Doença da urina preta: médica veterinária esclarece dúvidas e tranquiliza população
Mesmo sem casos suspeitos no estado, a situação tem afetado diretamente pescadores, feirantes e verdureiros, que observam quedas de até 90% nas vendas.

Railana Pantoja
Da Redação
Desde que casos da Síndrome de Haff, conhecida popularmente como doença da urina preta, foram registrados em municípios do Amazonas e Pará, a população amapaense passou a ter medo de consumir pescado.
Mesmo sem qualquer caso suspeito no estado, a situação tem afetado diretamente pescadores, feirantes e verdureiros, que observam quedas constantes nas vendas. Feirante há 12 anos e trabalhando na Feira Maluca, ‘Irmão Júnior’ relata que percebeu queda de até 90% no movimento, inclusive, tendo que jogar fora pescado que está estragando. “Uma queda de 80 a 90%. Nunca, em 12 anos vendendo peixe, eu precisei jogar produto fora. Mas, nestes dias estou jogando, tiver que jogar fora para não armazenar peixe estragado”, lamentou.
Dra. Marcela Videira, vice-reitora da Universidade Estadual do Amapá (Ueap), é médica veterinária e bióloga licenciada com mestrado e doutorado em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários, com ênfase em saúde de animais aquáticos. Ela esclareceu algumas dúvidas sobre a síndrome. “Existem várias doenças relacionadas ao pescado, existem bactérias, vírus, fungos, vermes. Mas falando da síndrome de Haff, o que se sabe até agora é que a causa é uma toxina biológica. Seria algum componente produzido, de repente, por algas que o peixe consome em ambiente natural. Então, seria uma toxina do ambiente natural do peixe. O problema é que essa toxina biológica ainda não foi isolada”, explicou a médica veterinária.
Segundo a pesquisadora, ainda não está claro se todas as espécies de peixe podem ser contaminadas. “Devido ao consumo elevado de tambaqui, pirapitinga e pacu aqui, no Amazonas e no Pará, os casos foram descritos relacionados principalmente a esses peixes, de ambiente natural. Não significa que com outras espécies não possa ocorrer”, frisou.
Outra dúvida comum diz respeito aos peixes criados em viveiros, se estes também estariam sujeitos à contaminação. Além disso, questiona-se o contágio entre espécies. “No ambiente de cultivo, existe maior controle na alimentação dos peixes e na qualidade da água, e dificilmente se utiliza alimento biológico. Então, é mais difícil esses peixes de viveiro terem contato com toxina biológica. Lembrando que essa toxina se aloja dentro das células do peixe, então, por contato, não é possível passar. Não é uma doença contagiosa de peixe para peixe, e nem de indivíduo para indivíduo”, esclareceu.
Em relação aos sintomas, Dra. Marcela também cita os mais comuns relatados, que não são sintomas exclusivos da doença da urina preta. “A síndrome tem uma conjunto de sintomas, dentre eles, a rabdomiólise, que é justamente a degradação das células musculares. Então, surgem as dores musculares, endurecimento da musculatura e, pode vir acompanhada ou não, da urina preta. Essa urina é escurecida porque tem restos de degradação dos músculos, logo, o indivíduo precisa eliminar”, detalhou.
Dra. Marcela Videira encerra tranquilizando a população, já que o Amapá não tem registro de casos suspeitos e nunca teve. “Não há motivo para pânico, a síndrome de Haff tem baixa letalidade e baixa ocorrência. Então, fiquem tranquilos e continuem consumindo nosso pescado amazônico”, finalizou Marcela Videira.
https://youtu.be/iMv7XYDD8Z4
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