“Não vou deixar de voar, isso está no meu sangue, é minha paixão”, diz Gabriel Serra, um dos sobreviventes da queda de helicóptero
Com exclusividade, o mecânico assegurou que pretende continuar na profissão

Elen Costa
Da Redação
Em uma conversa exclusiva com a nossa equipe, na tarde desta segunda-feira, 21, o mecânico Gabriel Silva Serra, de 35 anos, um dos sobreviventes da queda do helicóptero, na Floresta Amazônica, no Amapá, falou sobre os minutos que antecederam o acidente e detalhou o que fez durante os três dias que ficou na mata.
“O piloto me informou que estávamos com perda de rotação e que precisávamos pousar. Procuramos um lugar apto para que pudéssemos ficar e que tivesse água. Foi tudo muito rápido, coisa de segundos. Quando escolhemos a área, já descemos, sentimos o baque e vimos as folhas na blex da aeronave. A nossa preocupação era o engenheiro, porque vimos que ele havia batido a cabeça. Foram dias bastante apreensivos, porém, tivemos que manter a calma para poder sobreviver. Nosso pensamento estava na sobrevivência. Montamos o acampamento para ficarmos seguros, fizemos a fogueira com pedaços de paus e folhagens seca em um local de fácil localização, para usarmos no momento certo”, disse Gabriel.
O mecânico contou que ele e o tenente coronel da PM de Brasília, Josilei Gonçalves de Freitas, agiram sempre com muita calma, para tranquilizar José Francisco Pereira Vieira, da Funai. Gabriel revelou, também, que confiou todo o tempo na experiência do piloto.
“Nunca se passou pela minha cabeça que não iríamos conseguir. Eu sempre confiei na experiência e nos conhecimentos do comandante. Ele foi muito pró-ativo, analisou toda a área”, ponderou.
Sobre alimentação, o sobrevivente, que é natural do estado de Minas Gerais, explicou que eles tinham alimentos que levaram para a aldeia indígena. Sem saber quanto tempo passaria na floresta, os mesmos regraram comida.
“Tínhamos arroz e linguiça calabresa. Então, peguei uma chapa do próprio helicóptero e fiz uma espécie de panela. Não foi necessário buscar nenhum alimento na floresta”.
Gabriel navegou cerca de 12 horas pelo rio em busca de ajuda. O treinamento militar de sobrevivência que recebeu quando estava na Força Área Brasileira (FAB), foi fundamental para mantê-lo vivo.
“No primeiro dia, como não vimos nenhuma aeronave fazendo busca visível, construí uma jangada com um colchão inflável e a tampa do bagageiro da aeronave. Fizemos um cálculo e chegamos à conclusão que minha estatura e meu peso facilitariam para ter uma locomoção segura. Percorri cerca de 24 quilômetros pelo rio. Fiquei de 8h até às 15h navegando, com bastante obstáculos, como troncos, sempre atento na água por causa de bichos, como sucuri ou jacaré. Só que o colchão furou, tentei fazer outra jangada e não deu certo. Cheguei a caminhar por 20 minutos, mata adentro, mas notei que ela ficava cada vez mais fechada, então parei para economizar energia, adormeci e pernoitei onde eu estava, distante dos outros dois. Ao amanhecer, fiz uma nova jangada com bambu e cipó. Usei os próprios pés para fazer como se fosse um motor de popa, remei por seis horas até chegar em uma pedra onde percebi que seria mais fácil alguém me ver ali, e foi isso que aconteceu. Logo, vi o CASA, o avião da Força Aérea, circulando a região mais de uma vez e entendi que eles haviam localizado o piloto e o engenheiro”, esmiuçou Gabriel, que fazia print da localização a todo momento para que, caso conseguisse sinal, a enviasse.
Para uma possível comunicação, Gabriel amarrou a antena do rádio comunicador da aeronave em um arame e a jogou para cima das árvores. Isso fez com que o comandante conseguisse fazer contato com a tripulação do avião de resgate.
Perguntado se em algum momento teve medo e pensou em desistir de voar, o mecânico garantiu que não.
“Sempre tive esperança. O medo nos causa insegurança e faz com que deixemos de fazer muita coisa. Então, eu tinha a segurança, a certeza que veria meus familiares novamente. Isso foi meu combustível para me esforçar em estar num local seguro para ser encontrado. Eu não pretendo deixar de voar, é algo que está no meu sangue, é minha paixão. Estudei pra ser mecânico de aviação e ficarei na profissão até o último dia da carreira ou até quando for da vontade de Deus na minha vida”, assegurou Gabriel, que chegou a ser levado para o CTI, após ter tido uma convulsão por desidratação e por causa do esforço físico.
A aeronave da empresa Sagres, contratada pelo Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) do Amapá e Norte do Pará, decolou por volta das 12h de quarta-feira, 16, da base Bona, na aldeia Maritepu, localizada no Parque Indígena Tumucumaque, interior do Pará, e deveria ter chegado por volta das 14h, no Aeroporto Internacional de Macapá.
Os três sobreviventes do helicóptero, que sofreu uma pane durante o voo e fez aterrissagem de emergência, foram resgatados na tarde de sábado, 19, próximo ao rio Iratapuru, no município de Pedra Branca do Amapari.
O piloto, tenente-coronel Josilei Gonçalves, o mecânico Gabriel Serra, e o engenheiro civil José Francisco foram trazidos para Macapá e levados para o Hospital de Emergências (HE). Apenas Gabriel recebeu alta médica. Josilei e José Francisco seguem hospitalizados.
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