Iphan doa arma bélica francesa do século 19 a museu em Macapá
Objeto foi encontrado em Calçoene (AP), município que detém sítio arqueológico reconhecido pelo Instituto

Em outubro de 2024, durante um passeio perto da Ponte das Sete Ilhas, no município de Calçoene, no Amapá, dois amigos encontraram enterrado, às margens do Rio do Calçoene, um objeto peculiar: algo semelhante a uma espada, ou um facão, com punhal ornado, bem diferente das armas brancas do tipo usadas hoje na região. Curiosos sobre a origem do artefato, a dupla procurou a superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no Amapá, que iniciou as pesquisas para descobrir a história do objeto, entregue ao Instituto em março de 2025. Após análises, concluiu-se que se tratava de um terçado de modelo francês do século 19, que acaba de ser doado ao Museu Histórico Joaquim Caetano da Silva, na capital do estado, em cerimônia realizada nesta terça-feira (27/5), com a presença do superintendente do Iphan no Amapá, Michel Flores, a secretária de Estado da Cultura, Clícia Di Miceli, e outras autoridades locais.
“Um terçado é um tipo de arma branca, semelhante ao sabre, de lâmina curta e larga, que foi muito usado no Brasil Colônia e Império. Sua origem está na necessidade de armar tropas que participariam de combates corpo-a-corpo”, explica Adler Romero Fonseca de Castro, historiador do Iphan que elaborou o parecer técnico sobre o achado. Ele ainda destaca que o terçado encontrado é um modelo francês de infantaria de 1831, baseado em um gládio (espada curta).
Mas como uma arma dos tempos da Dinastia Bonaparte atravessou o oceano e foi parar no interior de um estado do Norte brasileiro? A história explica! A região, onde hoje fica Calçoene, na fronteira com a Guiana Francesa, era disputada por França e Brasil, entre o século 19 e o início do século 20, episódio conhecido como a Questão do Amapá ou o Contestado Franco-brasileiro. Técnicos do Iphan que estão estudando o terçado acreditam que ele tenha sido utilizado por soldados franceses que atuavam nessas batalhas.
A atitude dos dois amigos de comunicar a descoberta ao Iphan foi o correto a se fazer. O superintendente da autarquia no Amapá, Michel Flores, explica que, “quando se encontra um vestígio arqueológico, segundo a legislação, deve-se informar o Iphan. Além de garantir a preservação do achado arqueológico, a salvaguarda desses bens colabora para construir a história regional e brasileira”.
Para permitir que o terçado possa ser conhecido pelo público, o Iphan, seguindo as leis que protegem os achados arqueológicos, doou a peça ao Museu Histórico Joaquim Caetano da Silva. De acordo com a gerente do museu, Simone Maria de Jesus, “o museu recebe aproximadamente cinco mil visitantes por ano, incluindo muitos estudantes, o que amplia o potencial educativo e de difusão do artefato. A incorporação [do terçado ao acervo] enriquecerá as atividades de educação patrimonial e museal desenvolvidas pela instituição”, explica.
O terçado estará em exposição no museu a partir de novembro deste ano.
Encontrei um objeto antigo, o que fazer?
- Não remova ou desloque os artefatos do local onde foram encontrados. A posição original (contexto) dos objetos é fundamental para a pesquisa arqueológica. Tire fotos, se possível usando algum objeto (como um chinelo) ou mesmo sua mão ou pé para que se possa ter ideia do tamanho do achado!
- Veja no GPS do seu telefone a localização exata de onde o objeto está! Caso não tenha celular ou nenhum dispositivo de coordenadas com você, preste atenção em elementos da paisagem – árvores, montanhas, estradas – para poder localizar o achado posteriormente.
- Informe sua descoberta para as autoridades! Você pode entrar em contato com a superintendência ou escritório técnico do Iphan mais próximos. Se você conseguiu tirar fotos e anotar a localização, compartilhe essas informações!
- Evite práticas ilegais: não comercialize, colete ou guarde objetos arqueológicos. A retirada e posse de bens arqueológicos sem autorização é crime.
- Não divulgue amplamente em redes sociais: a divulgação prematura pode atrair curiosos, saqueadores ou causar danos ao local
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