Nilson Montoril

Círio de Nazaré, procissão ou romaria?


Enganam-se, os que pensam que procissão, romaria e peregrinação são invenções da Igreja Católica. Se atentarmos para o fato de que procissão é um cortejo, veremos que sua prática é milenar, notadamente entre os gregos, israelitas e romanos. Os gregos realizavam belos cortejos em momentos festivos, com destaque para os jogos olímpicos, adoção de tratado de paz com inimigos e comemorações devotadas aos seus deuses.

O rei Davi organizou retumbante cortejo para conduzir a Arca da Aliança para o templo de Jerusalém. Isto é narrado na Bíblia. Neste caso, ocorreu um cortejo religioso e, na Arca da Aliança havia duas imagens de Querubins. Além disso, estava em destaque glamoroso, um luxuosíssimo artefato fabricado pelo homem, em madeira e ouro. Nada demais para um povo acostumado a agir assim. No Livro dos Salmos, do Antigo Testamento há várias citações referentes a procissões: “Dentro de mim derramo a minha alma ao lembrar-me de como ia com a multidão, guiando-a em procissão à casa do Senhor” (Salmo 42,4). Também , em Isaías, 45,20 encontramos uma citação alusiva ao cortejo da Arca da Aliança: “Esta procissão, conduzindo inclusive imagens de Querubins, estabelecida por Deus na Bíblia, não é igual a uma procissão qualquer”.
No Novo Testamento conhecemos muito bem a forma como aconteceu a entrada de Jesus em Jerusalém: montado em um jumento, com o povo a segui-lo cantando Hozana ao filho de Davi(Mateus 21,10). Os judeus realizavam procissões para a Páscoa, Pentecostes e para a festa do Tabernáculo. Procissão vem do latim procedere, que significa “para ir adiante”, avançar, caminhar. A procissão corresponde a um cortejo religioso realizado em marcha solene pelas vias públicas de cidades e vilas, carregando imagem sacra e entoando orações e cânticos.

O termo Romaria tem a ver com a expressão “todos os caminhos levam a Roma”. Surgiu quando era comum os fieis empreenderem longas jornadas até a sede da Igreja Católica, estabelecida na antiga capital do Império Romano, onde visitavam os túmulos de São Pedro, São Paulo e os cemitérios dos santos mártires. Também se tornou hábito o cortejo conduzindo o corpo de mártires até as catacumbas. O féretro nada mais é do que o ato de piedade cristã. “As procissões são expressões de fé de forte significado. Elas constam basicamente do deslocamento do celebrante e de seus auxiliares, ou de toda a assembléia dos fies, de um lugar para outro. Significa o povo de Deus a caminho do Reino dos Céus” As romarias e peregrinações são jornadas efetivadas por motivos religiosos a um santuário ou lugar sagrado e milagroso, onde as pessoas vão pedir graças especiais, cumprir promessas e agradecer favores recebidos.

As peregrinações acontecem de forma espontânea, sem um cortejo. Os peregrinos têm como ponto de chegada um lugar predeterminado, onde permanecerão pelo tempo desejado. Quem participa de uma procissão alusiva a um santo (a), o faz por devoção. A homenagem prestada equivale a uma veneração, ou seja, a um louvor. As reverências feitas às imagens ou relíquias que os representam, apenas correspondem a um reconhecimento da maneira reta e justa, que eles levaram na vida terrena. A adoração só é feita a DEUS.

O Círio de Nossa Senhora de Nazaré, realizado em Belém desde o ano de 1793, há 224 anos corresponde a uma portentosa procissão. A devoção a Maria teve inicio no Oriente, contemplando as fases relativas ao Nascimento, Anunciação, Purificação e Falecimento da mãe de Jesus. A partir do século XIV(quatorze), a devoção ganhou maior popularidade. Com o aparecimento da prece Ave Maria, rotulada pela Igreja Católica como Ângelus, intensificou-se a veneração, Em 8.12.1854, o Papa Pio IX(nono), na presença de 50 mil romeiros oriundos do mundo todo, declarou a Bula INEFFABIS DEUS (Deus Onipotente), instituindo a Doutrina da Imaculada Conceição, com o seguinte teor: “É de Deus revelada a Doutrina que sustenta que a Virgem, Bem-Aventurada Maria, no primeiro instante de sua concepção, por singular Graça e privilégio do Deus Onipotente, em vistas dos méritos de Jesus Cristo, o Salvador do gênero humano, foi preservada imune de toda mácula de pecado original, e dessa maneira deve ser crida por todos os fiéis. A concepção se refere ao momento em que o Espírito Santo fecundou o óvulo de Maria, sem conjunção carnal.