Abandonada, sede da UNA, no Laguinho, está completamente tomada pelo mato
População reclama da omissão dos dirigentes da entidade, que congrega o segmento afrodescente do estado

Atendendo a reclamações de moradores do Bairro Laguinho, a reportagem do programa LuizMeloEntrevista (DiárioFM 90.9) esteve nesta segunda-feira (17) na sede da União dos Negro do Amapá (UNA), localizada na Avenida José Antônio Siqueira esquina com a Rua Eliezer Levy e constatou um cenário de omissão, que está causando a destruição de um dos mais imponentes e importantes patrimônios culturais do estado.
Morador do bairro, o professor Carlos Eduardo Antunes desabafou: “Esse importante patrimônio cultural está sendo destruído por causa da omissão do próprio segmento afro, e principalmente pela omissão dos seus dirigentes, tanto que está totalmente tomado pelo mato e pela ação de vândalos, que estão destruindo a sede; a omissão é tanto, que na realidade nem sabemos quem é o atual presidente, por o Yuri, que foi eleito, teve a sua vitória contestada na justiça por suposta fraude no processo eleitoral”.
A reportagem constatou, ainda, a existência de três outdoors de propagandas de grandes empresas no interior da área da entidade, num contraste entre a paisagem do local e os produtos divulgados: “Esses três outdoors mostram que de alguma forma existe receita, porque essas propagandas não são feitas de graça, o espaço é alugado. O dinheiro poderia ser usado pelo menos para pagar a conservação do prédio e da área”, comentou outro morador.
“Problema crônico”
Ouvido pela bancada do programa, por telefone, o jornalista Heraldo Almeida, editor de cultura do jornal Diário do Amapá, que é morador do Laguinho, reclamou que a UNA se tornou “um problema crônico”. Segundo ele, a falta de união do segmento e o envolvimento de dirigente com política partidária desvirtuou os objetivos e as ações da entidade.
“Esse problema existe há vários anos, um problema crônico; nós sabemos que aquele espaço passou a ser negociata de cargos políticos, e a entidade só funciona nos meses de novembro, durante a Semana da Consciência Negra; o movimento negro não consegue fazer aquele patrimônio funcionar porque foi envolvido com política partidária; o prédio está sem energia elétrica a mais de 10 anos por falta de pagamento; é uma pena que aquele espaço belíssimo, que deveria ser palco para grandes acontecimentos culturais, contemplando não apenas o segmento afro, como a cultura como um todo está abandonado. O interessante é que quando se inicia uma discussão sobre a entidade as pessoas aparecem as pessoas, mas fora isso todos silenciam e absolutamente nada de positivo acontece e não surge nenhum movimento para resgatar a UNA.
Segundo o jornalista, o Poder Público também tem sua parcela de responsabilidade: “É lamentável esse estado de coisas; são décadas de retrocessos; o atual presidente, cuja eleição está judicializada, mas ele se mantém no cargo, o Yuri, brigou com a secretária Núbia, mas depois ganhou um cargo na Seafro e ficou calado. Eu falei com a secretária Nubia sobre a situação da UNA e ela me falou que está mobilizando a comunidade para discutir a situação da entidade, inclusive propondo um calendário de eventos permanentes; para isso, porém, é preciso primeiro resolver o problema da conta da luz, que é de cerca de R$ 700 mil”.
Resgate do patrimônio
Acionada pela produção do programa, também por telefone, a titular da Secretaria Extraordinário de Afrodescendentes (Seafro) Núbia Souza anunciou várias medidas para resolver os problemas da UNA, a começar pela limpeza da área interna e, em seguida, fazer o resgate da entidade como patrimônio cultural do estado, com a participação da iniciativa privada nesse projeto.
“Eu aproveito a oportunidade até para pedir desculpas pelo governo do estado ainda não ter dado uma resposta à altura como ente, mas é importante frisar que pessoalmente, como afrodescendente, estou trabalhando para resolver o problema; não é fácil, não quero culpar ninguém, porque o mais importante é arregaçarmos as mangas e trabalhar; nesta semana vamos fazer um mutirão, até eu vou pra lá com minha roçadeira, vamos deixar tudo limpinho; o grande complicador é que a UNA precisa ter orçamento; uma emblemática grande é o débito com energia; outro ponto é o funcionamento, por não há como manter um projeto permanente sem o envolvimento e a participação de todos, inclusive da iniciativa privada”.
De acordo com Núbia já tratativas com um empresário nesse sentido: “Nós estivemos recentemente em Oiapoque e falamos com um empresário que conhece várias ONGs (Organizações Não Governamentais) que apoiam projetos afrodescentes, e vamos discutir essa questão numa grande reunião nesta terça-feira (18) com lideranças de várias comunidades, representantes dos ‘Piratinhas’, do Banco da Amizade e com participação de vários segmentos pra gente começar a trabalhar e dar apoio à entidade; enquanto a justiça não resolve a validade ou não da eleição o Yuri é o presidente, ele assumiu, está fazendo que pode, mas temos que reconhecer que sem apoio ele não pode trabalhar se não tem um orçamento.
Questão energia
A secretária revelou, também que a dívida da UNA com a CEA (Companhia de Eletricidade do Amapá) pode solucionada com brevidade: “O débito é de mais de 10 anos e pela lei do consumidor, a dívida além de cinco anos é inexistente; chamei companheiros para contestar uma ação que já existe na justiça, movida pela CEA, para que essa dívida seja abatida. Também já estamos trabalhando num projeto inovador para a instalação de iluminação pública na área da UNA, e para a consolidação desse projeto também pedi a ajuda de vários companheiros, inclusive do Heraldo Almeida”.
Ao finalizar, Núbia Cristina negou que o atual presidente da UNA tem cargo comissionado na Seafro: “Quero esclarecer, por oportuno, que o Yuri não tem cargo comissionado na secretaria, não tem nomeação; ele é um técnico da Seafro, e independentemente de posições antagônicas passadas ele está dando a sua contribuição para o segmento de afrodescentes do Amapá”.
Deixe seu comentário
Publicidade
