Polícia

Falso pastor evangélico confessa morte de caseiro e diz que vítima fez ‘raiva’ pra ele

Homem de 42 anos confessou ter assassinado caseiro que lhe deu abrigo e comida após uma discussão   


Elden Carlos
Da Editoria de Polícia

 O delegado Wellington Ferraz, da Delegacia Especializada em Crimes Contra o Patrimônio (DECCP), apresentou à imprensa na manhã desta quinta-feira (25) o foragido de justiça Ednelson Pinheiro de Oliveira, de 42 anos, que confessou ter assassinado na noite de 18 de maio passado o caseiro Roberto Carlos Tavares do Rosário, de 50 anos, cujo corpo foi encontrado na manhã seguinte ao crime em um dos quartos de uma propriedade rural localizada no quilômetro 21 da BR-156, na comunidade de Campina Grande.

Demonstrando frieza absoluta, Ednelson confessou que esse era o segundo crime de morte que ele cometia. Durante entrevista, o homem, que se dizia pastor evangélico, declarou ter assassinado o caseiro depois que ele [Rosário] o teria chamado de ladrão e lhe empurrado o rosto.

“Confesso que matei, mas não era para ele ter feito raiva pra mim. Ele me acusou e empurrou meu rosto, me humilhou. Acho que um homem não tem que ser assim, tem que chegar com o cara e falar a realidade, que não quer o cara na casa dele, não quer o cara na presença dele. Foi isso que fez eu matar ele”, declarou.

O criminoso disse ainda que antes ele e a vítima haviam feito ingestão de bebida alcoólica. “Aconteceram outras coisas até chegar o ponto dessa morte. Ele me disse assim, depois de bêbado: – Rapá, tu veio me roubar? me matar? qual é a tua? E ai me empurrou dando uma tapa. Fiquei com raiva. Ele deitou no sofá e tinha um terçado próximo dele. Eu esperei ele se distrair, peguei um pedaço de frechal e dei três pauladas na cabeça”, confessa.

Ednelson disse ainda que permaneceu por cerca de 1 hora no imóvel até fugir. Ele teria pegado roupas da vítima. O criminoso confesso acabou deixando para trás uma mochila e a carteira de identidade, fato determinante para que o suspeito fosse identificado rapidamente.

“Se mostra uma pessoa dissimulada, fria e calculista. Juntamos todos os elementos necessários para assegurar que ele passe uma boa temporada preso, inclusive, ele tem outros crimes de homicídio e roubo cujas penas chegam a treze anos, de acordo com o que ele próprio revelou”, relatou o delegado.

Após ser interrogado, o falso pastor evangélico passou por exame de corpo delito na Polícia Técnico Científica (Politec) antes de ser transferido para o Instituto de Administração Penitenciária do Amapá (Iapen), onde ficará à disposição da justiça.

 Prisão

Ednelson Pinheiro de Oliveira, 42, que foi apontado como principal suspeito do assassinato do caseiro Roberto Carlos Tavares do Rosário, de 50 anos, cujo corpo foi encontrado na manhã da última sexta-feira (19) em um dos quartos de uma propriedade rural localizada no quilômetro 21 da BR-156, na comunidade de Campina Grande, área rural de Macapá, foi preso na noite de terça-feira (23) em uma igreja evangélica localizada no município de Pracuúba, distante 246 quilômetros da capital.

 A prisão foi feita pelo agente da Polícia Civil (PC), José Sacramento. Em entrevista por telefone ao Diário, na manhã de quarta-feira (24), Sacramento disse que estava de plantão na delegacia local quando foi acionado por uma pessoa informando que o suspeito do crime – que vinha se passando por pastor evangélico – estaria no culto de uma igreja localizada no bairro Central.

 “Assim que recebi essa informação eu segui para o local. Como a foto desse elemento já estava em todos os grupos de Whatsapp, e havia informação de que ele estaria supostamente em trânsito por essa região, foi fácil identificá-lo. O culto já havia terminado e ele (Ednelson) estava carregando uma caixa de som quando dei voz de prisão. Inicialmente ele negou envolvimento na morte, mas logo foi desmascarado”, disse o agente Sacramento.

 Já na delegacia, Ednelson confessou o crime, mas afirmou que na noite de sexta-feira (19) ele estaria bebendo com a vítima quando houve um desentendimento.

 “Ele diz que estava bebendo com a vítima quando houve um desentendimento, e que depois houve luta corporal, inclusive, o falso pastor mostrou alguns arranhões pelo rosto que teriam sido supostamente provocados pelo caseiro, mas há uma série de contradições na fala dele. Vamos aguardar o delegado para tomar o depoimento oficial”, complementou.

 Fuga

 Após ter assassinado o caseiro Roberto Rosário, o ‘Beto’, como era conhecida a vítima, Ednelson teria fugido inicialmente para a vila Tessalônica, depois, para o município de Tartarugalzinho de onde seguiu para Pracuúba onde fez amizade com um pastor. Esse pastor, segundo o agente Sacramento, teria abrigado e alimentado o foragido que se apresentou, novamente, como pastor.

 “Ele [Ednelson] estava querendo chegar ao município de Oiapoque. Ele inventou uma história para o pastor que, de forma inocente, iria ajudá-lo a chegar ao município fronteiriço. Esse elemento tem um bom conhecimento das coisas e uma lábia muito forte. A aparência frágil e o comportamento frio escondem um astuto criminoso na verdade”, concluiu Sacramento.

 O crime

 O Diário conversou na manhã do último sábado (20) com um familiar da vítima que relatou os últimos momentos antes de ‘Beto’, como era conhecido o caseiro, ser assassinado.

 “Esse elemento chegou ao terreno no final da tarde de quinta-feira (18) se dizendo pastor evangélico. Ele disse que tinha vindo de Laranjal do Jari, mas que pegou o ônibus errado para o município de Oiapoque. Foi quando ele pediu abrigo ao Beto para pernoitar na propriedade. Lá existem outras duas pessoas (casal) que trabalham durante o dia. Eles acolheram esse elemento, deram comida e quando estavam saindo esse Ednelson ainda os chamou para fazer uma oração na cabeça deles”, contou o familiar.

 Ainda não se sabe o momento exato do crime. Apesar de ter sido encontrado no primeiro dormitório da residência – que tem dez quartos – Beto teria sido morto no sofá da sala e arrastado para o cômodo ao lado.

  “A perícia ainda irá afirmar isso, mas as marcas de sangue indicam que ele recebeu a primeira paulada no sofá. Inclusive, pode ter havido a participação de mais de uma pessoa nesse crime, mas somente a perícia poderá confirmar. O fato é que o assassino levou dois televisores e dinheiro. O valor era o salário que o Beto havia recebido”, declarou.

 Prova cabal

 O casal que trabalha durante o dia na propriedade, sempre tranca ao portão principal com correntes ao sair no final da tarde. “Quando o assassino tentou escapar, se deparou com o portão do terreno trancado. Foi quando ele resolveu arrebentar o arame da cerca para passar com os objetos roubados. Nesse momento a carteira de identidade dele e um celular caíram do bolso”, revela o familiar da vítima.

 Quando a polícia chegou ao local na manhã em que o corpo foi encontrado, localizou a identidade e o celular junto à cerca. O casal reconheceu de imediato o homem do documento como sendo o mesmo que havia pedido abrigo na propriedade e se apresentado como pastor evangélico.


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