Wellington Silva

Porque naufrágios ocorrem no Amapá?


Nem é preciso ser especialista em acidentes náuticos ou perito para de bate-pronto logo perceber o que mostra o vídeo amador feito por um tripulante nervoso e preocupado, visto por muita gente de Macapá, da grave fatalidade a porvir com o Ana Karoline III:

Grande lotação de passageiros e excesso do excesso de cargas no porão e corredores, até o teto, quase sem espaço para a tripulação circular, e a água com suas correntezas já dando sinais para invadir e tombar a embarcação visivelmente desequilibrada por toneladas. Lamentavelmente, este era o triste cenário do inevitável sinistro, o que com certeza poderia ter sido evitado se houvesse o mínimo de bom senso, prudência e mais respeito as vidas humanas.

Evidentemente, o excesso do excesso de cargas colocadas no Ana Karoline III são cargas para transporte de balsa e não para uma simples embarcação antiga e mal desenhada para transporte de passageiros. De acordo com levantamento feito, já divulgado na imprensa local, tal embarcação começou a navegar nos rios da Amazônia em 1955, com outro nome do atual: Sobral Santos I.

Pelo visto, continuam mandando sucatas maquiadas para cá, “ guaribadas”, por assim dizer, com pinta de “nuvisco”, não importando o risco que pessoas possam correr nos caudalosos rios da nossa região. Não sabemos que tipo de cálculo fizeram para desenhar tal embarcação, entretanto, qualquer leigo e bom observador pode perceber que o improvisado andar acima, sustentado por um casco inadequado, ultrapassado e “fino”, não possuía capacidade para suportar muito peso e manter nivelamento nas correntezas inconstantes de nossos rios.

Isso está muito claro!

Tem mais:

Infelizmente, num momento delicado como este, pessoas acabam politizando a situação para apontar culpas em quem não tem nenhuma.

O poder público amapaense não deve ser responsabilizado pelos abusos, absurdos e excessos cometidos pelos proprietários e responsáveis diretos pela embarcação, muito menos, pela omissão da fiscalização marítima. Foi assim com Barcellos, em 1981, quando da ocorrência do naufrágio do Novo Amapá, e pelos mesmos motivos e razões óbvias: excesso de lotação, de carga e omissão da fiscalização. Na época, lembro que a situação foi extremamente politizada, acabando por criar uma certa cortina de fumaça sobre os responsáveis diretos e indiretos.

Quanto ao trabalho de içamento do navio muitos concordam que seria mais racional o poder público local, Ministério Público Federal, por exemplo, ter acionado a Petrobrás. A empresa possui equipamentos e know-how suficiente para trabalhos deste tipo e até muito mais complicados, em águas revoltas. Por se tratar de um trabalho altamente emergencial envolvendo famílias e vítimas o custo poderia ser zero para a região.

Agora, espera-se que a empresa responsável pelo Ana Karoline III dê o devido apoio as famílias e depois faça ressarcimento aos cofres públicos do dispêndio de R$ 2,7 milhões, pagos a empresa especializada, para içamento do navio.

Ao encerrar este texto vi fotos de outras embarcações conhecidas que sempre navegam em nossos rios, sempre lotadas de pessoas e carga.

Até quando !?