Nilson Montoril

A corrupção nos tempos antigos


Os romanos usavam o vocábulo corruptione para designar o ato ou efeito de corromper as normas éticas para cobrança de impostos, correta aplicação de recursos financeiros, concessão de serviços públicos, maneira de viver em sociedade e lidar com os bens materiais e imateriais do Império/República. O termo corrupto era, e ainda é empregado no sentido de podre, estragado, infectado, devasso, depravado, errado e viciado. Corruptore era utilizado para identificar aquele que suborna e faz de tudo para induzir outras pessoas á prática de atos ilícitos. Em linguagem bem popular, o corruptore é o agente ativo da ação nefasta, que peita quem encontra pela frente. O elemento que cedia diante da oferta do corruptor era o corruptu. Houve um período tão crítico na história de Roma, que o grande Cícero bradou: O’tempore, O’mores! A corrupção na cidade considerada “caput mundi” (capital do mundo) atingia níveis alarmantes de depravação e roubalheira. Este estado de coisas contribuiu para a ruína do Império Romano. Curioso é que os romanos criaram o Corpus Júris Civilis, que éà base do direito no mundo, mas no meio dos magistrados, imperadores, senadores, pretores, cônsules e demais funcionários havia os que, embora pregassem a moralitate (caráter), atuavam como corruptores e corruptos.

O tempo passou. As medidas moralizadoras para evitar a corrupção foram aperfeiçoadas, mas a ação nefasta dos corruptos também progrediu. Neste nosso Brasil varonil, a roubalheira vem desde o achamento, em 1500. Os melhores postos de direção eram ocupados por parentes dos Governadores Gerais, dos Capitães-mores e dos maiorais da Coroa. Eles não tinham o menor acanhamento para roubar. O Brasil progrediu assim mesmo, razão pela qual muita gente afirma que é melhor roubar, mas fazer, do que simplesmente roubar. Para alguns entendidos em manobras corruptoras, o melhor programa de governo para tirar proveito de verbas públicas é tocar obras e realizar compras. Além de a licitação ser direcionada, os valores das obras e das aquisições ultrapassam os limites aceitáveis em um processo normal. No caso das “compras”, o risco dos bens adquiridos não serem entregues é muito grande. Mais fácil de acontecer do que uma obra deixar de ser realizada ou pelo menos iniciada. Recentemente, a Polícia Federal realizou diversas prisões de pessoas tidas como suspeitas de envolvimento em corrupção. Até que a Justiça julgue estes casos, ninguém pode ser declarado culpado, Entretanto, quando os nomes dos envolvidos foram divulgados, a população condenou previamente quem já esteve mantido sob suspeita em outras ocasiões.

A corrupção tem seus agentes certos. Eles agem como se fossem autênticos anjos de candura. Há um código de conduta entre eles que os obriga a propalar a inocência de quem é flagrado cometendo delito. Surgem alguns amigos para dizer que o fulano é dotado de ilibada moral. Quem defende corrupto ou é um partícipe do crime, ou é conivente. Como é que alguém de bons princípios pode aceitar que órgãos colegiados de suma importância, como o Senado e a Câmara Federal, permitam que elementos despudorados permaneçam exercendo os seus mandatos? As evidências de culpa dos denunciados são tão flagrantes, que o processo de cassação de mandato deveria ser bem simples e rápido. O pior é ver o povo participa de passeatas protestando contra as medidas saneadoras. O povo se vê forçado a isso porque é massa de manobra e recebe “atendimento social” dos corruptos. Assim, para não perder a ajuda do “benfeitor”, o povo carente passa a ser conivente. Os falsos moralistas acham que tudo isso é normal. Mas não é. O mundo acompanha a roubalheira realizada na Petrobrás. As apurações têm revelado um montante fantástico de dinheiro público que foi parar em contas de diversos caciques do Partido dos Trabalhadores, empreiteiras, construtoras e entidades de natureza nebulosa. Em qualquer ponto do Brasil há registro de improbidade administrativa de governantes e integrantes de órgãos de vital importância para o bem estar do brasileiro. Quem é honesto não tem vez.