Movido pela luta contra injustiças, Jairo Júnior escolheu Direito como Missão
Primeiro advogado autista no cargo de conselheiro seccional da OAB-AP atua nas áreas cível, trabalhista e previdenciária, bem como na defesa de causas envolvendo portadores do TEA e de deficiência

Douglas Lima
Editor
A Ordem dos Advogados do Brasil no Amapá (OAB-AP) inicia o ano de 2025, fazendo história, por passar a ter no seu quadro diretivo o primeiro advogado autista no cargo de conselheiro seccional, na defesa da inclusão e diversidade. O profissional é Jairo Pereira Santana Júnior, 33 anos de idade.
Na manhã desta quarta-feira, 22, o causídico falou no programa ‘LuizMeloEntrevista’ (Diário FM), revelando alguns detalhes de sua vida que na infância experimentou bullying, sentimento de exclusão na juventude e ar de liberdade, na meia idade em que se encontra, ao ser diagnosticado, tardiamente, portador do transtorno do espectro autista, em 2022.
“O diagnóstico é necessário. A partir dele minha vida teve um sentido completo. Foi um alívio. Quando a gente sabe o que tem, e sabe que pode melhorar, tudo dá um sentido mais completo”, disse Jairo Júnior, na entrevista.
Ele é um exemplo de superação, dedicação e inspiração para a sociedade. Incomoda-se com o mercado de trabalho para os portadores do TEA, percebendo a tendência da inclusão vir através de cotas. Mas não admite: “Faço meta de vida mostrar que o autista pode atuar no mercado de trabalho. É só deixar que faça o que sabe, que ele faz”.
Autodidata desde a infância, Jairo começou a ler e escrever entre os 2 e 3 anos de idade, absorvendo conhecimentos em outdoors, placas, jornais, revistas, televisão e escutando música. O advogado tem hiperfoco em CDs; até roqueiro ele é. O talento precoce fez com que fosse reconhecido por suas altas habilidades e superdotação numa época em que o autismo ainda não era amplamente discutido.
Mesmo enfrentando desafios sociais desde a infância, como dificuldades de interação e isolamento, ele encontrou na educação um caminho para se expressar. A mudança para a escola pública fez com que passasse a ser acolhido e a ter a possibilidade de reconstruir suas relações sociais.
“Apesar das comorbidades, tenho uma vida como qualquer pessoa, adaptando-me nas interações sociais”, afirma Jairo Júnior, que conseguiu enfrentar a Faculdade de Direito e as dificuldades com o exame da OAB, agravadas por transtornos de ansiedade. Mas recebeu apoio de psicoterapia e conseguiu vencer.
Com terapias multidisciplinares, incluindo psicoterapia, fonoaudiologia, psicomotricidade e nutrição, o advogado Jairo hoje se destaca como um exemplo de resiliência e capacidade. Ele acredita que o autismo não deve ser visto como uma limitação, mas como uma característica que, com oportunidades e apoio adequado, pode transformar vidas e contribuir para a sociedade.
Jairo escolheu o Direito como profissão, movido pela indignação com as injustiças que presenciou ao longo de sua vida. Ele acha que a advocacia é um agente de mudança, utilizando sua experiência pessoal e profissional para promover a inclusão e garantir que a justiça seja acessível a todos. Atua nas áreas cível, trabalhista e previdenciária, bem como na defesa de causas envolvendo autistas e portadores de deficiência.
No programa LuizMeloEntrevista, o advogado ainda agradeceu ao presidente da OAB, Israel da Graça, e à vice-presidente Christina Rocha, por terem abraçado a causa autista e confiado nele. Jairo Júnior reforçou a importância de valorizar a diversidade e oferecer oportunidades igualitárias. (Contribuiu jornalista Carol Pessoa)
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