Pe. Claudio Pighin

E agora, bendizei o senhor


O salmo 133 das Sagradas Escrituras é breve e simples, sem grandes pretensões teológicas, mas muito usado na tradição cristã como oração nas vésperas. Veja o que ele diz:

“E agora, bendizei o Senhor, vós todos, servos do Senhor, vós que habitais na casa do Senhor, durante as horas da noite. Levantai as mãos para o santuário, e bendizei o Senhor. De Sião te abençoe o Senhor, ele que fez o céu e a terra!”

Estamos em Sião e os fiéis presentes, antes de sair do templo, pedem aos sacerdotes para não interromper a oração, mas que se estenda à noite toda. Dessa forma, mantem-se o contínuo louvor ao Senhor. Louvando dia e noite, Deus se torna uma oração infinita, potenciando o ser humano. Aqui o contexto do salmo é um hino litúrgico dividido em duas maneiras de vivê-lo. Na primeira maneira, nota-se quem são os sujeitos que fazem o louvor, isto é, os sacerdotes. Eles, servos do Senhor, rezam em pé, posição típica da oração feita em público. O lugar dessa oração contínua é no Templo, a casa de Deus. E, nesse momento litúrgico, levantam-se as mãos, suplicando ao Senhor o Deus da vida.

A segunda maneira marcada pelo evento litúrgico é o verbo: “abençoar”. “Te abençoe o Senhor”. Que bonita essa expressão, usada largamente pelo nosso povo brasileiro. Seria triste perder uma tradição como essa, enriquecedora de uma profunda humanidade. Dito isso, o salmo mostra aqui que não são mais os sacerdotes, isto é, os fiéis como aqui os definem, que louvam e agradecem a Deus. É o mesmo Deus que abençoa o seu fiel, porque lhe agradou o seu louvor e, portanto, lhe doa a sua graça.

Esses louvores são características da liturgia do templo de Sião. O salmo termina com uma bênção e, ao mesmo tempo, é também uma profissão de fé em Deus, que tudo criou e que está presente na história da humanidade. O papa Francisco disse aos jovens na cerimônia de abertura da Jornada Mundial da Juventude 2019: “«O cristianismo não é um conjunto de verdades para se acreditar, nem de leis para se observar nem de proibições. Visto assim, seria muito repugnante. O cristianismo é uma Pessoa que me amou tanto, que reivindica e pede o meu amor. O cristianismo é Cristo» (Santo Óscar Romero, Homilia, 6/XI/1977); é continuar o sonho pelo qual Ele deu a vida: amar com o mesmo amor com que Ele nos amou. A certeza de saber que fomos amados com um amor cativante que não queremos nem podemos calar e que nos desafia a responder da mesma maneira: com amor. Um amor que não se impõe nem esmaga, um amor que não marginaliza nem obriga a estar calado, um amor que não humilha nem subjuga. É o amor do Senhor: amor diário, discreto e respeitador, amor feito de liberdade e para a liberdade, amor que cura e eleva. É o amor do Senhor, que se entende mais de levantamentos do que de quedas, mais de reconciliação do que de proibições, mais de dar nova oportunidade do que de condenar, mais de futuro do que de passado. É o amor silencioso, da mão estendida no serviço e na doação sem se vangloriar”.