Pe. Claudio Pighin

Aclamai a deus por toda a terra


Certa vez em uma procissão religiosa, lembro-me de ter encontrado uma senhora que segurava nas mãos um terço e, emocionada, me falava que Deus era tudo pra ela: “Agradeço porque, sem Ele, não seria mais nada.” E, soluçando, dizia: “Tudo lhe devo! Tudo!” Aquela firmeza e convicção da mulher me confirmaram o quanto nós devemos ser agradecidos ao nosso Deus. A gratidão nos permite estreitar o nosso relacionamento com Deus. E, para isso, leia atentamente o salmo 65 das Sagradas Escrituras:

“Aclamai a Deus, toda a terra, Cantai a glória de seu nome, rendei-lhe glorioso louvor. Dizei a Deus: Vossas obras são estupendas! Tal é o vosso poder que os próprios inimigos vos glorificam. Diante de vós se prosterne toda a terra, e cante em vossa honra a glória de vosso nome. Vinde contemplar as obras de Deus: ele fez maravilhas entre os filhos dos homens. Mudou o mar em terra firme; atravessaram o rio a pé enxuto; eis o motivo de nossa alegria. Domina pelo seu poder para sempre, seus olhos observam as nações pagãs; que os rebeldes não levantem a cabeça. Bendizei, ó povos, ao nosso Deus, publicai seus louvores. Foi ele quem conservou a vida de nossa alma, e não permitiu resvalassem nossos pés. Pois vós nos provastes, ó Deus, acrisolastes-nos como se faz com a prata. Deixastes-nos cair no laço, carga pesada pusestes em nossas costas. Submetestes-nos ao jugo dos homens, passamos pelo fogo e pela água; mas, por fim, nos destes alívio. É, pois, com holocaustos que entrarei em vossa casa, pagarei os votos que fiz para convosco, votos proferidos pelos meus lábios, quando me encontrava na tribulação. Oferecerei em holocausto as mais belas ovelhas, com os mais gordos carneiros; imolarei touros e cabritos. Vinde, ouvi vós todos que temeis ao Senhor. Eu vos narrarei quão grandes coisas Deus fez à minha alma. Meus lábios o invocaram, com minha língua o louvei. Se eu intentasse no coração o mal, não me teria ouvido o Senhor. Mas Deus me ouviu; atendeu a voz da minha súplica. Bendito seja Deus que não rejeitou a minha oração, nem retirou de mim a sua misericórdia.”

Este salmo se contextualiza na celebração litúrgica no Templo, onde o fiel agradece a Deus pela sua obra salvadora. De fato, o louvor é pelas tantas manifestações históricas de Deus na vida do seu povo. A celebração é uma resposta efetiva à presença de Deus, e todo mundo proclama o seu esplendor. Uma presença prodigiosa que se concretiza com a libertação do povo da escravidão do Egito e que vai até a conquista da terra prometida. É esse grande prodígio que define como seu povo Israel, povo escolhido por Deus. E as imagens que o salmista escolhe para representar esta opção de Deus pelo seu povo são: ‘nos provastes, ó Deus, acrisolastes-nos como se faz com a prata’, ‘carga pesada pusestes em nossas costas’, ‘submetestes-nos ao jugo dos homens’.
É uma simbologia que mostra a prova que deve passar o seu povo pelo seu Senhor. Isto significa que nada é fácil, mas que as provações fazem parte dessa caminhada de fé. Perante as superações das provas se elevam hinos de alegria. Nesse caso, um da assembleia, talvez um sacerdote, agradece Deus em nome de todos pelo dom da liberdade. A liberdade que tiveram não é fruto deles, mas do Senhor Deus. Foi a aproximação de Deus que garantiu a libertação da escravidão. Sem Deus nunca teriam se libertado. Por tudo isso eles entram no Templo e oferecem holocaustos para agradecer a Deus pela sua ação poderosa no meio do seu povo. Aquele Deus que libertou o seu povo da escravidão continua presente fazendo prodígios. Um Deus que não abandona o seu povo não obstante os seus pecados.

Recorda-nos o Papa Francisco na Missa de quinta-feira, 6 de abril de 2017:

“Deus é sempre fiel à sua aliança: foi fiel à promessa com Abraão e à salvação prometida em seu Filho, Jesus” (…) “Eu convido vocês a tirarem, hoje, cinco minutos, dez minutos, sentados, sem rádio, sem televisão; sentados, e pensar sobre a própria história: as bênçãos e dificuldades, tudo. As graças e os pecados: tudo. E olhar ali a fidelidade daquele Deus que permaneceu fiel à sua aliança, e se manteve fiel à promessa que fizera a Abraão, permaneceu fiel à salvação que prometera em Seu Filho Jesus. Estou certo de que entre as coisas talvez ruins – porque todos nós temos tantas coisas ruins, na vida – se hoje fizermos isso, vamos descobrir a beleza do amor de Deus, a beleza de Sua misericórdia, a beleza da esperança. E tenho certeza que todos nós estaremos cheios de alegria”. Concluindo, a nossa alegria se torna repleta na medida em que nós experimentamos o quanto Deus está próximo da gente.