Médico afirma que 1ª dose da vacina não garante imunidade
Dr. Pedromar Valadares respondeu diversas perguntas e questionamentos durante o programa LuizMeloEntrevista ( Diário 90,9FM). Entre outros temas, ele afirmou que a primeira dose da vacina não garante imunidade da pessoa vacinada.

Lana Caroline
Da Redação
Na manhã desta sexta-feira (26), durante entrevista ao programa LuizMeloEntrevista (Diário 90,9FM) o presidente do Comitê de Enfrentamento ao Coronavírus no Amapá, Dr. Pedromar Valadares, esclareceu diversas dúvidas sobre a cepa do novo coronavírus que circula no estado. Ele também tratou sobre o processo de vacinação e outros temas relevantes envolvendo o vírus que já matou mais de 1,2 mil pessoas no Amapá.
Diário: Fui vacinado com a primeira dose, mesmo assim posso ser infectado e transmitir o coronavírus?
Pedromar: Infelizmente, sim. A primeira dose da vacina não garante imunidade, ou seja, o fato de a pessoa estar vacinada não significa que ela esteja imediatamente imune. Uma coisa é a gente tomar a vacina, outra coisa é esperar a reação do corpo produzir defesas contra o vírus. A gente ainda não sabe quem vai ter essa proteção, mesmo com as duas doses. Por exemplo, a segurança é quando a vacina causa menos reações, a eficácia é quando ela funciona e produz defesas no organismo contra o vírus. A vacina, de caráter emergencial, tem uma função, que é produzir uma proteção coletiva, ou seja, se a pessoa tomar está 100% protegido? Infelizmente não, mas a coletividade está mais protegida de ter casos graves e necessitar de leitos de internação ou de UTI. Tomou a vacina? Mantenha todos os cuidados.
Diário: A pessoa se considera imunizada com as duas doses?
Pedromar: Todos os estudos e, principalmente das vacinas que temos disponíveis aqui, foram feitos analisando o pós segunda dose. Não há estudos mostrando eficácia com apenas uma dose. No geral, a pessoas tem menos risco de ter casos graves, o que diminui a pressão do sistema hospitalar e consequentemente diminui a quantidade de pessoas ocupando leitos do hospital.
Diário: Como se prevenir da nova cepa se ela não demonstra muitos sintomas?
Pedromar: A gente tem que orientar a população de que, nos primeiros sintomas, deve-se procurar ajuda médica. As pessoas devem se proteger, evitar de se expor. Elas devem abrir as janelas de casa, evitar ambientes fechados com aglomeração e, principalmente, usar máscaras sempre e corretamente.
Diário: Quando uma pessoa infectada, sem saber que está contaminada, é vacinada, o que pode acontecer?
Pedromar: Nós estamos observando pessoas evoluindo com sintomas após a vacina. Se ela estava sem sintomas antes de tomar a vacina, precisa ser registrado para ser acompanhado pela equipe de imunização. É necessário procurar um médico para saber se essa reação é da vacina ou da doença. O indiciado é a pessoa que está com algum sintoma evitar a vacina. Até descartar essa dúvida, não tome. Por isso é importante a triagem desse paciente. A entrevista é fundamental para o profissional identificar se aquela pessoa apresenta algum sintoma antes da aplicação.
Diário: Quanto ao uso de bebidas alcóolicas, existe algum prazo pré e pós vacinação para suspender a ingestão?
Pedromar: Ingerir bebidas alcoólicas em grande quantidade pode diminuir a imunidade, pois pode afetar o fígado e trazer consequências mais graves. O organismo fica mais vulnerável. Na questão da vacinação, há estudos que falam que não existe problemas, mas tem outros que recomendam entre 48h, 72h, em uma semana. A recomendação é a ponderação. Não beba bebidas alcoólicas na semana que tomou a vacina.
Diário: O que se sabe sobre a nova cepa da Covid-19? Essas vacinas têm eficácia para combater a nova variante?
Pedromar: Alguns estudos preliminares sugeriram que não. Foi feita na África do Sul uma análise de casos em que a vacina da AstraZeneca (Oxford), não estava sendo eficaz contra a variante de lá. Isso gerou, durante um período, a suspensão da vacinação naquela região. Aqui, segundo as normas do Ministério da Saúde, da Anvisa e do Plano Nacional de Imunização (PNI), em nenhum momento foi orientado retroceder com a vacina por causa desse ponto de interrogação que na verdade não está completamente respondido. Nós vamos precisar de mais tempo de estudo para mostrar realmente uma eficácia. Saiu recentemente um estudo sugerindo que há cobertura sim e que os vacinados não tiveram quadros graves.
Diário: Apesar de tomar as duas doses da vacina, assim como pode ou não se transmitir a doença, os efeitos do vírus podem ser mais leves, também, em outra pessoa?
Pedromar: Não necessariamente, pois cada organismo reage de maneira diferente quando o vírus entra no corpo da pessoa. Cada indivíduo tem uma genética diferente, um sistema imunológico que reage de maneira diferente. Essa leveza dos sintomas nessas pessoas que foram vacinadas serve para ela própria. A pessoa que não foi vacinada pode desenvolver o quadro grave da doença do mesmo jeito.
Diário: Por que os recém-nascidos estão sendo contaminados?
Pedromar: O fato é que aumentou o contágio em todas as faixas etárias, inclusive, entre os recém-nascidos. Neste momento não chega a ser um aumento grave e preocupante, mas se deve manter vigilante o tempo todo.
Diário: O lockdown seria ou ainda é uma forma de tentar frear a proliferação do vírus?
Pedromar: Esse é um ponto de interrogação maior ainda. Existem estudos que mostram que existe a diminuição de casos quando se tem menos circulação de pessoas, mas é tudo muito empírico. O ideal seria, na minha avaliação, que as medidas anteriores tivessem funcionado. Na verdade o lockdown nunca foi considerado como primeira opção pelo Comitê Médico.
Diário: O país está sendo incompetente nessa gestão de crise?
Pedromar: Em uma situação dessa [pandemia], que é novidade pra todo mundo, não há um fator ou uma única pessoa que seja responsável por isso. Existe um conjunto de fatores que deixou a humanidade de joelhos. No Amapá, nós mais acertamos que erramos. Aqui estamos fazendo uma contenção de danos, pois é isso que devemos fazer. No país há uma situação de colapso por vários fatores.
Diário: Se diminui a proteção para os fumantes?
Pedromar: Com certeza. Os fumantes já correm um risco de ter um processo inflamatório no pulmão. A nicotina diminui a proteção e impede que o órgão faça aquela autolimpeza. Consequentemente, quem fuma já tem um pulmão comprometido. Imagina se uma pessoa fumante pega a nova variante? Infelizmente tem maiores risco.
Diário: Infectologistas apontam riscos para o fígado com o uso do ‘kit covid’. Ainda continua sendo receitado esse tratamento?
Pedromar: Na medicina não existe uma verdade absoluta. Estamos diante de uma doença que tem 1 ano de existência. Nosso presidente [do Conselho Federal de Medicina]foi muito feliz em uma entrevista defendendo a autonomia médica e dizendo de maneira muito clara e nítida que existem estudos que mostram benefícios com o tratamento precoce e existe estudos que não mostram benefícios com tratamento precoce. Isso, na medicina, é normal. A realidade do sistema público de saúde sempre foi de colapso.
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