Nilson Montoril
8 de maio de 1945, o dia da vitória
O grande conflito, que a História registra como II Guerra Mundial, começou no dia 1º de setembro de 1939, ocasião em que a Alemanha invadiu a Polônia para retomar a cidade de Dantzig, situada na foz do rio Vístula e que lhe pertenceu até o fim da I Guerra Mundial. Dantzig passou a ser uma cidade livre do chamado “corredor polonês”, estreita faixa de terra que dividiu a Alemanha em duas partes. Esse espaço ficou sob controle da Polônia e a proteção da Sociedade das Nações. No dia 3 de setembro, a Inglaterra e a França declaram guerra à Alemanha. A ação bélica do Reichswehr (Exército do Reich) rompeu o Pacto de Versalhes assinado pela Alemanha na condição de nação derrotada. Adolf Hitler tinha assumido o poder nazista em 1939, ocasião em que o Reichswehr dispunha de um abundante material bélico apoiado por uma poderosa indústria e era capaz de mobilizar treze milhões de homens. Existia desde 1936 o pacto anti-Komintern (abreviatura da Terceira Internacional Comunista) assinado entre Alemanha, Japão, Itália, Espanha, Hungria e Mandchúria. Esse bloco de paises também ficou conhecido como “Eixo”. A tática usada pela Alemanha era a de atacar a retaguarda do inimigo, isolando-o em bolsões e deixando-o privado dos meios de abastecimento. Com soldados bem treinados colocou em prática a Blitzkrieg, guerra relâmpago, rápida e violenta. A prepotência de Hitler em instalar o Terceiro Reich (Terceiro Reino) não tinha limite. Por isso Benito Mussolini, dizia: “falar Hitler sabe, mas cabeça não tem nenhuma”. Até 1942, a Alemanha foi arrasadora. Pouco a pouco o poderio das nações aliadas, entre elas o Brasil, prevaleceu. Os russos foram os primeiros a atingir o coração da capital do Reich, no dia 2 de maio de 1945. Eles penetraram na Alemanha no dia 29 de abril coroando de êxito uma campanha fantástica. A rendição incondicional da Alemanha foi assinada no dia 7 de maio, na cidade de Reims, onde estava instalado o quartel-general do comandante em chefe norte-americano Eisenhower. O total de mortos na II Guerra Mundial foi de 72 milhões de seres humanos dos quais 26 milhões de soldados e 46 milhões de civis. A União Soviética perdeu 29 milhões de pessoas, sendo 17 milhões de civis e 12 milhões de soldados. Do total de 72 milhões de mortos, 85% estavam do lado dos aliados e 15% do Eixo. As bombas mataram um milhão e 500 mil pessoas. Aproximadamente doze milhões de seres humanos morreram nos 2.000 campos de concentração e de extermínio. A Alemanha criou os campos de concentração para confinar os indesejáveis: judeus, ciganos roma e sinti, eslavos, homossexuais, testemunhas de Jeová, deficientes motores, deficientes mentais, prisioneiros de guerra soviéticos, membros da elite intelectual polaca,russa e outros países do leste europeu, ativistas políticos, sacerdotes católicos, membros da igreja mórmon, sindicalistas, pacientes psiquiátricos, criminosos comuns e dissidentes políticos. Milhares de criaturas foram usadas como cobaia em experiências, o que acarretou doenças como o tifo e tuberculose. Cinco milhões e meio de pessoas ficaram inutilizadas. Nos campos de concentração ficavam os comunistas e homossexuais inimigos do estado alemão. Para os campos de extermínio, onde ocorria a matança organizada eram mandados os demais presos. Estima-se que foram mortos mais de seis milhões de judeus. Nos sete maiores campos de extermínio o registro de mortos é o seguinte: Auschwitz, 1 milhão e duzentos mil; Treblinka, 850 mil; Sobibor, 167.000; Belzec, 434.500; Chelmno, 152.000; Majdanex, 78.000. Os alemães utilizavam as seguintes cores para identificar a natureza dos presos: amarelo/judeus; vermelho/comunistas e dissidentes; verde/criminosos comuns arianos; púrpura(roxo)/testemunhas de Jeová; azul/imigrantes; castanho/ciganos roma e sinti; negro/lésbicas, alcoólatras e indolentes; rosa/homossexuais., As autoridades norte-americanas estimam que os gastos militares alcançaram a elevada soma de um trilhão e meio de dólares. Só os Estados Unidos despenderam 300 milhões. Nesses cálculos não estão incluídos as perdas das habitações, ferrovias, fábricas, pontes, aeroportos, chacina de rebanhos, extermínio de culturas agrárias, saques de riquezas particulares, telas, esculturas, jóias e móveis de grandes museus. No espaço de tempo em que os russos ficaram em Viena, danificaram o majestoso palácio de Luxemburgo, construído há dois séculos pela imperatriz Maria Tereza, o qual transformaram em garagem e oficina de consertos de suas viaturas militares.
A II Grande Guerra causou sérios problemas para japoneses, italianos, alemães e seus descendentes que residam no Brasil. Eles sofreram retaliações diversas. Nas localidades onde existiam colônias das citadas nacionalidades as escolas foram fechadas e as professoras proibidas de ministrar aulas no idioma pátrio. Muitos migrantes ainda não falavam português. Em 1943, cerca de 10 mil famílias descendentes de japoneses e alemães foram presas e levadas para o interior de São Paulo, isoladas e vigiadas. Invasões sistemáticas da polícia nas casas dos concentrados ocorria com frequência causando-lhes sérios transtornos. A Rádio Tókio e a Voz da Alemanha não podiam ser sintonizadas. Confiscavam-se rádios quando isso acontecia. Bastava uma denúncia feita por qualquer brasileiro para que a polícia agisse. Os anúncios comerciais das casas de comércio desse povo só podiam ser feitos em português. Em Santa Catarina, os alemães e seus descendentes padeceram bastante. Contam-se inúmeros casos de rapazes que foram obrigados a beber até um litro de óleo queimado porque eram tidos como “quinta coluna”, expressão surgida na Espanha durante a guerra civil para rotular o indivíduo que conspira em favor do inimigo. O Clube Germânia, de São Paulo, teve que abandonar essa denominação e adotar outra: Esporte Clube Pinheiro ainda hoje existente. O Clube Esperia passou a ser identificado como Associação Desportiva Floresta. Somente depois de 20 anos voltou a ser Esperia. O Palestra Itália, time de futebol da colônia italiana adotou o nome de Sociedade Esportiva Palmeira. Em 1942, o chefe de Polícia de Belém baixou uma portaria válida para todo o Estado do Pará determinado que os sacerdotes não fizessem rezas em casas particulares. Em decorrência da medida os Padres Felipe Blanke, Antônio Schulte, José Beste, João Theodoro Wermerk, Edmundo José Endres e Pedro Tomé que falavam bem o português, foram proibidos de celebrar missa, ensinar catecismo e realizar visitas domiciliares só porque eram de nacionalidade alemã. A ordem só foi abolida depois que o Arcebispo de Belém, Dom Jaime de Barros Câmara interviu a favor dos missionários. Nessa época ainda não tinha sido criado o Território Federal do Amapá e as autoridades policiais de Belém possuíam jurisdição sobre a área do atual Estado do Amapá.