Macapá no tempo em que o verde era essencial no sonho da cidade
Divergências políticas acabaram impedindo que a capital macapaense se tornasse local da maior cobertura vegetal urbana da Amazônia

Evandro Luiz
Da Redação
Quem passa hoje pelo centro de Macapá ainda sente a presença marcante das mangueiras que deram identidade à cidade.
As árvores, de copas amplas e frondosas, são herança de um projeto idealizado na década de 1940, quando o então governador do território federal território do Amapá, Janary Nunes, decidiu transformar o cenário urbano da jovem capital.
Naquele tempo, Macapá era pouco arborizada. Os moradores, por tradição, costumavam plantar árvores frutíferas nos quintais — taperebá, mucajá, coqueiros, cajueiros e gravioleiras eram as mais comuns.
Foi durante uma visita ao vizinho estado do Pará que Janary Nunes conheceu uma árvore vigorosa, nativa do sudeste da Ásia e considerada uma das maiores frutíferas do mundo: a mangueira, capaz de ultrapassar os 30 metros de altura.
Convencido de que ela seria perfeita para o clima quente e úmido da região, o governador não teve dúvidas: Macapá deveria se tornar uma cidade sombreada por mangueiras.
Nascia, assim, a lendária ‘Turma do Buraco’, formada por estudantes recrutados nas escolas públicas para executar um trabalho de arborização que marcaria a história da capital.
Os jovens, com apoio do governo e incentivo financeiro da Prefeitura Municipal de Macapá — uma espécie de bolsa —, saíram às ruas com pás e enxadas. O resultado logo se fez notar: praças e avenidas ganharam nova vida.
Entre os primeiros locais contemplados estavam as praças Barão do Rio Branco, da Matriz, Nossa Senhora da Conceição e da Bandeira. As principais vias do centro — como Iracema Carvão, avenida FAB, Presidente Vargas e General Rondon — também receberam o plantio.
O projeto deu certo. Décadas depois, as mangueiras continuam ali, oferecendo frutos e sombra a quem busca refúgio do calor intenso sob suas copas generosas.
Mas o sucesso da iniciativa não durou muito tempo. Divergências políticas entre gestores municipais e territoriais acabaram encerrando o projeto, que poderia ter colocado Macapá entre as cidades amazônicas com maior cobertura florestal urbana.
Hoje, a capital vive outro momento. O crescimento desordenado, a construção de condomínios populares e a introdução de espécies estrangeiras como ornamento urbano estão modificando a paisagem e distanciando Macapá de suas origens.
Ainda assim, as velhas mangueiras resistem —, silenciosas testemunhas de um tempo em que o verde era parte essencial do sonho de cidade.
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