Wellington Silva

Profissão de fé, identidade cultural e intolerância religiosa


Infelizmente, algumas pessoas se deixam levar pela ignorância e confusão mental através de uma visão radical distorcida sobre o que é profissão de fé e identidade cultural, atitude emocional radical que lamentavelmente culmina no que chamamos de intolerância religiosa.

Profissão de fé é exatamente a nossa crença no Sagrado, em algo Superior a tudo e a todos, naquilo que para nós é Divino, Excelso, Onisciente, Onividente e Onipresente.

Identidade Cultural é exatamente a expressão artística e histórica de um povo ou de uma determinada comunidade. Ela pode se dar através da memória oral ou de registros históricos e por vezes se manifestar em forma decânticos e dança com a utilização de instrumentos harmonizados em ritmos cadenciados, criando assim uma atmosfera nostálgica de memória e respeito a sua ancestralidade.

O processo criativo e ritualístico das danças indígenas e do nosso tradicional Marabaixo, assim como o batuque aos Orixás e aos Guias,herança cultural de resistência e tradição no Brasil, advinda da Mãe África, historicamente e academicamente atualmente são objetos de estudo nas universidades e faculdades públicas e privadas.O batuque afro foi a grande inspiração para a criação do samba, um registro vivo danossa identidade cultural.

A identidade cultural de um povo ou de uma comunidade também pode se dar por outras formas de expressão cultural tais como o artesanato, escultura, pintura, literatura e teatro. A Arte Maracá e Cunani, por exemplo, no campo do artesanato e da pintura, mesclam-se numa beleza ímpar como elementos criativos da ancestralidade paraense e amapaense, ou tucuju. No Nordeste temos a tradicional Literatura de Cordel e toda a genialidade e força da expressão poética e musical de Luiz Gonzaga.

Lamentável é constatar que a ignorância humana não saiba ou não queira separar o joio do trigo, ou seja, visualizar sua profissão de fé de amor ao próximo como função de respeito à identidade cultural de nosso povo, nossos costumes, ritos e tradições seculares.

Todo o universo cultural e processo histórico criativo de matriz africana e ameríndia representam a identidade cultural do Estado do Amapá e no geral do Brasil, quer uns malucos radicais queiram aceitar ou não. Isto está bem explícito na Constituição da República Federativa do Brasil, na Constituição do Estado do Amapá e no Estatuto da Igualdade Racial. O artigo 292 da Constituição do Estado do Amapá, que nada mais é do que uma leitura da Carta Magna do País,é bem claro ao esclarecer que “o Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e o acesso às fontes de cultura nacional, estadual e municipal, protegendo, apoiando e incentivando a valorização e difusão das manifestações culturais, através: III- Da proteção às expressões culturais populares e de grupos participantes do processo cultural.”