Nilson Montoril

A Pedra do Guindaste – 1ª parte


Até o ano de 1723, embora já estivesse em vigor o Tratado de Utrecht, firmado entre Portugal e França a 11 de abril de 1713, que determinava ser luso-brasileira a região da Costa do Cabo do Norte, pretendida pelos francos, estes teimavam em realizar incursões pelo Rio Amazonas valendo-se da amizade estabelecida com os índios Aruan, Tucujú e Aroaqui, que constituíam os três grupos mais perigosos e hostis aos portugueses. No dia 14 de fevereiro do ano supra mencionado, os frades das ordens de Santo Antônio e da Conceição da Beira e Minho, foram encarregados de tentar, mais uma vez, a pacificação dos irredutíveis Aruan. Foi um passo importante obtido pelos freis João e Bernardino, ambos franciscanos de Santo Antônio, os quais lograram assentar vários povoados nas terras da boca norte do Amazonas e na Ilha do Marajó. Uma série de outras medidas foram tomadas pelos portugueses, mas os franceses insistiram em querer fixar posições na Amazônia Oriental. Portugal erguera o Forte de Santo Antônio sobre as ruínas do Forte de Cumaú tomado dos ingleses, mas o tempo e a falta regular de manutenção aceleraram sua deterioração levando-o à ruína.

No dia 5 de outubro de 1738, o capitão-general João de Abreu Castelo Branco visitou o Forte de Santo Antônio e comprovou a sua fragilidade. Através de carta endereçada ao Rei D. João V, recomendou a construção de outra fortificação em lugar mais próximo da foz do Amazonas e em área mais ampla. Ainda em 1738, um forte de faxina foi montado enquanto as providências relativas ao levantamento de uma casa forte fosse tomadas, o que não aconteceu por falta de recursos. Pequenos quartéis foram feitos e ocupados por um destacamento comandado por um capitão.

Entre 1738 e 1749, ficou bem evidente a necessidade de ser erguida uma grande fortaleza, haja vista que, o reduto artilhado com apenas duas peças de artilharia já demonstrava sérios desgastes. Os quartéis levantados em 1738 ocuparam espaços no platô de terra firme onde surgiu o povoado de São José de Macapá, na primeira quinzena de 1751, e mais tarde a portentosa Fortaleza de São José, entre 1764 a 1782. O aspecto do litoral onde foi implantado o povoado de Macapá era bem singelo, chamando a atenção dos navegadores e colonizadores uma formação rochosa assentada na margem esquerda do Rio Amazonas, Nada de sobrenatural havia sobre sua existência. Era simplesmente uma pedra, com a mesma matéria encontrada nas falésias do platô da fortaleza. Ela ornou a praia de Macapá até setembro de 1973. Desde 1970 existiu sobre ela uma imagem de São José, esposa de Maria e pai putativo de Jesus Cristo.

A importante escultura foi feita pelo luso-brasileiro Antônio Pereira da Costa, natural da Freguesia de Valadares, Conselho Vila Nova de Gaia, Distrito do Porto, em Portugal. Na comunidade de Valadares as atividades principais concentravam-se na agricultura e na produção de cerâmicas. Antônio Pereira da Costa e seu pai eram ceramistas e escultores de inegáveis méritos, com importantes obras realizadas no Rio de Janeiro, em São Luiz do Maranhão, Belém do Pará e em Macapá.

Na então capital do ex-Território Federal do Amapá, Seu Antônio Costa instalou sua oficina de trabalho no quintal da Augusta e Respeitável Loja Maçônica Duque de Caxias tendo recebido especial autorização de seus irmãos, que sempre o distinguiram como um invulgar “obreiro da paz”. Muitas das suas obras ainda são vistas e admiradas nas cidades de Macapá e Amapá: Grupo Escolar Barão do Rio Branco, Hospital Geral de Macapá, Maternidade Mãe Luzia, Fórum de Macapá, que hoje abriga a Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil, os Leões assentados na frente do citado prédio, a Estátua de Francisco Xavier da Veiga Cabral, em Amapá, o Busto de Tiradentes, o busto do Deputado Federal Coaracy Nunes, na Praça do Aeroporto Internacional Alberto Alcolumbre, o Tempo da Loja Duque de Caxias e a Imagem de São José que ainda permanece sobre um pilar de concreto ereto sobre as pedras menores da antiga formação rochosa derrubada pelo navio Antônio Assmar, em setembro de 1973. Outro leão esculpido pelo Senhor Antônio Pereira da Costa foi encomendado pelo comerciante Hermano Jucá Araújo, meu tio paterno e torcedor apaixonado do Clube do Remo. Pintada de azul, a escultura foi mandada para Belém e instalada no Estádio Evandro Almeida.