Nota 10

No barracão da dona Gertrudes, a promessa para a Santíssima ainda é mantida

Toda devoção no Ciclo da Favela é em honra à Santíssima Trindade, um dos Mistérios da crença cristã, que acredita em um só Deus, formado pelo Pai, Filho e Espírito Santo. Esta fé é a motivação para que continuem.


A Família de Gertrudes Saturnino mantém a tradição dos antepassados e mais um ano festeja a Santíssima Trindade na Favela. Desde o início do festejo, o barracão é abrigo de devotos e marabaixeiros, que durante o Ciclo do Marabaixo fazem promessas, agradecem, dançam e cantam os ladrões, se possível, até o raiar do dia.

Dona Gertrudes é a matriarca que ainda vive na memória da família e alvo de respeito. Nos anos 40 a negra já dançava, tocava e cantava marabaixo com outros descendentes de escravos na frente no Largo de São João, mais precisamente próximo da Igreja São José, até que foram deslocados para o Laguinho e Favela. Dona Gertrudes, como era costume, contou o fato em forma de ladrão, fez o verso “..pelo jeito que estou vendo, querem me deixar sozinho, uns vão para a Favela e outros vão para o Laguinho….”.

Toda devoção no Ciclo da Favela é em honra à Santíssima Trindade, um dos Mistérios da crença cristã, que acredita em um só Deus, formado pelo Pai, Filho e Espírito Santo. Esta fé é a motivação para que continuem. A matriarca Gertrudes é a maior prova da interseção da Santíssima. Para que sua filha Natalina pudesse engravidar, fez uma promessa para a Santíssima, e nasceu Manoel, o filho mais velho da prole, e a bênção foi paga com um almoço oferecido para 12 crianças, que simbolizavam os apóstolos. Desde então, o Almoço dos Inocentes se incorporou à tradição.

A urbanização do bairro obrigou a algumas adaptações, e a família fez, sem perder a essência, e aproveitaram para trabalhar a conscientização ambiental. O som ficou mais baixo, e fogos, com hora pra soltar, e a cada mastro retirado, uma muda de planta é plantada. “Tivemos que adaptar nossa cultura, para garantir os direitos adquiridos, como ao silêncio, à segurança, e à liberdade de cada um professar sua fé, independente de religião, e ainda contribuímos para a preservação da natureza”, explica Valdinete Costa, filha de dona Natalina e neta de Gertrudes Saturnino.

É com esta fé e respeito, que mais um ano a família rende as homenagens, e recebe a população no barracão, nos dias de homenagens e louvores. Neste Domingo do Mastro, 21, tem roda de marabaixo, a partir das 18h. (Mariléia Maciel)


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