Wellington Silva

Empurrado para o crime


Mergulhados em nossos afazeres diários e na correria do cotidiano por vezes não nos damos conta da grandeza histórica, ruim e perversa de um sistema nocivo que drasticamente vem prejudicando nossa juventude e sutilmente empurrando-a para o ócio e, por conseguinte, para o crime. Falo de um conjunto nacional de regras e medidas legais que absurdamente impedem o adolescente e o jovem de trabalhar, produzir, conquistar o pão nosso de cada dia e ajudar sua família.

Diante da dimensão continental de nosso Brasil varonil, com 210.847,062 milhões de habitantes (Fonte: IBGE 2019, última leitura) e um índice percentual de 7,2% de jovens de 15 a 29 anos e de 49,2% de pessoas abaixo de 30 anos, chega a ser espantoso e preocupante a herança de despreocupação de governos passados com o desemprego e com as barreiras de impedimento para uma atividade de trabalho produtiva ao menor de idade. Idealizaram um sistema de dependência, o Bolsa Família, e não se preocuparam com o desemprego e basicamente com a questão do menor, sua ociosidade e sua educação profissionalizante.

Me chamou profundamente a atenção uma narrativa da vida real exposta pelo Repórter Policial Alison Maia,de um garoto de 14 anos, que tinha sido interpelado por ele. Aproximando-se do garoto, o Repórter Policial falou:

– Sai dessa vida rapaz! Você vai morrer! A vida das drogas e do crime não compensa!

O adolescente, que estava caladão, de repente assim se manifestou para expressar sua revolta:

– Seu Alison, esse papo do senhor eu já cansei de ouvir! Estava armado porque vendo drogas e ganho muito fazendo isso. Mas antes de ser vendedor de drogas trabalhava numa oficina! Sabe o que fizeram!? Denunciaram o dono da oficina porque eu estava trabalhando lá. Pô, ele me pagava legal, tinha minhas coisas, meu tênis, tinha tudo! Mas ele teve que me mandar embora para não ir preso. Acho que até hoje ele está respondendo na justiça por ter dado emprego a um menor. Depois fui trabalhar na Feira da Avenida Antônio Sanches. Trabalhei lá sete meses! E sabe o que aconteceu lá? A mesma coisa que aconteceu na oficina! Então tive que sair! Não sei quem é meu pai e minha mãe é uma coitada. Eu tentei, seu Alison, trabalhar honestamente, e até trabalhava e estudava direito, mas não deixaram eu continuar. Achei no tráfico o sustento meu e da minha casa. Então seu Alison, guarde seus conselhos para esses safados que vocês votam e acham que menor não pode trabalhar mas pode roubar, traficar e matar. Entrei nessa vida porque quero um tênis e não posso; quero comer um sanduíche do Bob´s mas também não posso; quero ir no cinema e também não posso! Então, já que não posso trabalhar como gente, vou traficar! Pelo menos assim tenho dinheiro!

E o repórter ficou mudo e saiu calado, reflexivo e impactado pelas fortes expressões do adolescente, um forte choque da vida real.

Aos 16 anos de idade eu já trabalhava e isso não me tirou pedaço algum. Assim como velhos amigos de minha saudosa época de juventude quase todos nós trabalhávamos, estudávamos e andávamos de bicicleta. Em 1983, aos 19 anos de idade, já tinha meu próprio automóvel, um Maverick 6 cilindros.

Se o trabalho dignifica o homem, gera renda e qualidade de vida, o menor brasileiro da atualidade merece um melhor destino, um novo amparo legal trabalhista e total apoio dos setores público e privado. Só assim, unidos, pensando e agindo, conseguiremos mudar o velho e perverso destino de adolescentes que são atraídos para o tráfico de drogas, para o crime e para a barbarie.