Nota 10

Barracão da Tia Gertrudes: Ciclo do Marabaixo inicia neste sábado da Aleluia

Durante três meses a devoção à Santíssima Trindade ganha espaço no calendário afro religioso amapaense com as homenagens na Favela e bairro Laguinho, que festeja ainda o Divino Espírito Santo, e na Zona Rural de Macapá


Texto: Marileia Maciel

 

O Ciclo do Marabaixo na Favela retorna com a presença de público de forma limitada e outras mudanças nesta temporada da festa tradicional do Amapá, que inicia no Sábado da Aleluia, 16 de abril, com Marabaixo da Aceitação. Durante três meses a devoção à Santíssima Trindade ganha espaço no calendário afro religioso amapaense com as homenagens na Favela e bairro Laguinho, que festeja ainda o Divino Espírito Santo, e na Zona Rural de Macapá. No Barracão da matriarca da família Costa, Gertrudes Saturnino, a abertura será de forma presencial mas também poderá ser acompanhada através das redes sociais do grupo Berço da Favela.

A Favela, hoje chamada de bairro Santa Rita, foi um dos primeiros locais a ser povoado em Macapá, nos anos 40, quando as famílias que moravam no centro da cidade foram transferidas para este local e para o bairro do Laguinho. A família Costa, um dos núcleos que mudou, levou os costumes dos cultos religiosos e da dança do marabaixo, e ainda hoje, cinco gerações desde a pioneira, continua festejando com as rodadas de marabaixo, novenas, missa, e o Almoço dos Inocentes.

 

Mudar para preservar
Após dois anos de restrições de público e realização do Ciclo de forma online, em 2022 as famílias e integrantes dos grupos que realizam os eventos tiveram que criar alternativas para que os festejos sejam realizados, sem prejuízos para a tradição ou para a saúde coletiva. A presença do público será restrita, assim como os horários. Em nenhum dia de evento o término será após meia-noite. Outra mudança é no horário de erguer os mastros, antes eram levantados no amanhecer, 6h, após o Domingo do Mastro, e neste ano este ritual será no dia seguinte, às 18h.

Valdinete Costa, neta de Gertrudes Saturnino, garante que apesar das limitações, a tradição continua e os festejos da Santíssima Trindade não irão acabar após mais de 7 décadas. “A adaptação faz parte da sobrevivência. Anos atrás mudamos em obediência às leis ambientais e por respeito aos vizinhos, agora estamos novamente passando por mudança, por causa da pandemia da COVID-19, e a presença das pessoas será limitada no barracão, isso não significa que nossa fé e brilho irá diminuir, ao contrário, estamos determinados a perpetuar esta tradição”, afirma a marabaixeira.

As mudanças a que se refere Valdinete Costa são relacionadas ao volume do som e horários para disparo de fogos de artifício, e uso de mastro permanente, para não retirar árvore da mata. “Em respeito às leis ambientais, anos atrás decidimos por soltar fogos até 22h, não ultrapassar o limite do volume, e em vez tirar árvore no ritual do mastro, nós plantamos. Agora novamente temos que nos preparar para acompanhar as mudanças”.

Junto com a família, Valdinete finaliza os preparativos para este Ciclo do Marabaixo, que tem o apoio do Governo do Estado e Prefeitura de Macapá. A coroa da Santíssima Trindade está ornada com flores, fitas e velas, a bandeira estendida, barracão sendo ornamentando com as cores azul e branca, os panelões para o caldo e gengibirra estão limpos, tudo para dar início aos festejos. “Estávamos dois anos sem receber público, e agora estamos felizes com o retorno das rodas de marabaixo, por isso estamos preparando tudo com muito gosto para este Sábado da Aleluia”.

 

Os festejos do marabaixo e as honras à Santíssima Trindade e Divino Espírito Santo foram reconhecidas como festejos oficiais com a criação do Ciclo do Marabaixo, em que famílias de Macapá dão continuidade à tradição, que inclui os rituais de dança, momento religioso, bailes, fogos de artifício e distribuição de caldo e gengibirra para os participantes durante os eventos. A Santíssima Trindade, homenageada na Favela, é um dos Mistérios do cristianismo, que prega a existência de um só Deus, formado pelo Pai, Filho e Espírito Santo. Simbolizada pela coroa e uma pomba em cima, a devoção Santíssima é fundamentada na crença católica.

 

A programação do Ciclo do Marabaixo no barracão da Tia Gertrudes é a seguinte:
– Dia 16 de abril – Sábado da Aleluia:
Hora: 17h – Abertura do Ciclo do Marabaixo 2022 – presencial e online
– Dia 1° de maio – Dia do Trabalhador
Hora: 17h – Marabaixo do Trabalhador – presencial
– Dia 21 de maio – Sábado do Corte do Mastro –
Hora: 9h – Quilombo do Curiaú, com a presença de todos os grupos.
– Dia 22 de maio – Domingo do Mastro
Hora: 9h – Roda de Marabaixo – Presencial e online
Hora: 18h – Roda de marabaixo – Presencial e online
– Dia 4 de junho – Início da Novena da Santíssima Trindade
Hora: 18h
Dia 5 de junho – Domingo do Marabaixo da Murta da Santíssima Trindade
Hora: 17h – Roda de Marabaixo – presencial e online
Dia 6 de junho – Levantamento do Mastro da Santíssima Trindade
Hora: 18h
Dia 12 de junho – Domingo da Santíssima Trindade
Hora: 7h – Missa na Igreja Santíssima Trindade
Hora: 9h – Café da Manhã no Barracão da Tia Gertrudes
Hora: 12h – Almoço dos Inocentes
– Dia 16 de Junho – Corpus Christi – Roda de Marabaixo
Hora: 18h
Dia 19 de junho – Domingo do Senhor – Encerramento do Ciclo do Marabaixo 2022
Hora: 17h30 – Corte do mastro e encerramento do Ciclo do Marabaixo


Deixe seu comentário


Publicidade