Wellington Silva

Em busca do céu


De muito já estavam acostumados com a rotina. Todo dia terrestre era aquela grande leva de almas, algumas em busca de luz, outras perdidas, desorientadas, e outras mais abusivamente soberbas, prepotentes, perversas, arrogantes, sem limite algum em seus atos.

Como observadores deste grande cenário de contrastes de vibrações estavam alguns acadêmicos de luz, ou como se diz aqui na Terra, estagiários, aprendizes, orientados por monitores.
Chamou atenção a chegada de um cardeal e de um importante missionário, pois ambos discutiam pontos divergentes entre a igreja católica e protestante. Cada um achava que tinha mais razão do que o outro, querendo impor seus argumentos. Um experiente anjo se aproximou para encerrar a questão, pois ambos já estavam atrapalhando o natural processo de seleção. Ele fitou os dois com firmeza, e falou:
– Olhem para dentro de si mesmos. Primeiramente vós, senhor cardeal, que seduzia menores ao vosso aposento. Cuidastes das Coisas Sagradas? Não, apenas te aprouve cuidar e atender vícios sem limites! E tu, vil missionário, que acumulou riqueza ilícita e enganou criaturas ingênuas citando as sagradas escrituras. Achavam que não os observávamos? Como ousam aqui tentar persuadir, achando-se superiores aos humildes e aos retos? Em verdade digo a todos vós que aquele camponês é mais digno das honras do céu do que estes dois.Ele semeoua terra com amor para dela retirar o sustento e amou e honrou com especial ternura sua família e seus amigos.

Um silêncio sepulcral tomou conta do ambiente e um grave arrependimento invadiu a alma de muitos. Não havia mais nada a dizer a não ser se penitenciar das grandes faltas cometidas. Passado algum momento, um grande grupo de beatas paramentadas com fitas votivas fez-se notar em meio à multidão, e a mais falante histericamente gritava:
– Dá licença, dá licença, queremos passar porque somos servas de Deus!
Outro anjo se aproximou e falou, observado pelos acadêmicos de luz:
– Aonde as senhoras pensam que vão? Todas são serviçais da discórdia, da infâmia e da calúnia. Ao invés de auxiliarem o próximo destruíram sua moral. Ainjúria sepultou a caridade em vossos corações.

Cada uma delas então relembrou seus atos. Arrependimento, arrependimento, arrependimento! Quanto arrependimento…
Um inteligente acadêmico de luz recentemente chegado observou que o céu com todas as forças de luz era na realidade composta por uma rica diversidade de culturas, etnias, raças, credos.Não havia rivalidades, muito pelo contrário, somente interação, compreensão, integração, busca de conhecimento, aprendizado e muita iluminação. Curioso e surpreso ele pergunta ao anjo mais experiente como e de que forma chegou-se a esse belíssimo resultado se na Terra tudo é sempre tão difícil, e historicamente tanto já se matou em nome da religião. E o anjo excelso de luz assim respondeu:
– Foi tua dor, teus atos e tua fé que te trouxeram aqui. A perda de teus entes queridos, em meios aos escombros da guerra insana, te fez nobre em auxiliar o próximo. Amparastes crianças desamparadas, socorrestes viúvas desamparadas e deste tua vida para que outros pudessem viver. Por isto és nobre para nós. Vedes, o que pregava Moisés, João Batista, o Divino Mestre, Buda, Maomé, o escritor Alan Kardeck e o vidente Chico Xavier e outros profetas a não ser o amor, a tolerância, compaixão, compreensão, retidão, a humildade e a caridade. Combater a intolerância religiosa, os vícios humanos, a soberba, a arrogância, déspotas, tiranos, zombeteiros e espíritos atrasados sem limites ou falta de prática de conhecimento daquilo que é certo e errado é nosso dever eterno.

(Sob a inspiração do povo do Andar de Cima)