Nilson Montoril

Matapi de ferro


Com o propósito de promover a radicação de colonos na área de Porto Grande, o governo do território federal do Amapá decidiu instalar, próximo às cabeceiras do rio Matapi, a 120 quilômetros de Macapá, o Núcleo Colonial Agrícola de Matapi. A região onde ficou situada a colônia correspondia a uma zona de contatos dos terrenos sedimentares com os do embasamento, bem como, da floresta com o campo. A administração territorial agiu de forma cautelosa para evitar malogros de empreendimentos passados, devido a falta de estudos técnicos com planificação. Os ensaios feitos em Matapi iriam contribuir para a escolha de áreas mais interessantes para a agricultura e pecuária em outros pontos da recém criada unidade federada.

A criação da colônia agrícola nacional, entre Ferreira Gomes e Porto Grande tinha como função principal o suprimento de legumes, hortaliças e cereais aos grupos humanos que se fixaram em Serra do Navio para exploração do manganês, podendo, também, suprir as necessidades de Macapá. Na ânsia de criar o projeto, o governo não realizou a analise da área compreendida entre Porto Grande e Ferreira Gomes. Uma simples visualização do solo indicava, que a borda do pene plano cristalino era forrada pela piçarra ferruginosa, que torna o solo improdutivo. A distribuição de terras aos colonos ficou a cargo do Departamento de Terras e Colonização- DTC, sediado em Macapá. Este órgão também concedia licença para localização aos moradores de Macapá, Mazagão, Amapá e Oiapoque. Posteriormente, mais precisamente no inicio da década de 1980, a atividade passou a ser integralmente desenvolvida pelas prefeituras municipais. Em 1840, o governo imperial do Brasil havia criado a Colônia Militar Pedro II, situada à margem do rio Araguary, próximo ao Tracajatuba. Esta colônia se manteve com muita dificuldade sendo completamente dizimada sua população, no inicio do século XX, pela insalubridade do meio. Além da malária, a mata fechada e a falta de campo para o gado contribuíram para o fracasso do núcleo.

A bem da verdade, por se tratar de uma colônia militar, cujo escopo maior era impedir a instalação dos franceses na região, o governo julgou que poderia manter os colonos e soldados a custa do erário público. Em 1891, outro núcleo agrícola surgiu no rio Araguary, a alguns quilômetros à montante da colônia militar Pedro II. Na margem direita do grande caudal despontou a colônia Ferreira Gomes. Segundo registros a respeito do esplendor econômico da vila, ela “chegou a ter um trapiche, onde mensalmente atracava um navio de Belém, para embarcar arroz, feijão, farinha e outros gêneros da produção local”. A produção obtida em um solo paupérrimo causa estranheza. Mais uma vez, as febres decorrentes da malária provocaram o malogro do núcleo. O Núcleo Colonial de Matapi ficou mais conhecido como “Matapi de Ferro”, por causa do “Acampamento do Ferro”, local usado pelo geólogo alemão naturalizado brasileiro, Fritz Ackermann, que ali acampou durante algum tempo para proceder pesquisas relativas ao minério do ferro, abundante no rio Vila Nova. Em época mais recuada o sitio abrigou uma aldeia de índios. Chegava-se ao acampamento depois de atravessar dois areões. Depois do primeiro areão havia afloramento de depósitos de hematita compacta, muito pesada, juntamente com a canga cavernosa.

A Colônia Agrícola do Matapi foi fundada em fevereiro de 1949. No mês de março, apenas cinco colonos ali fixaram residência. Em junho de 1950 já havia 17 casas, abrigando 100 pessoas. As roças ficavam fora da vila, estabelecidas na margem esquerda do igarapé do inglês. ”Os lotes foram divididos geometricamente, tendo a forma retangular e quase todos com as mesmas dimensões. Nos dois primeiros anos, o governo concedeu pecúlio de seis mil cruzeiros, ou seja, 500 cruzeiros mensais a cada colono. Os colonos foram obrigados a restituir tais valores em pequenas prestações mensais. A maioria dos colonos era composta por nordestinos que trabalharam na campanha da borracha durante a época da segunda guerra mundial. As habitações eram bem rústicas, feitas de pau a pique(taipa), cobertas com folhas da palmeira indaiá.