Cidades

Movimento LGBTQIA+ se insurge contra declarações de ‘gayzismo’ de Sueli Pini

Desembargadora usou expressão durante entrevista no último sábado (24) ao programa Toga&Becas, para declarar ser contrária aos homossexuais.


Lana Caroline
Da Redação

 

Os declarações feitas pela desembargadora aposentada do Tribunal de Justiça do Amapá (Tjap), Sueli Pini, durante entrevista no último sábado (24) ao programa radiofônico Togas&Becas (Diário 90,9FM), sobretudo, relacionadas à comunidade LGBTQIA+, a quem ela se declarou contrária ao que classificou como pregação do ‘gayzismo’, gerou reação imediata do Conselho Estadual LGBT do Amapá. A entidade emitiu uma nota de repúdio contra as declarações da ex-integrante da Corte do Tjap.

Durante entrevista no início da noite desta segunda-feira (26) ao programa Café com Notícia (Diário 90,9FM), André Lopes e Brian Marques, que integram o Conselho LGBT, se manifestaram de forma incisiva contra as declarações, que eles entendem como um ataque de Sueli Pini.

“Em 2015, a então desembargadora, no momento em que o Estado brasileiro reconhece a união estável entre pessoas do mesmo sexo, reconhece um direito que para nós foi negado por muito tempo, ela faz uma fala extremamente plausível ao nosso segmento. Agora, no último sábado, ela produz uma fala totalmente agressiva. Eu acredito que nada mais é que o oportunismo de oratória. Naquele momento [2015] o Tribunal de Justiça, o Supremo e o CNJ garantem direitos. E, hoje, temos um discurso totalmente conservador, extremamente negacionista e a desembargadora [aposentada] toma uma decisão que vai contra tudo aquilo que ela pregou no passado. Lembro que tive uma reunião com ela na presidência do Tjap, de forma amigável, e a mesma disse que, inclusive, iria construir um grupo de trabalho para trabalhar a LGBTfobia dentro do Tribunal. Agora, nos deparamos com uma fala que para nós é um ataque”, disse o ativista André Lopes.

Ele lembrou que Sueli Pini, ao fazer as declarações, se esqueceu da própria luta e da discriminação sofrida, por ser mulher, ao longo da carreira na magistratura até ingressar no desembargo.

“Ela agride a população LBGT e até mesmo a própria biografia. Ela foi a primeira desembargadora, ela furou a ‘bolha’, e sabe o quanto sofreu discriminação por ser mulher. Ela deveria, no mínimo, ser sensível à nossa pauta. A fala que mais me marcou dela foi: – eu estou cansada! Cansados estamos nós. Estamos cansados de lutar pelo simples direito de querer amar pessoas iguais a gente. A escola ainda não nos respeita. Travestis e transexuais estão fora da escola motivados pela transfobia. Quem está cansado somos nós, desembargadora. A mesma justiça que a senhora fez parte é a mesma que criminalizou a LGBTfobia, então, não cabe, depois que a senhora sai do desembargo, que guarda a toga, atacar um segmento que há mais de 70 anos luta pela dignidade, pelo direito de existir, pelo direito ao trabalho, pelo direito de não sofrer violências psicológicas, morais, físicas. Repito, em 2015 ela disse que o casamento homoafetivo não deveria ficar à margem da sociedade. Agora renega tudo isso, renega uma pauta que o Constituinte versou. Então, merecemos respeito”, complementou

Andre Lopes declarou ainda que Sueli Pini, por muito tempo, foi vista como referência no processo que abriu caminhos dentro da magistratura e do desembargo.

“Essa senhora, por muito tempo, foi uma referência para todos nós. Hoje, infelizmente, joga sua história no lixo, conseguindo desqualificar uma biografia linda que teve, conseguindo construir projetos lindos, como a justiça itinerante. Infelizmente, nesse sábado, jogou tudo isso na lata do lixo da história”, concluiu.

O Conselho Estadual LGBT do Amapá, antes, já havia emitido uma nota de repúdio sobre as declarações de Sueli Pini. No documento o conselho diz, resumindo, que:

“As declarações atingem frontalmente os direitos adquiridos da população LGBTQIA+, além de desqualificar a luta organizada para a promoção e defesa dos nossos direitos”.

A nota lembra que as pessoas homossexuais não são inferiores e muito menos segregadas:

“É um absurdo entender que as relações conjugais homoafetivas devem ficar à margem e na informalidade. Não há união mais profunda que o casamento e ele deve ser possível para todos os cidadãos desimpedidos, sem discriminação. Os homossexuais não são classe de pessoas inferiores e segregadas. A sociedade não é estática. Ao contrário, é dinâmica e em permanente mudança”.

 

E prossegue:

“É muito importante saber que o Judiciário é protagonista desse momento juntamente com esses casais. A cerimônia é civil e o Estado, bem sabemos, é laico. Assim, respeitando as posições de cunho religioso, espera-se, igualmente, o respeito ao direito dos homossexuais de serem abrigados no âmbito do Direito de Família, e não apenas no campo do direito obrigacional, como era o arranjo anterior”.

 

Ao fim da nota o conselho descreve:

“Por fim, informamos que adotaremos as medidas cabíveis para responsabilizar todos aqueles que acharem que podem livremente ofender os direitos da população LGBTQIA+ amapaense. ” 


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