Nota 10

Suzane Richthofen “usou alto poder de sedução para sobreviver”, diz jornalista que escreveu livro sobre o caso

Jornalista paraense, Ulisses Campbell, atualmente trabalhando na revista Época, lançou livro-reportagem sobre crime monstruoso que ocorreu em 2002: Manfred Albert Von Richthofen e Marísia Von Richthofen foram assassinados em trama da própria filha.


Railana Pantoja
Da Redação

 

Atualmente trabalhando na revista Época, o jornalista paraense Ulisses Campbell está no Amapá para fazer a cobertura nacional sobre o apagão que atinge o estado há 10 dias. Durante entrevista na manhã desta sexta-feira (13) ao programa radiofônico LuizMeLoEntrevista (Diário 90,9FM), Campbell também falou sobre a experiência que teve escrevendo um livro-reportagem sobre Suzane Von Richthofen, a mentora do assassinato cruel dos próprios pais, em 2002.

Há 18 anos os pais de Suzane, Manfred Albert Von Richthofen e Marísia Von Richthofen, foram assassinados a pauladas pelos homicidas Daniel e Cristian, os ‘irmãos Cravinhos’, seguindo ordem da filha do casal, Suzane. De acordo com Ulisses, foi necessário realizar várias entrevistas para que o livro “Suzane: assassina e manipuladora”, lançado em 2020, fosse organizado. O livro está à venda na internet, mas também pode ser encontrado através do Instagram “@suzaneolivro”. Segundo o autor, muitas fontes descrevem Suzane como “manipuladora e sedutora”.

Diário – Foi um crime monstruoso. Isso que levou você a escrever sobre o caso Suzane Richthofen?

Ulisses – Foi mais ou menos isso. Quando eu estava trabalhando, na revista Veja, comecei a cobrir as primeiras saídas da Suzane da cadeia e isso me despertou interesse. Eu queria mais ou menos saber o que se passou na cabeça de uma menina rica, que estudava Direito em uma das escolas mais tradicionais de São Paulo, falava quatro línguas, enfim, tudo isso. Eu quis saber o que se passa na mente de uma jovem que resolve matar os próprios pais, então, comecei a investigar. Ela não é só uma mentora, ela é ‘A mentora’. O crime ocorreu porque ela planejou, apesar de não ter as mãos sujas de sangue, visto que ela não executou. Ela planejou e por isso a maior pena foi para ela. No nosso Código Penal o mentor tem uma responsabilidade muito maior que o executor, pois ele [mentor] tem interesse direto no crime. Ela matou os pais por motivo financeiro. Suzane queria a herança. Isso ficaria com ela, não com os executores. Como mentora intelectual ela manipulou os dois, o namorado e o cunhado dela, para executar o crime. Mas, o plano foi todo dela.

 

Diário – Na cadeia existe a regra de “não gostar de estuprador, pedófilo e filhos que matam os pais”, mas Suzane está viva até hoje. Como ela sobrevive e consegue driblar isso?

Ulisses – Ela usou um alto poder de sedução para sobreviver.  Suzane entrou na cadeia e logo foi vítima de uma rebelião das mulheres do PCC [Primeiro Comando da Capital], que tinham como pauta matar a Suzane. Aí, o que ela fez? Fez amizade com agentes carcerários. Eles esconderam Suzane dentro do armário, o livro relata isso com muito detalhe. Então, ela foi usando muito a sedução. Ela usa também a sedução sexual, tanto que seduziu um promotor de Justiça. Na verdade, ela seduziu todo mundo, mas vamos por partes de ‘seduzidos’. Na primeira cadeia, a penitenciária feminina da capital, ela seduziu um médico, só que ela descobriu que ele era gay, então Suzane não teve frutos. Na segunda cadeia, a penitenciária de Rio Claro, ela seduziu uma diretora e teve um caso, em troca de regalias. Só que as presas denunciaram e a diretora respondeu sindicância. E a Suzane, que usava internet, usava a sala da diretoria, tomava chá e todas essas coisas, foi transferida para a penitenciária de Ribeirão Preto. Lá, passou a ser perseguida por um grupo de presas que se diziam pertencer a uma congregação religiosa satânica, então, queriam matar a Suzane e falavam que ‘o diabo esperava a alma dela no inferno’. Aí, Suzane seduziu um promotor que executava a pena, na verdade, ele já tinha uma quedinha e ela se aproveitou disso.

 

Diário – Por que escolheu o título “Suzane: assassina e manipuladora”?

Ulisses – Porque ela só sobreviveu ao ambiente da cadeia graças ao poder de sedução e manipulação. Sempre gosto de deixar claro que esses termos não são atribuídos por mim. Manipuladora, sedutora, agressividade camuflada, enfim, esses adjetivos são atribuídos à Suzane por psicólogos que cuidam dela, a mando da Justiça. Muito mais do que no Código Penal, eu tive que mergulhar profundamente na psicologia forense, pois o livro tenta responder o que leva uma pessoa a fazer o que Suzane fez, a motivação do crime.  O livro traz o crime da Suzane em primeiro plano, mas tem como pano de fundo o crime das amigas de cela. O livro é um verdadeiro ensaio sobre o que o ser humano é capaz de fazer por dinheiro, amor, vingança. A Suzane tinha tudo, mas não tinha afeto dos pais, isso o livro detalha, mas é claro que não justifica o crime.

 

Diário – A Suzane foi ouvida por você?

Ulisses – Não. Na verdade, para esse tipo de livro-reportagem que traça perfil, não é interessante ouvi-la. Sabe o motivo? Ela não tem nada a dizer, tudo o que tinha foi dito em depoimento, no tribunal. Esses perfis ficam muito mais interessantes quando você ouve quem está em volta dela. Eu tive quatro contatos com a Suzane, mas não caracterizavam entrevista. Eu não fazia interrogatório, o que eu fazia era ficar apurando informações com as amigas de cela, parentes, vizinhos, com todos em volta dela, e eu checava com Suzane algumas dessas informações. Vou te dar um exemplo: uma presa falou “ah, quando começa a novela a Suzane corre pra TV e é a primeira a assistir”. Eu perguntei para Suzane: “você assiste novela?”, e ela disse que “não, quando as presas vão assistir novela eu vou para a igreja rezar”. Então, eram informações assim que eu ia checando com ela, mas não caracteriza entrevista. Ela não tem participação no livro, não lucra com a venda.


Deixe seu comentário


Publicidade