Nota 10

Bailarino do Amapá estreia em teatro histórico da França e leva identidade amazônica aos palcos europeus

Pablo Sena se apresenta em cinco sessões no Théâtre de Moulins com espetáculo inspirado em lendas russas e celebra 20 anos de trajetória artística


 

O talento da dança amapaense ganhou projeção internacional nesta semana. Há três meses em intercâmbio artístico na França, o bailarino e coreógrafo Pablo Sena, natural de Macapá, estreou na terça-feira (16), no tradicional Théâtre de Moulins com o espetáculo “Olga, a Pequena Garota da Neve”, produção da Academia de Coreografias de Moulins. As apresentações seguem nos dias 17 e 18 de dezembro, totalizando cinco sessões e com expectativa de público de aproximadamente 3 mil pessoas.

 

A experiência de Pablo Sena na Europa teve início por meio de um intercâmbio com o coletivo Original Bomber Crew, do Piauí, realizado durante a Bienal de Dança de Lyon — iniciativa que, nesta edição, destacou e promoveu a valorização da dança brasileira em solo francês. Após um mês de residência artística, o bailarino foi selecionado para integrar a Académie Chorégraphique de Moulins, consolidando sua inserção no circuito profissional europeu.

 

 

No espetáculo, Pablo assume os principais papéis masculinos da montagem e apresenta duas variações emblemáticas do balé clássico internacional, como “O Corsário” e “O Príncipe Désiré”, evidenciando domínio técnico, potência interpretativa e presença cênica.

 

Inspirado em lendas russas, o espetáculo conduz o público a um universo de conto de fadas. A narrativa acompanha Olga, uma garota nascida da neve, dona de um coração de gelo, que vive nos céus com seus pais — Inverno e Primavera — e sonha em conhecer a Terra. Durante sua jornada, ela descobre a amizade, o afeto e a possibilidade de transformação, culminando em um desfecho mágico na noite de Natal, quando a personagem assume forma humana.

 

“É um espetáculo que atravessa gerações. Entre danças cintilantes, fogueiras embaladas pelo som da Kalinka e a atmosfera natalina do Palácio de Inverno de São Petersburgo, a obra encanta crianças, jovens e adultos, com trilha sonora de grandes compositores da corrente romântica”, destaca Pablo Sena.

 

Trajetória que atravessa fronteiras

Cofundador do Grupo Âmago, Pablo construiu uma carreira marcada pela valorização da identidade cultural amazônica e por atuações de destaque no cenário nacional e internacional. Recentemente, foi premiado no Festival Internacional de Dança de Goiás e no Encontro Pan-Americano de Dança da Amazônia. Também representou o Brasil em intercâmbio artístico com o Instituto de Formação Artística de Montevidéu, no Uruguai, e integrou o Palco Giratório 2025, do Sesc, como convidado do seminário do projeto, realizado em Porto Alegre (RS).

 

 

Para o artista, a estreia na Europa simboliza mais do que um novo capítulo profissional: é a celebração de duas décadas dedicadas à arte.

 

“Essa experiência tem um valor imensurável para mim. Marca um momento muito especial da minha trajetória: a celebração de 20 anos de dedicação à arte e à cultura. Sou um artista nascido e criado no Laguinho, um dos bairros mais tradicionais de Macapá, território de forte identidade cultural. Minhas raízes estão no samba, no carnaval, na toada e nas quadras juninas, onde iniciei minha vida artística”, ressalta.

 

Ele reforça ainda o peso simbólico de ocupar palcos históricos europeus levando consigo a memória coletiva de sua terra.

 

 

“Chegar hoje a um palco na Europa e dançar grandes balés de referência mundial é motivo de profundo orgulho, não apenas pessoal, mas coletivo. Cada passo carrega a memória de quem veio antes, de quem sonhou, lutou e abriu caminhos. Minha dança é também um gesto de ancestralidade”, conclui.

 

Palco histórico

As apresentações acontecem no Théâtre de Moulins, um dos mais tradicionais da França. A construção do edifício atual teve início em 1839, após concurso vencido pelo arquiteto Hippolyte Duran, e foi inaugurada em 1847. De arquitetura neoclássica com decoração em estilo Renascença, o teatro é do tipo à italiana, possui capacidade para 800 espectadores e tem o teto assinado por Séchan.

 

 


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