Wellington Silva

Ivo Canutti


Era um belo dia de sol, manhãs de setembro, meados dos anos 80, e lá estávamos nós, ainda muito jovens, para organizar e realizar a I Ginkana Comunitária e Filantrópica na histórica e memorável sede do Trem Desportivo Clube, local de grandes acontecimentos sociais. Lá estava também o “maduro” e irreverente jovem Gilvan Borges, em seu tradicional Jeep, papeando com a rapaziada na Praça Floriano Peixoto. Era uma turma bacana, sonhadora, cheia de ideias… Gente que sonhava transformar o mundo, e para melhor, em plena guerra fria entre Estados Unidos e a extinta União Soviética e seus satélites, como Cuba.

Penso, atualmente, que lembrar alguém querido não é necessariamente repetir sua biografia, nascimento, vida e morte, mas sim externar para a posteridade os bons e grandes momentos vividos, criados e participados por pessoas queridas.

Radialista Everaldo Dias, cantor e compositor Rambolde Campos, o Professor e desportista Marcelo Gurjão, Professor, poeta e escritor Luís Alberto Guedes, R.Peixe e ele, nosso genial Ivo Canutti, estavam lá, neste memorável e histórico momento de cultura, de fraternidade, de grande solidariedade tucuju. Foi ali que tive a honra e o prazer de conhecer o ainda jovem e já excelente intérprete, Ivo Canutti, amante de um bom samba, fã de Vinicius e Toquinho, Pixinguinha e Noel Rosa, e de todos os bambas da boa Música Popular Brasileira.

Radialista Everaldo Dias comandava o evento, com seu nato talento natural de animador, enquanto que o grande salão da sede do Trem Desportivo Clube estava muito animado, lotado de alunos de diversos estabelecimentos de ensino, professores, artistas, intelectuais da cidade. Foi o melhor evento cultural filantrópico que já tive notícia, dado o grande número voluntário de participantes, e principalmente de resultados em termos de doações de alimentos a famílias carentes. Depois, veio o MOAP, o Movimento Artístico Popular do Amapá, em 1984, sob a liderança de Raimundo Braga de Almeida/R.Peixe, anualmente realizado na Praça da Bandeira. Após a Ginkana, toda a turma abraçou o MOAP, palco revelador de grandes talentos para o jornalismo, rádio, poesia, música, teatro, artes plásticas, escultura, artesanato, dança. No MOAP, Ivo mais uma vez mostra no palco, para o público, todo o seu inegável talento. Estava então em ebulição uma química internalizada dentro de uma grande estrela nascida para brilhar, quer seja na música, no jornalismo ou no rádio.

E brilhou muito!

Em dezembro de 2001, ainda persistentes na filantropia, na solidariedade humana, novamente, nossos caminhos se cruzam, desta vez para solidificar e colocar em prática o projeto intitulado Natal Solidário, Faça Uma Família Feliz, tudo formatado na cabeça do Ivo!

E não mais que de repente, surgiu um nome, inspirado no bom, velho e saudoso MOAP:

MOVIMENTO CULTURAL POPULAR!

E lá fomos nós, percorrer o comércio e ruas de Macapá para recolhimento de donativos diversos tais como roupas, brinquedos e alimentos. Houve momentos em que as caminhadas eram longas, longas horas, e em certo dia, no bairro do Congós, não apareceu ninguém, justamente os voluntários, somente eu e Ivo e o motorista do caminhão de som. Ele, chateado, após muito esperar, falou:

– Cadê o povo!? Falta de solidariedade porra!

Olhei para ele e disse:

– Cara, estamos aqui! Não vou te abandonar!

O Homem lá em cima tudo vê!

Ele olhou, sorriu, olhou para o alto e disse:

– Vamos lá! Nós começamos e temos de terminar!

No final, manhã do dia 19 de dezembro, a rua Mário Cruz, frente a Igreja Matriz de São José de Macapá (1761), foi fechada para a entrega dos donativos que ficaram sob a responsabilidade do Lions e do Rotary Club. Houve show artístico com a participação de músicos amapaenses, poetas, marabaixo, carnaval, etc.

ESSE, ERA O IVO CANUTTI!