Nilson Montoril

Herundino, alfaiate, futebolista e policial


O alfaiate Herundino do Espírito Santo veio para Macapá, em 1945, a fim de jogar futebol pelo Cumaú Esporte Clube, a agremiação alviverde local. Em sua companhia estava o Adinamar, um valoroso atleta que figura na galeria dos futebolistas que vestiram a camisa do Paysandu Esporte Clube. Em Belém, Herundino atuava pela União Esportiva, um time de futebol, que, em 1913 teve a honra de ser o primeiro campeão paraense. Na época em que o Herundino integrava o conjunto da União Esportiva o time não ia bem. As noticias que ele ouvia sobre as excelentes oportunidades de alguém se tornar funcionário público federal motivou a sua saída de Belém. Através da representação do governo do Amapá, instalada em Belém, Herundino soube que havia sido criada a Guarda Territorial estando à corporação precisando de alfaiates para compor sua oficina de costura. Preencheu uma ficha cadastral e aguardou sua chamada. Ela ocorreu em curto espaço de tempo, graças ao interesse que o macapaense José Serra e Silva, presidente do Cumaú demonstrou por ele.

O Adinamar Resende, parceiro de viagem do Herundino era um eficiente centro-médio com passagem pelo Clube do Remo, Tuna Luso Brasileira, Paysandu e União Esportiva. Os dois chegaram a Macapá em meado do mês de outubro e acertaram com os próceres do Cumaú a vinculação deles ao time alviverde. Pediram um tempo para irem a Belém providenciar a mudança. No dia 3/11, quando era voz corrente na cidade a desistência dos citados atletas, ambos apareceram na sede do clube, apresentando mais dois atletas dispostos a jogar e trabalhar em Macapá: Pariché e Cara-de-Onça. Em Belém, atuavam no campeonato paraense da segunda divisão integrando o time do Sacramenta. Herundino foi o único que permaneceu em Macapá, desenvolvendo suas atividades de alfaiate na oficina de costura da Guarda Territorial, então instalada nas casamatas da Fortaleza São José. Adinamar foi chamado pelo Paysandu e preferiu vincular-se mais uma vez ao Papão da Curuzu.

Ciente de que poderia auferir uns cruzeirinhos a mais nas suas folgas, Herundino alugou uma sala em um prédio edificado à Rua Cândido Mendes, onde instalou a alfaiataria “Zaz Traz”. Sua estréia pelo Cumaú ocorreu dia 22/12/ 1945, no campo da Matriz enfrentando o Macapá. O time alvi-verde perdeu por 4×1, mas a atuação de Herundino foi muito elogiada. Neste jogo, o centro-médio Laércio, egresso da Tuna também agradou. A formação do Cumau era: Judidath; Casemiro Dias e Herundino; Tenente, Laércio e Gaivota; 115, Caveira, Souza, Tomé e Jurandino. Os atletas torcedores de Paysandu e Remo sempre realizavam partidas amistosas, rotulando os times como Alvi-Azul e Azulino. Herundino jogava pelo Azulino. Logo na estréia, dia 26/4/1946, seu time perdeu para o Alvi-Azul por 2×1 e ele cometeu um pênalti, que o zagueiro Brasil converteu em gol. O 115 marcou o segundo e Taumaturgo descontou para o Azulino. No dia 7 de maio de 1946, Herundino vestiu a camisa do Macapá pela primeira vez, amargando uma derrota frente ao Amapá Clube por 1×0, gol de Caboclo Alves. Sentiu o sabor de uma vitória no prélio Macapá 3×2 Amapá, no campo da Matriz. A 4/1/1947, um domingo, integrou o primeiro time do Trem Esporte Clube Beneficente, fundado no dia primeiro. Pela manhã, depois da eleição da diretoria rubro-negra, aconteceu a demarcação do campo de futebol da agremiação, na área que hoje corresponde à Praça N. S. da Conceição, doada ao clube pela Prefeitura de Macapá. A partida foi realizada pela manhã, ocasião em que o Trem enfrentou um combinado formado por atletas do Macapá e Amapá. Herundino sentiu o travo da derrota, mas mostrou suas qualidades consignando os dois gols do conjunto proletário.

A 1ª escalação do Trem: Oscar; Herundino e Zeca Banhos; Cabral, Pedro Franco e Branco; Jorge, Oliveira, Labrione, Walter e Lando. Também esteve presente na 1ª excursão que o quadro “ferroviário” fez a Mazagão, onde empatou como Mazagão Esporte Clube por 1×1. O gol do Trem foi do Herundino. Tampinha empatou.O “Trem Lapidador”alinhou com Alcolumbre;Vavá e Zeca Banhos;Labrione,Pedro Franco e Herundino; Epitácio,Jorge, Smith(Oliveira),Walter e Branco.Atuou como juiz,Raimundo Nonato Lima, o Chibé.