Pe. Claudio Pighin

Como a Itália enfrenta a Covid-19?


Os italianos estão enfrentando a covid-19 com todas as precauções possíveis. Não estão brincando em serviço. Inclusive, todos os sacerdotes da região do nordeste da Itália tiveram de fazer o teste para não deixar dúvidas sobre a presença ameaçadora do novo coronavírus. A severidade de controle é tão minuciosa que eu mesmo estou experimentando.

Uns dez dias atrás, almocei com dois sacerdotes e, no dia seguinte, fui fazer o teste, que resultou negativo. Porém, um padre com quem almocei testou positivo cinco dias depois. Resultado: tive de passar também para a quarentena. Uma quarentena que me obrigou a permanecer em casa, sem receber visitas. E ainda tenho de controlar a temperatura duas vezes ao dia, suspender todas as atividades, inclusive as celebrações, manter a higienização do local e separar o lixo, que não pode ir naquele comum.

Ao mesmo tempo, sou vigiado por telefone, além de ter a clausura controlada diariamente pela polícia. Tudo isso porque estive perto de um contagiado. Este vírus, tão poderoso, determina a nossa vida e a nossa convivência. Este tipo de comportamento é ditado porque, efetivamente, não o conhecemos e, portanto, não sabemos ainda agir clinicamente. Nesta quarentena, me vieram a tona umas simples reflexões, relembrando a Sagrada Escritura.

Não sei se você se lembra dos leprosos no tempo de Jesus? Naquele tempo, a sociedade não conhecia a doença e a única solução era segregar o doente do convívio social para evitar mais contágios. Assim sendo, o pobre leproso, além de sofrer a doença sem expectativa de vida, tinha que enfrentar o sofrimento de estar longe de seus familiares e amigos. Totalmente abandonado. Por causa desta ignorância da medicina, continuam esses comportamentos exclusivos.

Eu me sinto nesses dias quase como um perigo público. Por exemplo: têm pessoas que chegam à porta da minha casa e, naturalmente, aviso da minha quarentena e logo elas dão um passo atrás. Este é um pequeno exemplo de como posso ter me tornado um perigo. Por isso, sinto-me assim muito abandonado. Além do mais, as pessoas que me trazem os alimentos devem deixa-los a uma boa distância para evitar a aproximação e o possível contágio, embora eu não tenha o vírus, mas esteve próximo de um que o teve. Sinto-me realmente só, humanamente falando.

A minha sorte é a minha experiência de fé que me permite intensificar o meu estado de oração. É isto que me dá capacidade de dialogar com Deus e fazer uma experiência efetiva da ação do Espirito Santo na minha pobre vida. Experimentar como o Espirito da Verdade me ajuda a relembrar as Palavras vivas de Jesus no momento certo pra ação certa. Lembro-me da passagem do evangelista Marcos: “Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e compadeceu-se dela, porque era como ovelhas que não têm pastor. E começou a ensinar-lhes muitas coisas.” A Palavra me ajuda a refletir e compreender que a compaixão de Jesus com as pessoas significa a presença de Deus em nós. Isto me conforta e me faz sonhar a grandeza da nossa Vida que não é limitada por qualquer precariedade humana.