Nilson Montoril

A instalação da Prelazia de Macapá


O amanhecer do dia 30 de abril de 1950, uma quinta-feira, foi bastante festivo na cidade de Macapá. Uma grande festa tinha sido programada para a mencionada data, enchendo de júbilo a família católica residente na capital do território federal do Amapá, que veria ocorrer a implantação da Prelazia de Macapá e a posse do monsenhor Aristides Piróvano como administrador apostólico e do padre Arcângelo Cerqua como vigário da Paróquia de São José. Desde cedo, concentrado no antigo aeroporto da Panair do Brasil, o povo católico esperava com ansiedade a chegada do avião dos Serviços Aéreos Cruzeiro do Sul, que traria de Belém o arcebispo metropolitano do Pará, dom Mário Miranda Vilas-Boas, nomeado subdelegado do Núncio Apostólico do Brasil, dom Carlos Chiarlo, na criação da Prelazia. Ao descer do avião, dom Carlos se fazia acompanhar do padre Adolfo Serra, e ambos foram recepcionados pelo governador Janary Gentil Nunes, que lhes apresentou destacadas figuras de sua administração. Do aeroporto todos seguiram para o centro da cidade.

O governador, o secretário geral Raul Montero Waldez e dois ilustres visitantes utilizaram um automóvel Nash castanho. Alguns diretores de órgãos públicos seguiram num carro Chevrolet preto, enquanto os populares foram transportados em um ônibus da Viação Primazia. Na residência dos religiosos de Macapá, um antigo casarão edificado no lado esquerdo da Igreja, foi servido pelo administrador apostólico, a dom Mário Vilas-Boas e demais pessoas presentes, uma farta mesa de gelados. Em seguida, todos cumpriram um roteiro de visitas, percorrendo o Posto de Puericultura Iracema Carvão Nunes, o Grupo Escolar Barão do Rio Branco e a Escola Profissional Getúlio Vargas, que posteriormente passou à denominação de Escola Industrial de Macapá.

Concluídas as visitas, os religiosos retornaram à Casa Paroquial para um almoço com os padres do Pontifício Instituto das Missões Estrangeiras (Pime). Às 15h, dom Mário de Miranda Vilas-Boas, em companhia do monsenhor dom Aristides Piróvano; padre Adolfo Serra; senhor Antônio Campos Monteiro, oficial de gabinete do governador; médico Álvaro Simões, diretor da Divisão de Saúde; e do capitão Waukes de Aragão, comandante da 4ª Companhia de Fronteiras, visitou a Unidade Mista de Saúde instalada ao lado direito da Igreja de São José, a Olaria Territorial, Cadeia Pública e Fortaleza de Macapá, onde assistiram à realização de um exercício de tiro real. Desse último monumento rumaram para o Macapá Hotel, na frente da cidade, onde dom Mário e seus acompanhantes se serviram de saborosos sorvetes de frutas regionais. Às 17h foi servido o jantar na residência governamental. Às 19h, começou a solenidade de instalação da Prelazia de Macapá. A Igreja estava lotada de fieis. Iniciou-se a solenidade litúrgica com a reza do Terço, seguindo-se o Canto da Ladainha a três vozes mistas (Perusi). Na sequência, dom Mário Villas-Boas pediu ao padre Adolfo Serra que procedesse a leitura do Decreto de Subdelegação, pelo qual o Núncio Apostólico nomeava o arcebispo do Pará seu próprio subdelegado na ereção da Prelazia e a Bula Papal que a criou. A função religiosa se estendeu até às 21h30min com a bênção do Santíssimo Sacramento, com o canto do “Tantum Ergo Sacramentum (Haller)” a 4 vozes mistas (Tão Sublime Sacramento). A Igreja de São José também foi elevada à categoria de Catedral.

A Prelazia de Macapá (Territorialis Praelatura Macapaensis) foi ereta canonicamente pelo Papa Pio XII, através da bula “Unius Apostolicae Sedis” de 1 de fevereiro de 1949, com as paróquias de Macapá, Amapá e Bailique, desmembrada da Prelazia de Santarém e colocada pela Santa Sé aos cuidados do Pime. A transmissão dos encargos da Prelazia de Macapá ocorreu dia 23 de março de 1949, pelo bispo de Santarém dom Anselmo Pietrula. A nomeação do padre Aristides Piróvano como administrador apostólico se deu no dia 14 de fevereiro de 1950. A instalação solene da Prelazia e a pose do administrador apostólico aconteceram no dia 30 de abril de 1950. A Prelazia passou à condição de Diocese por força da bula “Conferentia Episcopalis Brasiliensis” (Conferência Episcopal Brasileira), do Papa João Paulo II.