Polícia

Após 15 anos, assassino da menina Alessandra Guimarães continua foragido

Crime ocorreu em 2010; vítima foi estuprada e morta aos seis anos pelo então vizinho Mércio Melo Nogueira, que foi condenado a mais de 47 anos de prisão


 

Elen Costa
Da Redação

 

No dia 8 de dezembro de 2010, a polícia registrava um dos crimes mais repugnantes da história e que chocou a sociedade amapaense: o assassinato da menina Alessandra da Silva Guimarães. A vítima, que tinha apenas seis anos de idade, foi violentada sexualmente e estrangulada até à morte.

 

O autor da barbárie, Mércio Melo Nogueira, atualmente com 54 anos, era vizinho da vítima e nunca foi preso, mesmo tendo sido condenado à revelia em maio de 2014, a 47 anos e 1 mês de reclusão por homicídio, ocultação de cadáver e pedofilia.

 

A investigação, que inicialmente foi conduzida pelo delegado Roberto Prata e, posteriormente, coordenada pela delegada Odanete Bionde, concluiu que Alessandra foi estuprada antes de ter sido assassinada por estrangulamento.

 

O caso

Alessandra desapareceu no dia 5 de dezembro de 2010; três dias depois o corpo dela foi encontrado em um terreno baldio, na rua Del Castilho, no bairro Jardim Equatorial, na zona sul de Macapá, paralela à que ela morava com a família, e a poucos metros da casa de Mércio, que era agente de endemias.

 

Na residência dele, os policiais encontraram lençol, travesseiro, tesoura e um martelo com manchas de sangue que a perícia constatou ser da vítima.

 

Na época, o material genético encontrado no corpo dela não pôde ser analisado devido ao estado de decomposição em que estava, mas os exames apontaram que a violência sexual foi extremamente grave, que o ânus e a vagina da menina viraram um só.

 

Provas

Um lado de uma sandália da criança foi encontrado junto ao cadáver, que estava em avançado estado de decomposição. O outro, dentro da casa do assassino.

 

Cadernos com contos eróticos infantis, escritos a próprio punho por Mércio, também foram apreendidos no imóvel. Neles, o foragido relatava estórias de crianças mantendo relação sexual com adultos. DVDs com gravações retiradas da internet, onde menores apareciam em cenas de sexo, também foram achados pelos investigadores. Mas o que chamou mesmo a atenção de quem presidiu o inquérito policial foi um vídeo onde o ex-agente de endemias aparecia transando com a companheira, na frente do filho, um menino que tinha 3 anos de idade.

 

Imagem gerada por IA de como Mércio estaria hoje

 

Investigação

A reportagem do portal Diário do Amapá procurou os delegados e investigadores que atuaram no caso. Por telefone, Roberto Prata recordou os detalhes da investigação.

 

“Quando chegamos à cena do crime vimos a passagem atrás da casa do Mércio – que até então não era suspeito –, que dava acesso à casa dos familiares da garota. Procuramos saber como era a rotina dela, foi quando soubemos que ela costumava brincar na rua e frequentar a casa dele, e isso nos chamou a atenção”, lembrou o delegado.

 

Prata disse também que naquele dia chegou a conversar informalmente com Mércio, na frente da casa.

 

“Ele revelou que a Alessandra e outras crianças frequentavam a residência dele, e indaguei a última vez que ele tinha visto a garota. Então ele me disse que fazia uns três, quatro dias que ela não ia lá. Mas algo me dizia que era ele, não tinha como suspeitar de mais ninguém”, pontuou.

 

“No dia seguinte, voltamos à casa dele e achamos os vídeos pornôs e outros materiais, e um lado da sandália da criança no quarto, que foi a peça chave. Na foto feita pela Politec durante a perícia, aparecia o outro par desta bendita sandália perto do corpo da Alessandra. A charada foi essa sandália, foi essa prova que nos fez pedir a prisão dele”, descreveu o delegado.

 

O ex-agente de endemias chegou a ser levado para a delegacia, para prestar esclarecimento, mas logo foi liberado.

 

O agente Valdeci Ferreira, que integrava a Delegacia de Homicídios, estava de folga naquela quarta-feira, dia 8 de dezembro, mas foi acionado devido à gravidade do caso. Ele contou que suspeitou imediatamente da atitude de Mércio, pois ele foi o único que não se aproximou da aglomeração que se formou próximo ao local onde o cadáver foi achado.

 

“A casa dele ficava a uns 60 metros do local onde o corpo estava e ele não saiu de lá. Agiu muito naturalmente, estava, inclusive, fumando. Ele me mostrou a passagem atrás da casa dele, que dava fundos com a dela e por onde ela costumava passar. Mas achei aquilo tudo muito estranho, porque a vizinhança toda aglomerou, mas ele, não”, rememorou.

 

“Eu não esqueço desse crime. Foi algo que me impactou muito, pela brutalidade como ele matou essa criança. Era uma resposta que eu queria dar para a família, era a prisão desse indivíduo. Mas, não vamos desistir”, garantiu Ferreira.

 

O inquérito policial instaurado no início pela Delegacia de Homicídios (DH), para apurar a morte de Alessandra, foi encaminhado à Delegacia de Repressão a Crimes Contra a Criança e Adolescente (Dercca), porém, meses depois foi remetido novamente à DH, já sob a titularidade de Odanete Bionde.

 

Aposentada há 5 anos, a delegada tinha como realização profissional fazer a captura de Mércio Nogueira.

 

“Trabalhamos muito em cima do crime, muito mesmo, e essa é minha única frustração profissional, infelizmente. Investigamos várias frentes, sem conseguir colocar o réu atrás das grades. Foram tantas provas que tínhamos nos autos, mas a prisão dele não foi decretada. Somente uma semana depois, quando o titular da Vara assumiu, que me chamou pra conversar e decretou a prisão dele. Saímos atrás, mas já era tarde; ele já tinha fugido”, lamentou a delegada.

 

Outro investigador, que pediu para não ser identificado, revelou que muitos mistérios cercam o sumiço do estuprador e assassino. A fonte revelou que assim que entrou na equipe, em 2021, e passou a diligenciar, foi atrás do prontuário de Mércio na Polícia Científica do Amapá (PCA), mas os registros desapareceram.

 

“Cruzamos informações com investigadores tops do país todo, mas parece que esse homem virou um fantasma. Fomos na Politec e solicitamos o prontuário dele, mas, acredite se quiser, esse prontuário sumiu de lá, ninguém achou. Os colegas mesmo foram procurar, acharam de todo mundo, menos o dele”, revelou.

 

Sobre a informação do desaparecimento do registro de dados de Mércio Melo Nogueira da PCA, o Diário do Amapá fez contato com o atual diretor do órgão há um ano. Marcos Góes disse que iria solicitar informações, porém, nunca retornou.

 

Tentamos também contato com Roseana Maia, mãe da pequena Alessandra, que agora reside no Maranhão. Ela atendeu nosso telefonema, mas disse que ainda é muito difícil falar sobre o assunto.

 

Carta Aberta

Em uma carta aberta destinada à esta jornalista, uma investigadora do caso detalhou sobre a investigação e os trabalhos contínuos para localizar e prender Mércio.

 

Acompanhe a carta na íntegra

Assunto: Caso Alessandra Guimarães – Um crime brutal que exige justiça após 15 anos

Prezada Jornalista – Elen Costa

Agradeço pela oportunidade de falar sobre o caso Alessandra Guimarães, um dos crimes mais brutais e chocantes da história do Amapá, e que não foi um simples desaparecimento, mas um horror indizível.
A pequena Alessandra da Silva Guimarães, de apenas 6 anos, foi estuprada e estrangulada até a morte pelo vizinho Mércio Melo Nogueira, que ocultou seu corpo em um terreno baldio. Esse ato de extrema crueldade, ocorrido em dezembro de 2010, abalou toda a sociedade amapaense, que clama por justiça até hoje. Gostaria de compartilhar os seguintes pontos:

1º – Desde 2015, há uma missão ininterrupta contra a impunidade. Quando a delegada Odanete assumiu a Coordenadoria de Inteligência e Operações da Sejusp, ela me designou, oficial investigador Rafaela, como responsável por localizar Mércio Melo Nogueira, condenado a 47 anos de prisão por homicídio qualificado, ocultação de cadáver e pedofilia, mas foragido desde 2011.

2ª – São 15 anos de investigação dedicada a uma vítima inocente. Ao longo da última década e meia, minha equipe e eu nos dedicamos integralmente a essa missão. Utilizamos técnicas modernas de investigação e inteligência policial, sem descanso. Mas, apesar de todos os esforços, Mércio Melo Nogueira permanece foragido, prolongando o sofrimento da família e da sociedade.
Atualmente, o Núcleo de Operações e Inteligência da Polícia Civil (NOI), órgão em que estou lotada e sob a liderança do delegado Ederson Martel, está se debruçando dia e noite para capturar esse criminoso que chocou o Amapá com sua brutalidade. Nossa equipe trabalha 24 horas por dia, 7 dias por semana, com monitoramento contínuo e análise em tempo real de novas pistas.

Nova estratégia: Inteligência Artificial para Justiça

Diante desse cenário, adotamos uma abordagem inovadora: criamos, por meio de Inteligência Artificial, uma imagem atualizada de como Mércio Melo Nogueira pode estar hoje, aos 54 anos, para que a população o reconheça e denuncie.
Apelamos à população por justiça à Alessandra. As pessoas podem ajudar divulgando e compartilhando esta reportagem e imagem para que este horror não seja esquecido.
Peço ainda, que fiquem atentos e observem em suas cidades e regiões. Ele pode estar em qualquer lugar.
Denunciem, caso vejam, este monstro. O disque denúncia do NOI é o (96) 99202-6003 ou nos procure no Prédio da Delegacia Geral de Polícia. O anonimato é garantido.
Qualquer vestígio será investigado imediatamente. Esse crime não ficará impune. Temos o compromisso inabalável contra a brutalidade.
O Núcleo de Operações e Inteligência não descansa, nem descansará, até que a Justiça prevaleça. Só pararemos quando Mércio Melo Nogueira for preso e pague por esse crime hediondo; quando a família de Alessandra receber a resposta e o fechamento que merecem, para que a mãe da Alessandra tenha paz em seu coração, após anos de dor indizível.
Esta investigação não é apenas um caso policial. É uma luta por justiça contra a violência extrema, pela dignidade de uma criança inocente, pelo conforto a uma família devastada e pelo compromisso com a memória de Alessandra Guimarães, cujo assassinato chocou e uniu o Amapá em repúdio.
Contamos com a parceria da imprensa e da população para que, juntos, possamos encerrar essa tragédia de 15 anos, com a captura do culpado e um final digno de esperança.
Agradeço desde já pela divulgação sensível e fico à disposição para quaisquer esclarecimentos.
Atenciosamente, oficial investigador Rafaela, do Núcleo de Operações e Inteligência (NOI) da Polícia Civil, Responsável pela investigação do Caso Alessandra Guimarães.

 

 


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