Nilson Montoril

Comidas em conserva


Até o ano de 1795, os países envolvidos em lutas armadas enfrentavam muitas dificuldades para alimentar seus combatentes. As refeições eram colocadas em pontos estratégicos e cada soldado pegava seu quinhão. Eles comiam andando e os alimentos nem sempre eram saudáveis. Em 1793, quando a França enfrentava as tropas do Império Austríaco, Reino de Nápoles, Reino da Prússia, Espanha e Grã-Bretanha, Napoleão Bonaparte ofereceu uma recompensa de quinze mil francos a quem obtivesse sucesso na produção de comidas em conserva.

Um cozinheiro/confeiteiro chamado Nicolas Appert, que desde 1795, pesquisava uma fórmula para manter alimentos preservados por longo tempo, conseguiu manter carne bovina em perfeitas condições de consumo, acondicionando-a em um recipiente de vidro grosso fechado com uma rolha e submetido a altas temperaturas. O processo era parecido com o que prevalece nos dias atuais. Nicolas Appert recebeu seu valioso prêmio e montou uma fábrica de laticínios intitulada Massy, nos arredores de Paris, em 1802. A partir de 1809, a fabulosa invenção permitiu que os soldados de Napoleão não perdessem muito tempo para encher a barriga, enquanto os adversários ainda utilizavam esquemas antigos. Com o passar do tempo, os vasilhames de vidro grosso foram substituído por latas e o processo de conservação dos alimentos passou por seguidos aprimoramentos. Enquanto os conflitos armados entre as nações européias se mantiveram relativamente frequentes, a comida enlatada era produzida para aumentar soldados. Nesta época, o preço de uma lata de comida em conserva era caro, razão dos populares preferirem se alimentar de carne fresca, mesmo despendendo precioso tempo para prepará-la.

As latas de sardinhas em conserva apareceram em 1810. Os demais alimentos também mereceram atenção especial. Nos dias atuais, notadamente nos Estados Unidos da América do Norte, uma boa refeição pode ser rapidamente preparada com o uso de alimentos enlatados, como arroz, feijão, carne desfiada, carne fiambrada, almôndegas, sopa, salada, purê de batatas, molho de tomates. Em 1930, os enlatados já eram populares em todo o mundo. Hoje, cerca de 200 bilhões de latas de comida em conserva são produzidas anualmente.
O Brasil responde por 80% dos enlatados produzidos no globo terrestre. São utilizadas 200 mil toneladas de carne bovina. A firma JBS (João Batista Sobrinho), fundada em Goiás, em 1953, agora associada à Friboi é a proprietária do maior frigorífico existente na face da terra. Entre os norte-americanos, a carne enlatada recebeu o nome de “corned beef” (carne em conserva) e tem um elevado consumo. Nos anos iniciais da instalação da Indústria e Comércio de Minérios S.A.(ICOMI) e da construção da Hidrelétrica do Paredão (Coaracy Nunes), a alimentação dos operários era à base de carne em conserva. Em Macapá, bem mais do que em Mazagão, comer carne em conserva era um hábito freqüente, notadamente no período invernoso, ocasião em que a captura de peixes fica mais difícil. Apenas o jabá tinha maior predileção no jantar devido ao açaí ou a bacaba. Quando a situação ficava mais braba, o chibé substituía os dois vinhos. Vale dizer, que antes da criação do Território Federal do Amapá, a jurisdição do município de Macapá se estendia às regiões das Ilhas do Pará, na margem direita do canal norte do rio Amazonas. Portanto, os que moravam nas áreas que depois passaram a integrar Anajás e Afuá eram macapaenses.

O mesmo ocorria com o município de Mazagão, cuja população interiorana era expressiva, daí a fama de ser um grande consumidor de conserva. Soma-se a isso, o fato dos funcionários do governo irem realizar atividades na cidade de Mazagão e querer filar uma bóia de graça. Sem conseguir, eles compravam carne ou sardinha em lata e 250 gramas de farinha para matar a fome. Quem nunca comeu produtos enlatados ou conservados em outros recipientes, que atire a primeira pedra. Se gostar de carne em conserva dá status, neste aspecto estamos lado a lado com os americanos: I like corned beef! No Brasil, ainda são famosas as marcas Bordon, Swift, Anglo, Target, Oderich, Kitut e Taya. As marcas de sardinha mais famosas são: Coqueiro (1917), Rubi, Mariska, Ramirez (1853), Anita e Gomes da Costa.