Nilson Montoril

No Amapá também ocorre abalo sismico


O brasileiro costuma dizer que o Brasil é um país abençoado por Deus. Também comete o sacrilégio de dizer que Deus é brasileiro. A qual Deus o brasileiro se refere? Os mais esclarecidos afirmam que Deus, seja qual for a religião, não tem nada a ver com as desgraças que ocorrem no mundo. O planeta Terra está em permanente transformação. Cabe ao ser humano saber conviver com as mudanças, prevê-las, modificá-las, evitá-las e até mesmo minimizar os seus efeitos.
Enganamo-nos em pensar que tremores de terra só acontecem em outros recantos da Terra. Precisamos ter em mente que existe o tectonismo, ou seja, o processo de deformação da crosta terrestre pela formação dos continentes, baias oceânicas, platôs, montanhas, dobras e demais forças internas. As movimentações tectônicas são suficientes para modificar ou alterar a textura original. Tectônica, em grego tektomikés significa “arte de construir” e a natureza é uma grande construtora. Os continentes existentes no globo terrestre nem sempre apresentaram as configurações atuais. Eles não estão presos a um ponto fixo, mas sim flutuam sobre o magma. Qualquer alteração do magma mexe com os blocos continentais. O magma, do grego, magma, compreende uma massa natural fluida, ígnea, de origem profunda, e que, ao esfriar-se, se solidifica, originando a rocha magmática. Todas as vezes que o magma se movimenta os efeitos são sentidos na litosfera, que é a parte externa consolidada da Terra, comumente chamada crosta da Terra. Os efeitos correspondem a sismos, vocábulo grego seismós, que quer dizer abalo. Sismo é o movimento interior da terra, o qual, conforme a localização de sua origem pode produzir ondas mais ou menos intensas, e capazes de se propagar pelo globo.
Segundo registros existentes no Observatório de Metodologia, sediado no Rio de Janeiro, cinco abalos sísmicos já ocorreram na área atual Estado do Amapá.

O primeiro data de 1 de março de 1926 e o segundo de 6 de maio de 1933. Na época o Estado do Pará tinha Jurisdição sobre as terras atingidas e que hoje pertencem ao Município de Oiapoque. Em 1926, existia ali uma população que não excedia a 1.500 almas, a maioria constituída de presos políticos e condenados de Justiça. Os imóveis eram poucos, prevalecendo o uso de madeira na edificação. Em 1933, o vazio demográfico era bem maior.

A falta de um arquivo público no Amapá prejudica qualquer pesquisa que se refira aos dois feitos. Em 1947, precisamente no dia 17 de setembro, deu-se o terceiro abalo sísmico. O jornal “Amapá”, impresso pelo Governo do Território Federal do Amapá, registrou o acontecimento na edição nº237, 3ª página. O Prefeito do Município de Oiapoque, Sr. Roque de Souza Pennafort, comunicou, via telégrafo, ao Governador do Território, interino, Dr. Raul Montero Valdez, que “um forte tremor de terras sacudiu a cidade de Oiapoque, a Vila Militar de Clevelândia, a localidade de Ponta dos Índios e da cidade francesa de Saint George, na Guiana Francesa. O abalo sísmico começou às 2 horas da madrugada e perdurou por 1 minuto e trinta segundos, sendo acompanhado de rumor semelhante ao de um trovão. Os vidros das janelas quebraram e quem dormia em rede correu assustado para a rua.” O Prefeito não tinha como medir a intensidade do abalo.

No dia 24 de abril de 1951, aconteceu o quarto sismo na região do Oiapoque. Roque de Souza Pennafort ainda ocupava o cargo de Prefeito, sendo também o telegrafista local. Imediatamente, ele passou um telegrama ao Governador Janary Gentil Nunes, nos seguintes termos: “Às 21 horas, foi sentido na cidade de Oiapoque, um tremor de terra, cuja duração mais forte chegou a um minuto, sem causar danos físicos aos moradores, mas deixando-os bastante assustados”. A exemplo do abalo sísmico de 17 de setembro de 1949, este último teve fases de intensidade crescente e decrescente e diversas habitações sofreram avarias. O fato foi com comunicado pelo Governador Janary Nunes ao observatório de Meteorologia, que registrou o abalo como tendo atingido 4.3 pontos na escala Richter. Os demais foram considerados do tipo 3.Embora não tenha havido registro oficial, consta que, no mesmo dia a terra também tremeu em Macapá, fazendo muita gente correr para a igreja de São José, a única da cidade.

Em 2 de agosto de 1997, um tremor de terras de baixa intensidade foi sentido em Macapá, assustando as pessoas que se encontravam nos prédios do Centro Cívico Administrativo, Hospital de Pediatria, Hospital Geral de Macapá, Maternidade Mãe Luzia, Colégio Comercial do Amapá, Assembléia Legislativa, Secretaria de Educação e residências edificadas na área. Diversos jornais de Macapá publicaram o acontecido. No último dia 29 de novembro de 2007, uma quinta-feira, às 16h 30 minutos, um terremoto que teve como epicentro o mar do Caribe, a 14 km da Ilha de Martinica sentido no Estado do Amapá, em Belém, na Ilha de Marajó (Pará), em Roraima e no Amazonas. Macapá e Laranjal do Jarí também foram atingidos provocando medo a muita gente. Quem estava em prédios na zona comercial de Macapá procurou deixá-los e ganhar as ruas. Pânico e susto levaram clientes do Banco do Brasil a retirar-se da agência. No vale do rio Jarí, a maior intensidade aconteceu em Munguba, distrito de Monte Dourado.A intensidade do abalo foi superior a 7 pontos na escala Richter.

Em 2005, neste mesmo período, os sismógrafos registraram outro tremor de terras em Macapá, de baixa intensidade e imperceptível pela população. Uma grande indagação desponta neste momento: estamos preparados para conviver com um abalo que provoque desmoronamento de prédios?