Pe. Claudio Pighin

Povo meu, siga o meu testemunho!


O extenso salmo 77 é um grande louvor ao Deus que age na história como o verdadeiro protagonista da nossa salvação.

“Escuta, ó meu povo, minha doutrina; às palavras de minha boca presta atenção. Abrirei os lábios, pronunciarei sentenças, desvendarei os mistérios das origens. O que ouvimos e aprendemos, através de nossos pais, nada ocultaremos a seus filhos, narrando à geração futura os louvores do Senhor, seu poder e suas obras grandiosas. Ele promulgou uma lei para Jacó, instituiu a legislação de Israel, para que aquilo que confiara a nossos pais, eles o transmitissem a seus filhos, a fim de que a nova geração o conhecesse, e os filhos que lhes nascessem pudessem também contar aos seus.

Aprenderiam, assim, a pôr em Deus sua esperança, a não esquecer as divinas obras, a observar as suas leis; e a não se tornar como seus pais, geração rebelde e contumaz, de coração desviado, de espírito infiel a Deus. Os filhos de Efraim, hábeis no arco, voltaram as costas no dia do combate. Não guardaram a divina aliança, recusaram observar a sua lei. Eles esqueceram suas obras, e as maravilhas operadas ante seus olhos. Em presença de seus pais, ainda em terras do Egito, ele fez grandes prodígios nas planícies de Tanis. O mar foi dividido para lhes dar passagem, represando as águas, verticais como um dique; De dia ele os conduziu por trás de uma nuvem, e à noite ao clarão de uma flama. Rochedos foram fendidos por ele no deserto, com torrentes de água os dessedentara. Da pedra fizera jorrar regatos, e manar água como rios. Entretanto, continuaram a pecar contra ele, e a se revoltar contra o Altíssimo no deserto. Provocaram o Senhor em seus corações, reclamando iguarias de suas preferências. E falaram contra Deus: Deus será capaz de nos servir uma mesa no deserto? Eis que feriu a rocha para fazer jorrar dela água em torrentes. Mas poderia ele nos dar pão e preparar carne para seu povo? O Senhor ouviu e se irritou: sua cólera se acendeu contra Jacó, e sua ira se desencadeou contra Israel, porque não tiveram fé em Deus nem confiaram em seu auxílio. Contudo, ele ordenou às nuvens do alto, e abriu as portas do céu. Fez chover o maná para saciá-los, deu-lhes o trigo do céu. Pôde o homem comer o pão dos fortes, e lhes mandou víveres em abundância, depois fez soprar no céu o vento leste, e seu poder levantou o vento sul. Fez chover carnes, então, como poeira, numerosas aves como as areias do mar, as quais caíram em seus acampamentos, ao redor de suas tendas. Delas comeram até se fartarem, e satisfazerem os seus desejos. Mas apenas o apetite saciaram, estando-lhes na boca ainda o alimento, desencadeia-se contra eles a cólera divina, fazendo perecer a sua elite, e prostrando a juventude de Israel. Malgrado tudo isso, persistiram em pecar, não se deixaram persuadir por seus prodígios. Então, Deus pôs súbito termo a seus dias, e seus anos tiveram repentino fim. Quando os feria, eles o procuravam, e de novo se voltavam para Deus. E se lembravam que Deus era o seu rochedo, e que o Altíssimo lhes era o salvador. Mas suas palavras enganavam, e lhe mentiam com a sua língua. Seus corações não falavam com franqueza, não eram fiéis à sua aliança. Mas ele, por compaixão, perdoava-lhes a falta e não os exterminava. Muitas vezes reteve sua cólera, não se entregando a todo o seu furor. Sabendo que eles eram simples carne, um sopro só, que passa sem voltar. Quantas vezes no deserto o provocaram, e na solidão o afligiram! Recomeçaram a tentar a Deus, a exasperar o Santo de Israel. Esqueceram a obra de suas mãos, no dia em que os livrou do adversário, quando operou seus prodígios no Egito e maravilhas nas planícies de Tânis. (…) Conduziu-o com firmeza sem nada ter que temer, enquanto aos inimigos os submergiu no mar. Ele os levou para uma terra santa, até os montes que sua destra conquistou. Ele expulsou nações diante deles, distribuiu-lhes as terras como herança, fez habitar em suas tendas as tribos de Israel. (…)”
Este salmo proclama o ‘Credo histórico’ transmitido pela geração antiga àquela mais jovem sobre a obra de salvação que Deus fez ao longo da história. E para transmitir tudo isso se evidencia o uso dos verbos ‘escutar – conhecer – narrar’; os sujeitos são os pais, filhos e gerações e o objeto da fé são as ações gloriosas e poderosas, os prodígios, as obras, as leis, os comandos, o testemunho e aliança. Assim mostra que a história é o lugar especial da revelação divina. Isto é, o Senhor ama manifestar-se dentro do tempo em que o ser humano se acha a vontade. Deus entra nas ações do homem e da mulher para botar as raízes da salvação. Esse Deus, portanto, é sempre protagonista nas vidas das criaturas. Ele, parece, não cansa em conduzir-nos.