Nilson Montoril

Calúnia contra Janary Nunes


Em maio de 1944, quando os trabalhos de implantação do Território Federal do Amapá seguiam em ritmo acelerado, o governador da novel unidade administrativa, capitão Janary Gentil Nunes foi alvo de uma noticia aleivosa que circulava em vila do Jary. A calúnia foi engendrada por José Aguiar Filho, Pedro Américo de Queiroz Facó, Sebastião Pereira de Alencar, José Gonçalves dos Santos, Vicente de Lima, Rosalina Monteiro Diógenes e Suzana Gonçalves dos Santos. Estas pessoas espalharam o boato de que o gestor amapaense havia recebido 60 bois do cidadão José Júlio Andrade, coronel da Guarda Nacional e proprietário de uma vasta área contida nos municípios de Almeirim, no Pará e Mazagão, no Amapá, compreendendo coleta de sementes oleaginosas, exploração de seringais, balatais, castanhas do Pará e criação de gado comum.

A sede dos empreendimentos do coronel José Júlio de Andrade era em Arumanduba, à margem esquerda do Rio Amazonas. Sendo muito rico, passava a maior parte do tempo viajando, inclusive pela Europa. Seu cunhado Duna Neno é quem dirigia os negócios com mão de ferro. Os caluniadores afirmavam que os 60 bovinos correspondiam a agrados por favores feitos a José Júlio pelo ilustre militar da Arma de Infantaria. José Júlio não precisava dos favores de ninguém, Suas propriedades estavam legalmente instaladas e lhe rendiam muito dinheiro. Ele foi influente na política paraense, chegando ao cargo eletivo de Senador Estadual. Só não era amigo de Magalhães Barata, mas gozava de muito pretigio no Estado do Pará. Ao virem à tona as calúnias ocupava o cargo de Diretor do Departamento de Segurança Pública e Guarda Territorial, o tenente do Exército e advogado, Paulo Eleutério Cavalcante de Albuquerque, que imediatamente determinou a abertura de inquérito policial e a apuração dos fatos. Sabedores de que seriam intimados e processados, os caluniadores refugiaram-se em locais bem distantes, dificultando suas notificações. Apenas os indivíduos José Aguiar Filho e Sebastião Pereira de Alencar atenderam a citação da Justiça de imediato. Os demais foram chamados por edital, dando-se-lhes um defensor dativo. Os fofoqueiros que atenderam a citação defenderam-se afirmando que não tinham participado da divulgação da inverdade. Porém, as provas contidas nos autos do processo diziam exatamente o contrário.

O governador Janary Nunes nunca foi conivente com qualquer atitude insensata dos gerentes das propriedades de José Júlio. O Secretário de Segurança capitão Humberto Pinheiro de Vasconcelos, que substituiu Paulo Eleutério, freqüentemente percorria as áreas de influência de José Júlio e não dava tréguas aos que agiam ao arrepio da lei. O governador do Amapá considerou a ação dos caluniadores como fruto do analfabetismo e da ociosidade parasitária em que andava mergulhado o povo. Era coisa comum alguém divulgar um fuxico e,quando cobrado a comprovar o fato,simplesmente fugia. A culpabilidade dos difamadores foi considerada irrefutável e levou a Justiça de Mazagão a condenar José Aguiar Filho a 2 anos e 8 meses de reclusão e multa de Cr$ 3.000,00(três mil cruzeiros). Sebastião Pereira de Alencar, José Vicente de Lima, Rosalina Monteiro Diógenes, Suzana Gonçalves dos Santos e Pedro Américo de Queiroz Facó, receberam a sentença de 1 ano e 4 meses de prisão e multa de Cr$ 1.000,00(hum mil cruzeiros).

A tramitação do processo durou mais de sete anos.As primeiras ações da Justiça neste caso precisaram ser tomadas pela Comarca de Macapá, haja vista que, em 1944, ainda não havia sido criada a Comarca de Mazagão. Essa só foi instalada em agosto de 1945. Outro fato curioso deve ter contribuído para dar certa convicção de impunidade aos caluniadores. É que, antes da criação do Território Federal do Amapá, a vila do Jary, onde eles moravam, pertencia ao Município de Almeirim. O marco divisor entre Almeirim e Mazagão era o Rio Cajary.