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Princesinha Dourado: Conheça o primeiro lutador de MMA brasileiro assumidamente gay

Washington Duarte Souza, ou ‘Princesinha Dourado’, de 29 anos, possui um cartel de vitórias e tem orgulho de levantar a bandeira LGBTQIA+


Lana Caroline
Da Redação

 

Apesar do esporte ser um dos temas mais falados no mundo todo, também é um assunto que carrega um dos maiores tabus ainda existentes na atualidade, a homossexualidade no meio esportivo. Hoje em dia os direitos conquistados por atletas LGBTQIA+ foram muitos, mas isso não deixa de lado o fato de que ainda há muito pelo o que lutar. No sul do Amapá, mais precisamente no município de Laranjal do Jari, Washington Duarte Souza, ou ‘Princesinha Dourado’, de 29 anos, é um lutador de MMA que defende a bandeira do homosexualismo.

 

Há mais de 12 anos no mundo do MMA, Dourado conta que se apaixonou pela luta a partir de uma brincadeira com um amigo, durante um evento esportivo em sua cidade. A sua primeira luta seria em menos de um mês.

 

“Eu fui assistir um evento de MMA e gostei. Falei para meu amigo que teria coragem de lutar e fui desafiado por ele. Depois, esse meu amigo não teve coragem de treinar e disse que era uma brincadeira. Ao final desse evento, fui falar com o pessoal da organização e meu amigo disse que eu queria lutar, mas eu nunca tinha treinado antes. A minha estreia foi 15 dias depois. Comecei os treinos e venci essas e muitas outras lutas, Graças a Deus”, disse o lutador.

 

Em seu cartel, Dourado possui 33 lutas sendo 30 vitórias e três derrotas (uma por nocaute, uma por pontos e por finalização). Ele conta que sempre entra no octodromo confiante de que a vitória é garantida.

 

“Antes das minhas lutas, procuro sempre ter um pensamento positivo de que tudo que treinei e que aprendi na academia vai trazer a minha vitória. Sempre tenho o pensamento de que vou dar o meu melhor e vou vencer”, disse convicto.

 

O apelido ‘Princesinha’ foi dado pelo primeiro treinador de Washington, que a partir daí ficou até hoje. “O apelido surgiu depois que o meu treinador me ligou, dizendo que um rapaz foi até a academia para me desafiar. Em menos de três minutos ele me retorna a ligação, dizendo que o rapaz tinha desistido de lutar e completou ‘Vamos marcar um evento para vocês lutarem, tá bom princesinha?!’ e daí ficou esse apelido”, lembrou.

 

Nascido em Porto de Moz (PA) e filho caçula de dona Maria de Fátima, de 66 anos, ‘Princesinha’ afirma que durante sua infância e adolescência, o preconceito por ser homossexual não existiu. “Na minha infância eu nunca sofri preconceito e nunca fui uma pessoa rejeitada por ninguém, nem pela minha família. O preconceito veio quando entrei para o MMA”.

 

Xingamentos e palavras de ofensas começaram a ser frequentes quando o lutador treinava e entrava no octodromo, sendo todas proferidas por seus adversários. “Muitos xingaram os meus professores e a mim. Teve um que disse que se perdesse a luta pra mim, iria usar saia. Eu ganhei a luta e as pessoas começavam a jogar saias para ele e o vaiavam”, lembrou.

Outro episódio de preconceito foi quando um oponente prometeu ganhar Dourado, mas que se perdesse ele mudaria da cidade. A luta foi marcada e a vitória veio. “Ele não aguentou a pressão das pessoas dizendo para ele ir embora, pois ele prometeu que iria e foi. Desde aí nunca mais vimos ele por aqui”, afirmou.

 

Depois de muitas vitórias em eventos amapaenses, a vontade de disputar outras lutas fora do estado e do país é grande, mas a falta de apoio é uma das dificuldades encontrada na caminhada do lutador.

 

“Eu acredito em mim e estou treinado firme e forte para estar sempre preparado para eventos, mas o que me falta é apoio. Tenho sonhos de lutar em outros eventos e acredito que a minha sexualidade não muda nada, pois sou um homem e a força não diminui. Desde quando falei da minha sexualidade para minha mãe e ela me apoiou, me sinto mais forte para seguir em frente”, disse esperançoso.

 

Muitas batalhas foram perdidas e muitas vitórias conquistadas, abrindo caminho para um mundo esportivo com diversidade e a inclusão para todos. Os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio 2020, que contou com muitos esportistas da comunidade LGBTQIA+, foram um exemplo de que sua sexualidade não define potencial esportivo.


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