Cidades

43 anos depois da tragédia, Memorial às Vítimas do Novo Amapá, nunca saiu do papel

O projeto incluiria construção de um museu, com a desocupação de valas comuns onde há dezenas de corpos de vítimas do naufrágio


 

Renivaldo Costa
Especial para o Diário

 

Quarenta e três anos após o sinistro, o naufrágio do barco Novo Amapá segue como a maior tragédia fluvial da América Latina. Foram mais de trezentos mortos, número superior ao rompimento da barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho, Região Metropolitana de Belo Horizonte, que ocorreu em 25 de janeiro de 2019, despejou mais de 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração na bacia do rio Paraopeba e deixou 270 pessoas mortas.

 

Nos sites de pesquisa que utilizam inteligência artificial, é a tragédia de Brumadinho mencionada como a maior das tragédias fluviais. É que as vítimas e sobreviventes do Novo Amapá vão sendo esquecidas ao longo dos anos.

Em 2013, quando o naufrágio completou 32 anos, houve uma frustrada tentativa de deixar para a posteridade aquela maldita lembrança, por meio de um memorial aos mortos.

 

O projeto foi do arquiteto Wandemberg Gomes. “Apesar de ter estudado por um pouco mais de cinco anos minha graduação em arquitetura inteira em Santana, não tive a oportunidade de propor algo para o município, mas ao fim do ano de 2013, fui convidado a elaborar um conceito para intervenção urbana naquela cidade. Um Memorial às vítimas do acidente com o Novo Amapá foi o tema a ser trabalhado. A ideia, com sutileza, sobriedade e simplicidade era sintetizar quatro conceitos: a Interrupção, a Despedida, o Templo e a Ascensão para homenagear os que partiram”, explica o autor do projeto.

As obras deveriam começar em agosto de 2014, mas nunca saíram do papel. O projeto incluiria construção de um museu, com a desocupação de valas comuns onde há dezenas de corpos de vítimas do naufrágio. No local teriam as fotos e restos mortais das vítimas, além de documentos e objetos que marcaram o naufrágio.

 

O senador Randolfe Rodrigues chegou a destinar uma emenda de R$ 250 mil para a construção, mas a Prefeitura de Santana acabou perdendo o recurso. “Na hora de confecção da emenda, para colocar no orçamento da União a proposta de construção do Memorial, houve um erro da comissão e foi colocada para o Fundo Nacional de Saúde. Com isso, detectou-se um impedimento técnico e o recurso foi perdido”, lembra o ex-prefeito Robson Rocha.

A assessoria de comunicação do senador Randolfe Rodrigues contestou à época a informação e disse que não houve erro no momento da elaboração da emenda. O que teria ocorrido é que a proposta da Prefeitura de Santana não foi aprovada, por não seguir os padrões exigidos pelo Ministério da Cultura.

 

Há alguns anos, houve uma tentativa de ressuscitar o projeto do Memorial e novamente alocar os recursos, mas houve manifestação contrária de algumas famílias, pois isso implicaria desocupação de valas comuns onde há dezenas de corpos de vítimas do naufrágio, a maioria sem identificação. É que quando os corpos começaram a chegar no Porto de Santana, o estado de decomposição era avançado, o que impossibilitou o reconhecimento das vítimas.

 

À época, a Capitania dos Portos havia registrado cerca de 150 passageiros, conforme lista cedida pelo despachante do barco. Segundo o inquérito marítimo nº 22.031, do Departamento Regional da Marinha no Pará, a embarcação tinha 25 metros de comprimento com suporte para transportar no máximo quatrocentas pessoas, e meia tonelada de mercadoria. No entanto, ela teria partido do Porto de Santana com mais de seiscentos passageiros e quase uma tonelada de carga comercial. (Colaborou com informações: Abinoan Santiago)

 

 


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