José Sarney

Eleições lá e cá


Estamos na boca de uma nova eleição, a eleição municipal, que, embora seja a mais importante, não desperta a mesma paixão da de Governador.

Agora uma eleição diferente, feita sem campanha, sem comício, sem reunião com grande número de pessoas e todas e todos com medo do coronavírus. As novas tecnologias deslocaram a comunicação para as redes sociais, através da parafernália de whatsapp, facebook, instagram e hackers, que estão a postos para invadir os computadores. E as fantasmagóricas e destruidoras fake news, que sem fronteiras ocupam as campanhas espalhando mentiras, infâmias e difamações, sem tempo para que sejam desmentidas e criando um estrago danado.

Mais perto do que as nossas está outra muito maior e que atinge o mundo inteiro, pois envolve a escolha do Presidente do mais poderoso país da Terra. Juracy Magalhães, um grande político baiano, dizia que, “quando os Estados Unidos espirravam, nós já estávamos com pneumonia”. Ele era tão americanista que dizia que “o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”.

Agora então a situação é mais delicada. Nunca estivemos tão alinhados com eles como hoje, pendurados numa amizade pessoal do Presidente Trump com o Presidente Bolsonaro e na confluência de ideias entre o governo de cá e de lá. Dessa eleição dependem muito os próximos anos do Brasil, bem como do mundo. O enfrentamento com a China, as relações tensas com a Europa e as ideias do Trump sobre meio ambiente fizeram os EUA romperem com o Acordo de Paris sobre o clima.

A eleição municipal nossa não mexe em nada disso. Os resultados de Rio Preto, Bom Jesus da Selva ou Duque Bacelar não vão influenciar na corrida nuclear nem na produção de vacinas russas, chinesas ou americanas.

Mas dizem do destino das populações mais pobres e mais vulneráveis, e para a Humanidade o que pesa é o bem-estar das pessoas, sua qualidade de vida e sua perspectiva de futuro.

O nosso sistema político republicano, conceitualmente formulado por Rui Barbosa, foi delineado na Constituição de 1891, redigida por ele, baseada na americana, que lá é sagrada, enquanto a daqui já foi substituída várias vezes.

Só que aqui tivemos que superar as eleições a bico de pena, a fraude generalizada, e lá eles pensaram que tinham resolvido isso com os checks and balances. Pois agora o Trump anuncia que não vai aceitar o resultado se for contra ele, porque onde o Biden pode ganhar vai ser fraudada. É que com a pandemia do corona, para evitar aglomerações, os democratas estão incentivando o voto pelos correios, que para Trump não é confiável e cujo atraso já deu a vitória — fraudada — ao Bush. A fraude, que no Brasil ameaçou a democracia, agora, cem anos depois, ameaça a maior democracia do mundo.

E assim Nova Iorque do Maranhão pode ser comparada à Nova York dos Estados Unidos. Mas a nossa não tem ameaça de fraude. Só traduzindo, como dizia o Padre Newton, a expressão de Cícero “o tempora, o mores!”, como “o tempo das amoras”.