Wellington Silva

Hannah Arendt e a banalidade do mal


 

Sem nos darmos conta no tempo e no espaço a gente percebe que boa parte da sociedade mundial aos poucos vai se conformando ou se acostumando com a banalização do mal em todas as suas formas, cores e nuances perversas. Os que por ventura se insurgem contra este mal logo são taxados de loucos, anarquistas e subversivos, por que via de regra a estratégia é exatamente a de desmoralizar e depois esmagar opositores.

 

Obviamente, assim age o movimento bolsonarista no Brasil, o trumpismo nos Estados Unidos da América, Maduro na Venezuela, Putin na Rússia e na Ucrânia e Netanyahu em Israel e Gaza, por exemplo…

 

Eis, senhores, a natureza do pensamento totalitário, qual seja a de total ampliação equalizada e sistemática de sua doutrinação sobre as massas desvalidas e desinformadas.

 

Foi assim com o nazismo na Alemanha, o fascismo na Itália e o franquismo na Espanha!

 

A partir do julgamento do nazista Adolf Eichmann, em 1.961, Hannah Arendt, filósofa e teórica política judaico-alemã, propõe uma séria análise sobre a chamada banalização do mal na sociedade contemporânea.  Em sua avaliação, após observar a frivolidade no depoimento e comportamento de Eichmann, ele afirmando que apenas cumprira com o seu dever, ela concluiu o seguinte:

 

“A maldade não se dá por causa da natureza de caráter ou de personalidade, mas sim pela incapacidade de julgar e conhecer as situações, os fatos, as estruturas e o contexto.”

 

Sempre digo aos amigos e leitores que um bom historiador, assim como um bom advogado, tem a obrigação moral de analisar minuciosamente os fatos pois certamente existe a versão oficial, um lado, o outro lado e os bastidores com novos fatos apresentados. É mister não se deixar levar por influências externas, realizar o estudo comparativo dos fatos e rascunhar seu próprio juízo de valor.

 

A banalização do mal a que Hannah se refere é exatamente a perversa rotina diária de trabalho dos oficiais nazistas. Foi esta cega rotina de cumprimento fiel do dever que fez Eichmann se declarar inocente por diversas vezes dos diversos crimes cometidos.

 

Sua destacada função no Departamento de Segurança de Berlim o tornou grande responsável pela morte de milhares de judeus, ciganos, comunistas, afrodescendentes, gays, lésbicas, crianças autistas e crianças com dificuldades motoras. Ele só foi descoberto em meados dos anos 60 através do serviço de inteligência de Israel, o Mossad, escondido e com identidade falsa na Argentina.

 

É exatamente a partir deste momento de frivolidade nas narrativas de Karl Adolf Eichmann, em seu julgamento em Jerusalém, que Hannah Arendt passa a teorizar sobre a questão da banalização do mal, justamente a pulverização da razão e da coerência do ser humano para dar lugar a bestialidade como algo normal, natural e rotineiro…

 

Hannah nasceu na Alemanha, em 14 de outubro de 1.906. Faleceu em 04 de dezembro de 1.975, aos 69 anos.

 

É autora das notáveis obras:

Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal;
Origens do Totalitarismo: Antissemitismo, imperialismo, totalitarismo;
A Condição Humana.