semelhança” d’Ele. No entanto, continuamos “criaturas” limitadas, mas com saudade do nosso “criador”. Experimentamos, e não só por curiosidade, o desejo e a esperança de participar, de alguma forma, das maravilhas de Deus. Um caminho possível seja, talvez, o de agradecer. Deus se deu a si mesmo como presente para nós e se fez conhecer como perfeita unidade na diversidade, num “mistério& rdquo; de total comunhão de amor. O que nós podemos fazer é colocar essa maravilha como modelo e meta da nossa própria vida. Devemos agradecer muito a Deus. Quanto mais contemplamos a Trindade, mais somos encorajados a buscar a comunhão entre nós e na sociedade. Em lugar das nossas especulações, que – fique claro – não são a mesma coisa dos esforços dos teólogos de explicar um pouco o “mistério” da Trindade, vamos aprender com Ela a superar divisões e individualismos para construir a unidade pelo amor, a reconciliação e a paz.

Pensamos logo nas nossas famílias. O que podem aprender com a Santíssima Trindade? A diversidade das pessoas, das gerações e dos temperamentos, muitas vezes, são motivos de oposições, brigas e indiferença. Ao contrário, o diálogo, a escuta e a valorização recíproca, fazem crescer os membros da família no respeito e na mútua colaboração. Todos podem ajudar de alguma forma porque todos têm algo para doar e receber. O amor verdadeiro sempre cresce nos dois sentidos: amar e ser amados. Vamos falar também da nossa Igreja, das nossas comunidades, grupos, pastorais e movimentos. Como é difícil caminhar juntos! A tentação de querer mandar, julgar, ser melhor es do que os outros ou ser diferente a qualquer custo é muito grande. Passamos em segundo plano o batismo, a fé e a Eucaristia que nos unem, para salientar as diferenças, o específico que nos distingue. Unidade não é uniformidade, mas também diversidade não pode ser disputa e afastamento. Por fim, se olhamos para o mundo, para a sociedade na qual vivemos, dá mesmo vontade de desistir.

Hoje, pensar em “comunhão” com tantos interesses, confusões e mentiras, parece só ilusão. Mas poderia ser esperança! Talvez seja esta a missão desafiadora dos cristãos: não uma fachada de abraços e sorrisos, mas um sério esforço de colaboração. Toda cultura, toda civilização e toda religião, tem algo de bom, de humano, que pode enriquecer a todos. A unidade verdadeira não será a colagem ou a mistura de tudo e de todos, mas uma convivência respeitosa das diversidades. Quem conheceu um Deus-Amor-Trindade nunca desiste da unidade e agradece muito por acreditar n’Ele.