Cidades

Luta de castanheiros para se libertarem da tutela de grandes comerciantes

Antes da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Iratapuru uma saca da castanha-do-pará ou do brasil com 60 quilos era trocada por apenas uma lata de leite em pó


 

Evandro Luiz
Da Redação

 

A Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Iratapuru é uma Unidade de Conservação de Uso Sustentável criada com o objetivo de promover a preservação e o uso responsável da biodiversidade. É uma das áreas mais importantes para a conservação da Amazônia. Foi instituída em dezembro de 1997, abrangendo uma área de 806.184 hectares distribuídos entre os municípios de Laranjal do Jari, Pedra Branca do Amapari e Mazagão.

 

Cerca de 150 famílias residentes no entorno, distribuídas em sete comunidades, utilizam a RDS em atividades extrativistas, principalmente na coleta da castanha-do-pará ou do brasil e do breu-branco. Além disso, essas populações praticam a caça e a pesca de subsistência no interior da unidade.

 

Os frutos da castanha, conhecidos como ouriços, podem pesar até 1,5 kg e conter aproximadamente 25 sementes ricas em vitaminas, lipídios e proteínas. A safra ocorre anualmente, durante o período chuvoso, de outubro a abril, quando os frutos caem naturalmente. O contato com o solo e a presença de umidade contribuem para a contaminação por fungos produtores de micotoxinas indesejadas nas castanhas.

 

A castanha é um fruto emblemático da Amazônia, proveniente da árvore Bertholletia excelsa. A castanheira chama a atenção por sua beleza e grandiosidade: pode atingir até 50 metros de altura e simboliza a resistência e a biodiversidade da floresta amazônica. Ao longo da história, tem desempenhado importante papel cultural e econômico para as comunidades indígenas e ribeirinhas da região. Desde tempos imemoriais, esses povos colhem e consomem a castanha, utilizando-a como fonte vital de nutrição e renda.

 

 

A luta dos castanheiros para se libertarem da tutela dos grandes comerciantes foi longa. Para se ter ideia do nível de exploração, uma saca com 60 quilos do fruto era trocada por apenas uma lata de leite em pó. A situação começou a mudar com a criação da Cooperativa dos Extrativistas do Rio Iratapuru, que rompeu com o cartel que controlava o comércio da castanha na região.

 

Na década de 1990, com a cooperativa, já estruturada e com apoio do governo da época, foi construída uma fábrica de beneficiamento da castanha. Nela eram produzidos biscoitos, óleo de cozinha, farinha e também a amêndoa desidratada. Entretanto, seis meses após sua inauguração a fábrica foi destruída por um incêndio criminoso, confirmado pela Polícia Técnica do Amapá.

 

Apesar do golpe, novas perspectivas surgiram. Empresas que começavam a investir em produtos de origem sustentável viram na Cooperativa de Iratapuru uma oportunidade de parceria. Além da compra dos produtos, essas empresas passaram a valorizar o acesso aos conhecimentos tradicionais, acumulados ao longo de séculos pela população ribeirinha.

 


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