Entrevista

“A humanidade em movimento e cultura é parte disso”

A ministra da Cultura, Margareth Menezes, diz em entrevista que considera que todas as formas de cultura podem estimular a reflexão e contribuir para que a população compreenda o cenário de mudança climática.


 

Cleber Barbosa
Da Redação

 

Então, ministra, como exatamente a arte e a cultura podem contribuir para enfrentar as mudanças climáticas?

Margareth Menezes – As mudanças climáticas estão acontecendo, e estão afetando os patrimônios, não só o patrimônio material, os prédios, os museus, mas também as pessoas, né? As pessoas que trabalham, o artesanato, gente que tem estúdio, de uma maneira geral. Nós tivemos um exemplo disso muito forte no Rio Grande do Sul, né? E naquele momento o Ministério da Cultura teve que fazer uma ação emergencial, então aquilo deu para nós a dimensão do que é, o prejuízo que é. É muito mais barato fazer a prevenção do que esperar uma ação dessas que traz um prejuízo que até hoje nós estamos aí no caminho de reestruturar. Então, essa é a grande contribuição, reunir pessoas que trabalhem com cultura, que trabalhem com essa resiliência para trazer suas experiências e isso nós estamos chamando de um plano de ação.

 

Daí o ineditismo dessa iniciativa, é isso?

Margareth – Então, é a primeira vez que a cultura é considerada uma estratégia dentro de uma COP. O Brasil está trazendo isso, e nós também estamos aí trazendo a ideia de um plano de ação de todos os países que têm experiências com isso para a gente implementar em relação ao patrimônio e em relação também aos trabalhadores e trabalhadoras da cultura. Nós estamos com várias mesas, com vários fóruns discutindo isso dentro da COP. E para nós tem sido uma experiência muito valiosa.

 

Agora, uma expressão que tem ganhado repercussão aqui dentro da COP, justamente nesse sentido também de envolver a arte, é o “artivismo”. É necessário, então, esse “artivismo”?

TCom certeza, inclusive eu estive no fórum Artivismo em Salvador, que aconteceu um pouco antes de vir para cá, para a COP, e para nós é muito importante a gente entender que existem pessoas, jovens, instituições, pessoas se movimentando sobre isso no mundo inteiro. E essa união de forças é um fórum que consegue congregar gente de todo lugar. E colocar esse pensamento, falar do que está acontecendo, exigir das autoridades também que isso seja observado com a importância que tem, faz parte desse artivismo. Então, são artistas, produtores, escritores, gestores, pessoas que trabalham no mundo inteiro trazendo a arte como uma forma de chamar a atenção, como uma ferramenta também de conscientização da população.

Nós temos aí um evento que foi chamado pelo Brasil, que é esse mutirão, o presidente Lula falou essa palavra, mutirão, uma palavra indígena. Então nós estamos fazendo essa campanha desse grande mutirão, implementado pela ministra Marina da Silva, e a cultura está sendo uma ferramenta de repercussão disso, desse chamamento. Usar a cultura como uma ponte entre o que precisamos fazer e a implementação disso e a conscientização da população da necessidade desse momento, para a gente conseguir pelo menos diminuir os efeitos do que estamos vendo do desequilíbrio climático.

 

E tudo isso aliado a políticas públicas já desenvolvidas no Ministério da Cultura?

Margareth – O Ministério da Cultura, desde 2024, começamos a conseguir realmente sair daquele processo da reconstrução, nós começamos a implementar essa temática cultura e clima, cultura e sustentabilidade, dentro das nossas ações, do que chamamos de sistema MIC, ou seja, dentro de todas as áreas da cultura, um dos temas que nós estamos trazendo constantemente é essa questão. Então, já fizemos dois fóruns internacionais, fizemos um em 2024 em Salvador, fizemos um agora no Rio de Janeiro, antes da COP, e nós temos ações também dentro do Ministério da Cultura, para o ano nós teremos a Teia, que é a congregação de todos os pontos e pontões de cultura do projeto Cultura Viva, que vai discutir sobre isso também. Estamos estimulando que todas as áreas culturais possam refletir e trazer reflexão, para que a população entenda a necessidade e o valor, tanto da cultura como ferramenta de conscientização, mas também da mudança de comportamento em relação aos nossos ativos da natureza.

 

É ambição brasileira incluir a cultura nas metas?

Margareth – É uma ambição não só do Brasil, é uma ambição de vários países. Eu faço parte, representando o Brasil, de um colegiado, que são ministros da cultura, amigos do clima, e esse colegiado é integrado por 64 países, e o Brasil preside junto com Emirados Árabes. E isso é uma grande mobilização para que a cultura venha a ser considerada um dos ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável), porque isso muda completamente a maneira dos países de pensar, fazer e ter as políticas culturais.

 

Perfil

Margareth Menezes é cantora, compositora, atriz, gestora cultural, empresária e atual ministra da Cultura do Brasil.

BREVE BIOGRAFIA
-Em 36 anos de trabalho, já soma 17 obras lançadas, entre LPs, CDs e DVDs, e 23 turnês internacionais por todos os continentes do mundo. Ganhadora de dois troféus Caymmi, dois troféus Imprensa, quatro troféus Dodô e Osmar, além de ser indicada para o Grammy Awards e Grammy Latino.

– Além da carreira artística, fundou há 18 anos, em Salvador, a Associação Fábrica Cultural – organização social que desenvolve projetos nos eixos de Cultura, Educação e Sustentabilidade. Margareth faz a gestão de seu selo de música e tem uma carreira construída como artista independente.

– É considerada uma das 100 mulheres negras que mais influenciam no mundo pela Most Influential People of African Descent (MIPAD), instituição reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) e é membro da IOV Unesco como embaixadora da Cultura Popular.

 

UM MOTE
– Defende a ideia de “mutirão global” para cumprir o GST (Global Stocktake) como uma NDC Global (Contribuição Globalmente Determinada).

 

 


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