‘Gerente da crise’ avalia ação que reprimiu quadrilha no Centro de Macapá
Coronel Paulo Matias, comandante do Bope, diz que ações táticas das polícias civil e militar foram determinantes para que inocentes não fossem feridos ou até mesmo mortos.

O comandante do Batalhão de Operações Especiais (Bope), coronel Paulo Matias, analisou na manhã desta terça-feira (27) durante entrevista ao programa LuizMeloEntrevista (Diário 90,9FM) a ação policial que frustrou na manhã de segunda-feira (26) um assalto dentro de uma agência bancária no Centro de Macapá.
Segundo o comandante, o sucesso da operação deve ser creditado “à pronta reação das forças de segurança, ao preparo dos homens do Bope e, sobretudo, à ação imediata dos policiais civis que deram início ao enfrentamento”.
Paulo Matias explicou que após o confronto, o núcleo de gerenciamento de crise do Bope entrou em ação com o objetivo de salvaguardar a vida de 45 pessoas que foram mantidas reféns no interior de um supermercado.
“É importante ressaltar que para a Polícia Militar [Bope], todas as vidas são importantes, seja de cidadãos de bem e de bandidos. Então, atuamos para preservar vidas e por isso o grau de risco da ocorrência é altíssimo.
No caso específico dessa tentativa de assalto, o comandante revelou que os primeiros reféns foram liberados – uma criança e uma mulher – em troca de assistência médica a um dos bandidos que, ferido com vários tiros nas pernas, aguardava, no asfalto, remoção ao Hospital de Emergências.
“Aquela cena que foi bastante divulgada nas redes sociais e na imprensa mostra o trabalho dos policiais do Bope se protegendo e protegendo os socorristas do Samu e dos Bombeiros durante a remoção de um dos criminosos. Muita gente indaga nas redes sociais porque tanta preocupação em salvar a vida de criminosos. Ora, para nós toda vida é importante, e naquele momento estávamos com foco na vida dos reféns, mas também dos bandidos, que são seres humanos e sempre que possível têm suas vidas preservadas”, argumentou.
Armamento pesado
Para o coronel, é preciso maior atenção das forças nacionais de segurança, em especial do Exército, para guarnecer as fronteiras brasileiras, que, segundo ele, são frágeis.
“Verificamos uma frequência cada vez mais intensa do uso de armamentos pesados em ações criminosas, como neste caso do assalto frustrado à agência bancária em Macapá, quando foram apreendidos um fuzil e uma submetralhadora, ambos de uso restrito, e com potencial de destruição muito grande. Essas armas chegam através das nossas fronteiras, que estão desguarnecidas em praticamente todos os seus cerca de 17 mil quilômetros de extensão. Porém, é bom lembrar que fisicamente é impossível fiscalizar essas faixas, mas já contamos com recursos tecnológicos, agora, ainda carecemos de grandes investimentos para isso”.
No estúdio da Diário FM, durante a entrevista, o comandante do Bope exibiu armas utilizadas pelas forças de segurança que são similares às apreendidas com a quadrilha, no entanto, o fuzil que estava em poder dos assaltantes usa munição superior à utilizada normalmente pelas polícias, o que mostra o poder de fogo que os faccionados detém atualmente.
Veículos clonados
Um carro utilizado pela quadrilha durante o assalto, e que foi abandonado pelos criminosos, chamou a atenção de especialistas logo após o encerramento da crise, por se tratar de um veiculo com as mesmas características de outro carro cujo proprietário reside também na área central de Macapá.
“Fomos à residência do proprietário e constatamos que o carro dele, que possui todas as características, inclusive cor, marca e modelo do carro apreendido, tinha sido clonado. Por isso, chamo a atenção da população para que fique atenta e comunique à polícia, pelo 190, qualquer suspeita de clonagem de veículo. O Bope possui policiais especializados em identificação veicular. Quando o proprietário receber alguma multa originada em locais em que o mesmo não esteve, é importante que ele faça a comunicação por meio de registro de um boletim de ocorrência para evitar uma possível abordagem policial e até mesmo complicações com a justiça”, alertou.
Criminosos nativos
Outra curiosidade apontada pelo comandante do Bope é que os cinco participantes da empreitada criminosa são de Macapá, e todos já conhecidos da polícia.
“Além disso, identificamos que um deles, o Adaias Orquisa Pereira do Nascimento, havia sido preso recentemente por nós, mais exatamente no dia 18 de maio deste ano. Na ocasião apreendemos na kitnet onde ele morava significativa porção de cocaína em pinos e também embalada em sacos plásticos para comercialização. Ainda apreendemos coletes balísticos e uma mascara muito parecida com a pele do ser humano, significando dizer que numa ação criminosa como essa ele não seria reconhecido”.
Na avaliação do coronel, o sentimento de impunidade da população não pode ser atribuída ao Judiciário, como nesse caso, em que um criminoso foi posto em liberdade logo depois de flagrado praticando um delito.
“Todos os envolvidos nesse crime têm várias passagens por tráfico, roubo e homicídio, mas essa impunidade, em que o infrator é solto e logo depois preso novamente pela prática de novo crime, não podemos culpar o nosso Judiciário, os nossos promotores, que vêm de incansáveis lutas contra a criminalidade, pois a culpa é da legislação brasileira que permite essa facilidade [brechas] para o mundo do crime”.
Alternativas táticas
A função de comandante do Bope leva o coronel ao posto de ‘gerente da crise’, ou seja, aquele que decide quando uma ação deve ser resolvida pelos últimos recursos, o que pode envolver o abatimento do perpetrador da crise por um atirador de elite [sniper], por exemplo.
Perguntado se todas as alternativas táticas previstas no procedimento padrão do Bope já foram usadas no Amapá, o coronel Paulo Matias respondeu que apenas a utilização do atirador de elite não foi necessária até agora.
“Nós temos quatro alternativas táticas, iniciando pela negociação, em seguida o uso de armamentos menos letais, como gás lacrimogêneo e balas de borracha, que têm impactos menos comprometedores; a 3ª alternativa é a entrada tática, como recentemente, em que um indivíduo estava tomando a ex-esposa como refém; como as duas primeiras alternativas não lograram êxito, e havia indicativos de que um estupro estava prestes a ser consumado, optamos pela entrada tática”.
Paulo Matias disse que o recurso extremo da entrada tática, naquele caso, foi determinando para salvaguardar a integridade física da refém.
“Nós constatamos que o indivíduo estava armado apenas com uma faca, não havendo arma de fogo, por isso, optamos em adentrar na residência, e isso foi determinante para evitar outro crime ainda mais grave, porque flagramos o indivíduo totalmente nu tentando atacar a ex-esposa, que estava no banheiro; apesar de termos utilizado uma alternativa mais impactante, isto é, a entrada tática, conseguimos prender o criminoso, evitar o estupro, que era iminente, e sem sacrificar a vida de absolutamente ninguém”, comentou.
Tentativa de assalto
Equipes do Diário do Amapá registraram em primeira mão o início do conflito armado entre policiais civis e cinco bandidos durante um assalto frustrado ocorrido na manhã desta segunda-feira (26) a uma agência do Banco do Brasil, no Centro de Macapá. Reportagem assinada pelo editor de Polícia, jornalista Elden Carlos, e pelos repórteres Jair Zemberg, Costa Filho e Rodrigo Silva, com imagens de Joelson Palheta e Jair Zemberg, relatam que o alvo dos criminosos era um transportador de valores.
Flagrados por uma equipe de policiais civis que passavam em frente ao local, os bandidos trocaram tiros e empreenderam fuga. Quatro deles se refugiaram no interior do supermercado Fortaleza, na Rua Tiradentes; o outro, ferido com vários tiros, identificado como Anderson Alves Gonçalves, de 29 anos, abandonado pelos comparsas na pista, ao lado do carro usado pela quadrilha, foi levado por uma equipe do Samu ao Hospital de Emergências de Macapá (HEM), onde se encontra internado sob escolta de policiais civis.
Reféns
Os bandidos mantinham 45 pessoas reféns, inclusive,crianças e idosos, que foram liberados logo após o início das negociações conduzidas pelo núcleo de gerenciamento de crise do Bope. “As negociações duraram cerca de quatro horas. Foram empregadas as técnicas necessárias para o gerenciamento da crise. Tudo transcorreu dentro do esperado até que os criminosos libertassem todos os reféns, largassem as armas e se rendessem. Posteriormente foi feita uma varredura de segurança no estabelecimento”, afirmou na ocasião o comandante do Bope, coronel Paulo Matias.
Além das armas restritas, os policiais também apreenderam coletes balísticos, pistolas, rádios transmissores, balaclavas (tocas) e outros objetos com a quadrilha. No Centro Integrado em Operações de Segurança Pública (Ciosp) Pacoval, os assaltantes foram identificados como: Odaias Orquisa Pereira do Nascimento, Fábio dos Anjos Nery, Anderson Paulo Ferreira Saraiva, Ravig Santos Gomes, de 27 anos, e Anderson Alves Gonçalves, este alvejado no tiroteio.
Autores de outros roubos
Entrevistado pela reportagem do Diário, o delegado Celso Pacheco, titular da Delegacia Especializada em Crimes Contra o Patrimônio (DECCP) confirmou que todos os presos têm passagens pela polícia por crimes como tráfico de drogas e roubos e também são investigados por outros assaltos recentes, inclusive, o que foi realizado no estacionamento de um supermercado no bairro de Santa Rita há cerca de dois meses.
“São elementos de alta periculosidade e que atuam de forma planejada. A logística para esse assalto planejado para hoje demonstra bem o poder de organização, mas eles foram reprimidos à altura pelos nossos policiais. São pessoas já investigadas em outros inquéritos e que agora acabaram presas em flagrante. É importante aqui também deixar um recado bem claro para esses criminosos; nós estamos preparados, nós vamos enfrentá-los, nós vamos combatê-los e não vamos ficar reféns daqueles que tentam se instalar no Estado. O aparelho de segurança pública do Estado do Amapá está pronto para proteger a sociedade e reprimir de forma efetiva qualquer tentativa de ação criminosa”, asseverou o delegado.
Celso Pacheco disse que, com a prisão da quadrilha, a Polícia Civil vai fazer um minucioso trabalho investigativo para identificar cada uma das armas apreendidas e saber a origem delas. Ainda de acordo com o delegado, os elementos presos integram uma facção criminosa que tenta se fortalecer no estado, inclusive dois integrantes dessa mesma facção tombaram mortos em confronto com o Bope no final da semana passada.
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