José Sarney

O novo esporte nacional


Deus me deu uma longa vida para que eu tivesse de ver passar muitas coisas — muitas delas até mesmo conflitantes. Na minha juventude, adolescência e maturidade, tínhamos um grande orgulho do Brasil. Todos amávamos a nossa terra, suas riquezas, suas belezas, seu povo. Hoje a moda é falar mal do Brasil: coitado dele, tão bom, mas vítima de surras do seu próprio povo. Muitos até mesmo têm inveja de outros países e pensam em sair daqui.

Quanto mais viajo, mais orgulho tenho do Brasil. E, como dizia o meu avô sobre o Maranhão, “Se a minha alma tiver vergonha, nem ela deixará esta terra tão extraordinária.” (?) Os seus defeitos são muito melhores do que os dos outros.

E agora que temos uma vez mais a fantástica visão da alegria do povo brasileiro com o futebol, mas vivendo as agruras da Copa — essa corrida de obstáculos em que o que mais sofremos é com os nossos jogadores —, sentimos até as distensões das pernas dos nossos craques.

Mas agora estamos assistindo a outro esporte nacional: malhar os políticos mais do que malhavam Judas no sábado da aleluia. Hoje acho que Judas está melhor do que os políticos, porque não há roda em que se falava do futebol em que hoje a bola da vez não sejam os políticos.

De tal modo que leio agora que um candidato a senador, oriundo dos meios de comunicação, diz que vai entrar na política, em que pode ser até uma porcaria de político, acrescentando que

“vocês podem ter um político de péssima qualidade, mas vão ter um cara que vai ser uma coisa só: honesto com você”.

Ora, eu sempre tenho dito que há políticos e políticos, políticos bons e políticos maus. Os bons, Joaquim Nabuco, no seu livro A minha formação, diz que “devem ser escritos com P maiúsculo”. Realmente, os políticos maus desmoralizaram bastante essa atividade das mais nobres dentro da sociedade.

E com que surpresa abro a Oração Devocional do Papa Francisco, do dia 22 de julho, com esta afirmação:

“Para o cristão, é uma obrigação envolver-se na política. Nós, cristãos, não podemos brincar de Pilatos, lavar as mãos. Devemos nos envolver na política, pois a política é uma das formas mais altas da caridade, porque busca o bem comum. E os leigos cristãos devem trabalhar na política.”

A alusão que ele faz é àquela resposta de Pilatos: “Estou inocente desse sangue. A responsabilidade é vossa“, quando ele responde ao povo que gritava que ele devia crucificar Cristo.

O bom político é aquele que está convicto de que sua atividade é pensar nos outros, fazer o bem, defender a igualdade e os que mais precisam. Os que agem diferente não são políticos, mas dela se utilizam, manchando-a.

Assim, concluo dizendo, como o Papa Francisco, que devemos abandonar esse esporte de falar mal do Brasil e da política. Condenemos os maus políticos, mas não deixemos que eles atinjam, com suas atitudes condenáveis e nada morais, o nosso País, onde abrimos todos, brasileiros, os olhos para a vida.