Wellington Silva

Mar abaixo…


Como diria o grande e genial Tim Maia:

“ Vamos falar de amor, vamos falar de amor, vamos falar de amor…”

Sim, vamos falar de amor, de amor a nossa terra, nosso povo, nossa gente, nosso Marabaixo, nossa rica identidade cultural.

Marabaixo, palavra de origem afro brasileira que quer dizer mar abaixo, ir mar abaixo…

Inicialmente, lembra tempos outrora do período colonial quando nossos ancestrais foram brutalmente arrancados da Mãe África para logo depois sofrerem as piores humilhações e brutais torturas, acorrentados nos porões de navios escravos, navios comandados por mercenários regiamente pagos pela coroa portuguesa.

A palavra em si, Marabaixo, traduz a lídima expressão de um sentimento, de uma memória oral, quando estes desciam mares e rios em cantorias, mesmo sob açoites, cantando, para tentar esquecer as agruras sofridas…

Arrancados de sua terra, extraídos do solo sagrado de seus pais, avós, bisavós, inesperadamente passam a ser tratados e vendidos pelo homem branco português como animais, quer seja nas feiras livres de comércio, fazendas, engenhos, ou nos canaviais. E, tal qual os índios, nativos de cada região brasileira, são irracionalmente vistos e tratados como seres sem alma, vítimas de zombarias, criaturas desprovidas de inteligência, seres primitivos, de uma cultura primitiva anticristã. Tudo era de comum acordo entre a visão da igreja católica e do poder constituído, da época.

A cruel tentativa, de desconstrução de uma cultura milenar histórica, através da imposição da cultura dominante, resultou na chamada cultura de resistência do povo escravizado. Essa histórica resistência, com toda a sua poética e musicalidade, de culto ao Sagrado, foi passada de geração a geração pelo povo escravizado e acabou gerando o samba, por exemplo, filho pródigo ancestral dos tradicionais batuques tribais dos povos da Mãe África.

De acordo com pesquisas históricas, toda essa rica herança cultural, trazida a nossa região, pode nos levar a época do Governo do Grão-Pará e ao projeto do marquês de Pombal de colonizar (povoar) a Amazônia após dura derrota sofrida na região do Marrocos, de parte das comunidades tribais mouras. Isso nos remete a 1.770 com a chegada a Belém de 340 famílias, vindas da Mazagão marroquina, possessão portuguesa localizada no norte da África.

Em 1773 foi inicialmente providenciada a construção de 56 casas, aqui, na Nova Mazagão, e realizada a transferência de 176 famílias de Belém para o local. Estas famílias trouxeram consigo a tradição do batuque e toda uma tradição de culto ao Divino Espírito Santo, a Nossa Senhora da Piedade e a São Tiago, por exemplo, herança cultural influenciada pela Igreja Católica, na derrotada Mazagão marroquina.

A magia encantadora do Marabaixo, seu ritmo, toques, poética popular, é a edificação histórica de um rico processo ritualístico permeado de rimas, ou versos “ladrões” entoados pelo cantador (a) e acompanhado pelos foliões. Geralmente, eles falam de atos, fatos históricos, acontecimentos sociais, por vezes alegres, e por vezes, tristes, melancólicos…

Em Macapá foi Ladislau, Julião Ramos, João Barcas e depois Gertrudes que fomentaram esta rica manifestação cultural em nossa região.

Salves Mestres Ladislau e Julião Ramos!

Salve Mestre João Barcas!

Salve Tia Gertrudes e Tia Venina!

Salve Tia Biló, Laura do Marabaixo e Verônica do Marabaixo!

Salve, todos os marabaixeiros e marabaixeiras do Amapá!

Viva o nosso Marabaixo!