Wellington Silva

Brumadinho, Amapá e os povos da Idade Média


Quando se fala em atividade de mineração no Brasil o principal, o essencial e o fundamental é mudar velhos conceitos, métodos e regras desastrosas. A prevalência empresarial da regra básica Tempo + Custo + Benefício = Multiplicação dos Lucros deve dar lugar a uma séria reflexão sobre a funesta fórmula Zona de Perigo + Atividade de Risco = Desastre Eminente.

Está claro para qualquer leigo e bom observador que a natural geografia da região de Brumadinho foi completamente ignorada pela Vale ao construir restaurante, escritório e vilas em áreas baixas muito abaixo das imensas e altíssimas barragens. Cedo ou tarde essas imensas barragens de lama e rejeitos iriam arrebentar. O epicentro da tragédia, a barragem 1, foi construída em 1976. Nenhum laudo, em sã consciência, pode considerar tecnicamente normal uma barragem de lama e rejeitos com mais de 80 metros de altura, cheia de lama e água até a boca. Uma porcaria de projeto. Uma monstruosidade química contaminante. Após muita pressão popular, da mídia e da justiça, outras monstruosidades serão, dizem tecnicamente, DESCOMISSIONADAS. Tradução livre: desativadas, desmanteladas, desfeitas…

Previsão de Geraldo, 90 anos, sobrevivente e antigo morador de Brumadinho, um ano antes da tragédia:

“Se um dia a barragem romper, tudo isso aqui vai embora, não vai sobrar nada”.

O que preocupa no Amapá, de acordo com o empresário Bruno Cei, são as velhas barragens de rejeitos abandonadas pela Mineradora Zamin, que já foram da Icomi. O descuido com o acúmulo exagerado de minérios, próximo à embocadura do rio, no Porto de Santana,acabou dando em desastre, sim porque a arrebentação das marés fatalmente gera desmoronamento de terra. Cedo ou tarde o desastre iria acontecer e poderia ser evitado, edificando no local obra adequada para estocagem de minério. Temos de ter cuidado com nossas barragens. Nesse perigoso ramo de atividade só se evita desastres e vítimas fatais com estudos e investimentos em obras de segurança.

Beiradão, em Laranjal do Jari, é outro exemplo inadequado de área comercial e habitação. Todo ano aquela área é alvo de enchente do rio Jari e todos sabem que o local seguro para habitação são as partes altas da região.Sinceramente, temos de reaprender com os povos da Idade Média. A regra básica de ocupação de área desses povos era muito simples. Habitação nas partes altas, com construção de castelo e vila nos arredores, e pastoreio, pesca e banho nas partes baixas. De cima se tinha a visão do todo, do tempo, das estações, dos aldeões, das plantações, das colheitas e da proximidade do inimigo. É, temos muito de reaprender com os povos da Idade Média…