Pe. Claudio Pighin

O maniqueísmo se opõe ao cristianismo


Constantemente, eu assisto comportamentos e declarações maniqueístas na sociedade e, inclusive, em ambientes religiosos. Mas, afinal, o que vem a ser maniqueísmo? Segundo a enciclopédia Wikipédia, “é uma filosofia religiosa sincrética e dualística fundada e propagada por Manes ou Maniqueu, filósofo heresiarca do século III, que divide o mundo simplesmente entre Bom, ou Deus, e Mau, ou o Diabo. A matéria é intrinsecamente má, e o espírito, intrinsecamente bom.”

Quem vive o testemunho, o ensinamento de Jesus, não pode seguir esse modo de pensar. Como pode uma pessoa declarar que ‘aquele um não é do bem’ ou que ‘é do mal’ e se dizer cristão? O Mestre Jesus Cristo nos testemunhou que não se pode ter preconceitos com as pessoas e não se pode condenar. Jesus não nos ensinou a julgar, mas a amar: “Eis que vos ordeno: amais-vos uns aos outros como eu vos amei”.

Portanto, não temos o direito de excluir ou marginalizar ninguém porque o nosso modo de pensar classifica-o como ‘mau’. Você se lembra de quando Jesus disse que um só é bom, no caso, Deus? Você se lembra também de quando Jesus entrou em Jericó e como quis acolher Zaqueu, embora fosse um pecador desonesto que enriqueceu com o dinheiro extorquido com os impostos? E disse-lhe:

“Hoje entrou a salvação nesta casa, porquanto também este é filho de Abraão. Pois o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido”.
O publicano-pecador era considerado perdido para sempre, mas o evangelho revela que também para ele chegou a salvação. E assim o nosso Mestre proclama a salvação para este filho já, agora. Com Jesus, tudo muda, isto é, acolher Jesus é o que torna as pessoas puras. Portanto, todos os cristãos devem seguir o testemunho do Divino Mestre. Certamente, não é fácil. Ser cristão é um grande desafio. Um desafio de enfrentar toda a maneira de ser e agir que o mundo se opõe a essa conduta de fraternidade e de unidade.

Por isso, o maniqueísmo é mais um desafio para os seguidores de Jesus Cristo em não separar, dividir as pessoas, mas unir com o amor do Mestre. É mais fácil julgar que amar como Jesus nos ensinou. E parece-me que essa onda maniqueísta está tomando conta da nossa sociedade. Assim sendo, creio que uma sociedade maniqueísta não contribui para a promoção da solidariedade, da irmandade, mas favorece o subjetivismo que pode alimentar a violência e a desigualdade. De fato, ao longo da história, o maniqueísmo foi rejeitado como heresia pelos cristãos. A concepção dualista entre o bem e o mal pode somente dividir e não unir.

Então, nesta visão, como se pode compreender a salvação que nos testemunha Jesus Cristo? Visto que o maniqueísmo segue o gnosticismo, vejamos o que nos diz a Exortação Apostólica ‘Evangelii gaudium’ no número 94: “gnosticismo, uma fé fechada no subjetivismo, onde apenas interessa uma determinada experiência ou uma série de raciocínios e conhecimentos que supostamente confortam e iluminam, mas, em última instância, a pessoa fica enclausurada na imanência da sua própria razão ou dos seus sentimentos”. Que o ensinamento de Jesus Cristo seja a fonte da nossa libertação de qualquer escravidão.